Nessa época tão simpática às listinhas, não poderia faltar aquela mais aguardada, discutida e subjetiva. A lista dos melhores filmes do ano . O cinema foi tratado com carinho em 2017 e a lista do iG Gente , composta por dez filmes, reflete um ano diverso, de alta qualidade nos mais diversos gêneros e com uma abrangência internacional mais do que bem-vinda.
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Há seis produções de 2016 que só estrearam nos cinemas brasileiros em 2017 no ranking. Filmes estreados no primeiro semestre são maioria. Apenas “Blade Runner 2049” estreou na segunda metade do ano. Além da ficção científica, drama, ação, documentário e musical são alguns dos gêneros que marcam presença em um ranking plural, sólido e exemplar do que o ano apresentou de melhor aos amantes da sétima arte.
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10 - “O Apartamento”
Vencedor do Oscar de filme estrangeiro e premiado no Festival de Cannes, não faltam bons créditos ao mais recente filme do iraniano Asghar Farhadi. O longa-metragem acompanha um casal que tão logo se muda de apartamento é vítima de uma violência e isso gera reminiscências na rígida e conservadora sociedade iraniana. “O Apartamento” resguarda elementos vitais do cinema de Farhadi como o inerente olhar para os conflitos íntimos dos personagens a partir dos costumes obsoletos de um País parado no tempo. As contradições humanas são iluminadas e problematizadas com vigor neste filme de reverberação potente.
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9 - “John Wick – Um Novo Dia para Matar”
A improvável franquia de ação estrelada por Keanu Reeves é hoje o maior bastião do bom cinema de ação. Influenciada tanto pelos games como pelo que de melhor o gênero apresentou nos idos dos anos 80 e 90, a série se consolidou com esse capítulo II, no Brasil batizada de “Um Novo Dia para Matar”. A violência lindamente coreografada, os personagens cartunescos, a silenciosa performance de Reeves, a linguagem de HQ tão bem capturada pela narrativa... Tudo em “John Wick” funciona e funciona maravilhosamente bem. É o grande filme de ação do ano e não há como não inclui-lo em qualquer ranking dos grandes filmes de 2017.
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8 - “Eu Não Sou Seu negro”
O documentário de Raoul Peck a partir dos escritos de James Baldwin é um tiro na hipocrisia nossa de cada dia. É a desconstrução racional de uma mentalidade erguida sobre falácias e conveniências. É um filme disposto a articular ideias e fomentar um debate aberto sobre a chaga do racismo. Não só aborda o racismo na América de maneira frontal e doída como joga um olhar problematizante para como cultura e sociedade americanas encararam a questão ao longo do último século. Em mais um ano que o tema esteve quente na opinião pública, “Eu Não Sou Seu Negro” não foi incendiário ou obrigatório, mas definitivo.
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7 - “T2: Trainspotting”
A expectativa pelo reencontro com Renton e os rapazes era proporcional ao receio de que um Segundo “Trainspotting” não só fosse decepcionante, como manchasse o legado do original. Mas não é somente por não corresponder às piores expectativas que “T2: Trainspotting” garante lugar nesta lista, mas por legitimamente estender as boas questões ensejadas há 20 anos pelo filme que marcou toda uma geração. Agora quarentões, os personagens se encontram com novos dilemas e com conflitos que aquela geração tocada pelo filme original ainda é capaz de se identificar. A sequência é muito feliz nesta revisita aos personagens e ao tangenciar a evolução de suas angústias e anseios em um mundo digital e ainda mais superficial.
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6 - “A Criada”
A subversão, como tema, mas também como viés narrativo e estrutural, é o aspecto fundamental do filme de Park Chan-Wook, o mesmo cineasta responsável por obras cineticamente poderosas como “Oldboy” (2003), “Lady Vingança” (2005) e “Segredos de Sangue” (2013). Nada é o que parece ser nesta trama ambientada na Coréia sob ocupação japonesa nos anos 30. Sensualidade, perversão, ganância, submissão, cumplicidade e jogos de poder são a tônica deste filme cheio de surpresas e que se materializa como um elogio das forças criativas do cinema.
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5 - “Frantz”
Nesse drama cheio de introspecção, François Ozon dá sequência a sua investigação das camadas mais profundas do ser humano. Na Alemanha pós-primeira guerra, um jovem francês acaba entrando para a rotina da família de um jovem alemão morto em combate. Eles deveriam ser inimigos, mas a amizade improvável entre os dois reveste o francês de interesse para os familiares do falecido. É a partir das insuspeitas motivações dele – e do peso das expectativas germinadas na viúva de Frantz – que Ozon articula seu surpreendente e impactante filme, que ainda assevera uma pulsante e grata referência ao poder redentor da arte.
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4 - “La La Land: Cantando Estações”
Um filme que é tanto uma homenagem à cidade de Los Angeles, como um hino aos sonhadores, mas que não deixa de ser uma ode aos apaixonados ou àqueles que já amaram e sabem valorizar a importância das pessoas em suas vidas. “La La Land” é um romance que busca abrigo no cinema, na música e na nossa relação afetuosa com a memória. É um musical colorido, cheio de coração e que rejeita o final hollywoodiano que geralmente vem embalado para viagem em produtos do gênero. É um filme irresistível, extremamente pop e ainda assim incrivelmente autoral. Conta com as presenças luminosas de dois atores em profunda sintonia e um final de tirar o fôlego sempre e todas às vezes.
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3 – “Logan”
Este não é um filme de super-herói e em um hoje já consolidado e pasteurizado gênero, esta é a maior virtude que “Logan” tem a ostentar. O que James Mangold e Hugh Jackman fizeram foi enxergar Logan/Wolverine como o grande personagem que ele é e despi-lo dos clichês e convenções das adaptações de HQs pelo cinema. O Logan que surge aqui é violento, amargurado, triste, miserável, velho e obsoleto e é fascinante. Como cinema, “Logan” dá um passo a frente ao propor uma inédita e inventiva mescla de gêneros. O western pós-apocalíptico que vemos aqui também é um road movie familiar cheio de nuanças. Um triunfo de realização e um dos dois blockbusters autorais de 2017.
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2 - “Blade Runner 2049”
O segundo blockbuster autoral do ano é a tardia sequência do clássico de Ridley Scott, agora pilotada pelo genial Denis Villeneuve. Todas as questões que fizeram o primeiro filme virar o cult máximo que ele é hoje são resgatadas e dilatadas no novo filme, que enseja tantas outras reflexões igualmente fascinantes. K, vivido com esmero e agudeza por Ryan Gosling, é um personagem fantástico e à altura da representatividade de Rick Deckard (Harrison Ford), que retorna tão memorável quanto era de se esperar. Nenhum outro filme em 2017 promoveu um debate tão amplo, mas ao mesmo tempo tão específico, como este. Como se isso tudo não fosse suficiente, a sequência é um senhor filme de detetive. O tipo de filme que raramente o século XXI nos agracia.
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1 – “Manchester à Beira-Mar”
Não houve filme mais incômodo nas telas de cinema em 2017. Este é filme pesaroso, com personagens apenados pela própria existência. “Manchester à Beira-Mar” tem um roteiro brilhante, com cada vírgula no lugar certo, uma direção conscienciosa e atuações espetaculares. Não obstante, é um filme testamental sobre luto e perdão, dor e afeto. Eis um filme tão singular, tão senhor de seus predicados, que fica difícil fazer justiça a ele apenas com palavras. É um filme para se sentir. Ainda que certo estranhamento e mal-estar apareçam, é imprescindível frisar que nenhum filme foi tão absoluto nas minúcias do bom cinema como a produção assinada por Kenneth Lonergan.
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