Ainda não foi confirmado qual tipo de câncer levou à morte de Françoise Forton, que morreu aos 64 anos neste domingo , depois de um agravamento no quadro da doença neste fim de semana. Contudo, não é a primeira vez que ela enfrentou a enfermidade. Durante as gravações da novela Tieta, em 1989, Françoise descobriu um câncer no colo do útero, mas guardou segredo por dez anos: apenas os médicos e o diretor de TV Paulo Ubiratan sabiam da condição da artista.
Em 2020, ela falou sobre o assunto em participação no programa "Encontro", apresentado por Fátima Bernardes, e explicou porque resolveu quebrar o silêncio sobre o tratamento.
"Não falava da doença, fiquei dez anos sem falar. Hoje, faço questão de falar, questão de ir a público, poder participar das crianças. Minha vida mudou inteiramente. Eu me reeduquei, mudei a minha alimentação", relatou à apresentadora.
Anos antes, em 2016, ela relatou com detalhes sobre o diagnóstico para uma publicação do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Segundo a atriz, ela tinha costume de fazer consultas de rotina no ginecologista, mas deixou de fazer o exame Papanicolaou com frequência.
"Eu fazia mais ou menos uma vez por ano, às vezes dava mais espaço. Na verdade, não tinha tanta preocupação com isso, porque nunca senti nada, nem dor, nem nenhum sintoma estranho, nada mesmo. Confesso que dei uma esquecida. Em 1991, eu ia fazer uma novela, mas antes resolvi tirar o DIU [dispositivo intrauterino para evitar a gravidez] e me deu vontade de pedir para fazer um Papanicolaou", contou à publicação.
Ao receber o resultado do exame, a artista recebeu a notícia do câncer no colo do útero. "Foi um susto, eu não tinha histórico de câncer na família. Fiquei apavorada. A primeira coisa que veio à cabeça foi: 'Isso mata e eu não quero morrer'", disse à revista Rede Câncer.
Françoise confidenciou a notícia ao diretor Paulo Ubiratan para conseguir conciliar o tratamento com as gravações da novela Tieta, em que interpretava a vilã Helena, intercalando as filmagens com períodos de repouso. Neste período, foram seis meses de sessões de quimioterapia e radioterapia, em que ela não sofreu de queda de cabelos, mas precisou fazer intervenção com césio, o que ela considerava uma das piores lembranças.
" Muito difícil. Colocavam um aparelho dentro de mim, e eu não podia me mexer. Foi uma semana terrível. Chegou uma hora em que eu queria parar de qualquer jeito, e uma medicação para dormir foi a solução encontrada para concluir a terapia", disse.
Após o tratamento, ela venceu o câncer e, aos 38 anos, precisou retirar o útero, ovários e trompas, como prevenção para reincidência da doença. No pós operatório, Françoise sofreu de anemia. Mesmo livre da doença, a atriz precisou fazer uma reeducação alimentar, mas ainda não queria falar sobre o assunto.
" Queria esquecer tudo aquilo. Foi muito difícil. Não queria falar nem transformar a doença em algo sensacionalista, tipo capa de revista", confessou. O que fez com que ela mudasse de ideia e se abrisse para falar abertamente do assunto foi a possibilidade de dar visibilidade à prevenção contra a doença para outras pessoas. "Passei a ver muitos amigos que tiveram câncer falando sobre a doença e pensei que isso tem que servir de alerta. O número de casos de câncer feminino vem aumentando, e é possível prevenir. Eu poderia alertar sobre a necessidade de se cuidar, jovem ou não, casada ou não, com sexo ou não. Ninguém está livre. Aconteceu comigo, sem eu sentir nada e sem histórico familiar", explicou.
Morte aos 64 anos
O último trabalho de Françoise Forton na televisão foi "Amor sem igual" (2019). A atriz deixa o marido, o produtor teatral Eduardo Barata, e o filho Guilherme Forton Viotti. O velório será na segunda-feira, 17, das 10h às 14h, no Teatro Tablado, no Jardim Botânico. A cremação será no Cemitério da Penitência, das 15h às 16h15, no Caju.
Filha de um francês e uma brasileira, Françoise Forton nasceu no Rio e morou dos cinco aos 17 anos em Brasília. Iniciou sua carreira de atriz em 1969 com um pequeno papel na novela "A última valsa". Logo em seguida, foi uma das protagonistas do longa "Marcelo Zona Sul" (1970), de Xavier de Oliveira, contracenando com Stepan Nercessian, sobre o cotidiano da juventude carioca dos anos 1960. No cinema fez ainda longas como "Jardim de Alah" (1988), de David Neves, e "Coração de cowboy" (2018), de Gui Pereira.