Está chegando a hora! No próximo domingo, a partir das 21h, o canal pago TNT transmite a 89ª cerimônia do Oscar, o prêmio mais cobiçado do cinema e, quiçá, do mundo.
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Em 2017 são muitas as (boas) opções que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que outorga o Oscar , dispõe. Mas qual o caminho seguir? “ ’La La Land’ é o filme do ano por muitos motivos”, advoga o cineasta Daniel Bydlowski . “O filme pode ser considerado um dos primeiros longas que não têm medo de explorar os problemas e as tribulações da chamada 'geração Y', sem precisar recorrer a uma visão sombria ou derrotista do mundo”.
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A produção de Damien Chazelle é favorita ao prêmio máximo do cinema desde que estreou no Festival de Veneza em agosto de 2016. De lá para cá, tem acumulado haters e acusações de ser machista e sexista . Essa estafa do favorito, aliada à pressão pelo reconhecimento de filmes com maior relevância social podem favorecer, por exemplo, “Moonlight: Sob a Luz do Luar” . “Tal questão pode muito bem apelar para um público que anseia ver filmes sobre minorias raramente vistas no cinema”, observa Bydlowski.
Para o professor de cinema do FIAM-FAAM, Éfrem Pedroza , essa discussão talvez se confine à categoria de documentário que compreende o maior reflexo do #oscarsowhite de 2016 elevando um debate muito importante sobre o negro nos EUA. “Temos três destaques aqui”, argumenta o docente. “‘ A 13° Emenda ’, ‘Eu não Sou seu Negro’ e ‘O.J.: Made in America’. Todos têm abordagens interessantes, mas o vigor de "Eu não Sou o seu Negro" traz forte reflexão sobre as relações raciais nos Estados Unidos, narradas pela voz de Samuel L. Jackson e que chamam a atenção como um grande favorito a estatueta do Oscar”.
Para Bydlowski, a oportunidade de premiar um filme com viés esperançoso - como o é "La La Land" - pode ser irresistível para a academia e cita “O Artista”, produção que nem americana era, como referência recente.
Heróis e novos valores
Ambos os entrevistados pela reportagem do iG destacam que foi um excelente ano para o cinema e que a academia soube dimensionar bem isso com suas indicações. Se Bydlowski gostaria de ver mais carinho a ‘Silêncio”, novo filme de Martin Scorsese, Pedroza gostaria que “Jackie”, que pode valer um segundo Oscar a Natalie Portman, tivesse sido contemplado entre os melhores filmes. “Merecia uma oportunidade”, destaca o professor que sinaliza que “Deadpool” talvez fosse o filme certo para quebrar o gelo entre a Academia e os blockbusters de super-heróis na categoria de melhor filme.
A Academia, no entanto, acertou em cheio nos diretores nomeados , observa Pedroza. “É inegável o fato de que Martin Scorsese e Clint Eastwood (que lançou "Sully" em 2016) são grandiosos e a Academia já reconheceu ambos com mérito. Contudo, acredito que chegou a hora de premiar novos talentos para que uma nova safra de diretores possa continuar dando vida ao cinema. É uma disputa justa e saudável. De agora em diante, Scorsese e Eastwood terão de se esforçar bem mais, pois Damien Chazelle, Barry Jenkins e demais podem ser jovens, mas não vieram para brincar”.
O professor se mostra feliz pelo retorno de Mel Gibson. “Seus 'heróis', apesar de bem construídos, sempre apresentam uma trajetória messiânica. Esse é o ponto forte dele e até agora vem dando certo.”
Atuações
As duas categorias de atuação têm favoritos desafiados. Casey Affleck, por “Manchester à Beira-Mar” ganhou praticamente tudo na temporada, mas perdeu o SAG para Denzel Washington (“Um Limite entre Nós”). Já Emma Stone (“La La Land”) vê crescer o burburinho a respeito de Isabelle Huppert (“Elle”).
“Isabelle Huppert mostra seu grande talento. Sua vitória é factível, mas não é provável. Para começar, Emma Stone já participou em um maior número de filmes que fazem parte da memória do espectador norte-americano. Isto é geralmente importante para o Oscar”, observa Bydlowski. "Gostaria muito que Natalie Portman conquistasse sua segunda estatueta”, faz votos o professor de cinema da FIAM-FAAM, lembrando que a atriz foi premiada em 2011 por “Cisne Negro”.
Bydlowski torce para que as acusações de assédio sexual que pesam contra Casey Affleck não sejam decisivas na disputa entre os atores, mas acha improvável. “As acusações de assédio sexual contra Casey Affleck não afetaram a recepção positiva do filme. Muitos em Hollywood gostam de Casey, que é irmão de Ben Affleck e amigo de Matt Damon, e confiam em sua palavra de que nunca cometeu o abuso. Mesmo assim, sempre existe uma sombra em volta de artistas que tenham sido acusados e isso pode arruinar o trabalho dos mesmos. Embora haja a tentativa de separar a vida pessoal de um ator e de seu trabalho, isto é praticamente impossível”.
Fator Meryl Streep
Concorrendo ao Oscar pela 20ª vez, Meryl Streep parece ampliar um recorde inalcançável. O cineasta brasileiro tem uma explicação para isso. “Uma das coisas que a Meryl Streep tem, e que falta em atores mais novos, é a possibilidade de escolher os filmes em que deseja atuar. Portanto, Streep tem mais controle e consegue escolher roteiros que já tenham, em essência, mais chance de entrar no Oscar. Claro, o fato do grande número dos membros do Oscar serem atores, e fãs da atriz, ajuda”, opina Bydlowski
Ano da ficção científica?
Em 2016 a academia se abriu para o gênero e nomeou produções como “Perdido em Marte”, “Mad Max: A Estrada da Fúria” e “Ex-Machina: Instinto Artificial”. Em 2017, “A Chegada” é o exemplar do gênero que conseguiu oito indicações e pode ser a primeira ficção-científica a ganhar o Oscar de melhor filme. “O filme tem o talento do diretor Denis Velleneuve – que já teve indicações ao Oscar em três oportunidades anteriores por ‘Incêndios’, ‘Os Suspeitos’ e ‘Sicario’”, observa Pedroza que acredita que o fato de contar com Amy Adams, excluída entre as atrizes, pode ajudar as chances do filme.
Bydlowski lembra que “A Chegada” não é um blockbuster de ofício, que teve um orçamento enxuto para os padrões do gênero (cerca de US$ 47 milhões) e que é um filme essencialmente pensativo. Como bônus, para o cineasta, é o filme que melhor explica os EUA de hoje. “Especialmente pelo modo que mostra a tentativa de diálogo, muitas vezes sem sucesso, entre seres humanos e alienígenas”, explica sobre um dos finalistas do Oscar. “Em uma realidade onde cada um está gradativamente separado do outro em relação a suas opiniões, o dialogo se torna algo vital para curar qualquer diferença”.