Em 2018 vimos novelas sobre mulheres a frente de seu tempo, cantores de axé que forjam a própria morte, mulheres jogadas ao mar dentro de um caixão pessoas congeladas por um século no Brasil. Não dá para dizer que as novelas não tentaram se reinventar durante o ano, mas isso não significa que deu certo.
Embora tentem ousar nas histórias, as novelas ainda usam alguns conceitos e fórmulas que não mudaram nos últimos 50 anos, o que torna as produções atrasadas. Escrever um folhetim com capítulos diários por meses não é tarefa fácil, mas por conta disso vemos as famosas barrigas tomarem conta.
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Recursos batidos são usados com frequência como a primeira fase, por exemplo, que hoje é praticamente obrigatória nos folhetins. Mas esses recursos, além de limitadores, impedem que as narrativas sejam, de fato, originais. Por isso, selecionamos cinco coisas que a teledramaturgia precisa parar de fazer em 2019:
- Personagens falando sozinhos
É comum – até demais – que os personagens falem sozinhos nas novelas. Essa solução é utilizada quando é preciso explicar ou contextualizar algo, mas, usada a exaustão, dá ideia de um texto preguiçoso, e que duvida da capacidade do espectador de tirar conclusões por conta própria.
“O Sétimo Guardião”, que tem cara de folhetim amador , utiliza bastante esse recurso, e ainda usa o “pensamento em voz alta”. Seria muito mais adequado inserir tal ideia em um diálogo, sem parecer que o personagem tem que explicar o que está acontecendo.
- Mocinhos que só fazem o bem
É preciso ter uma figura central para quem torcer em uma narrativa, e isso é normal. O problema das novelas é que essas figuras normalmente são sempre muito boazinhas, ingênuas e coitadas, sofrendo todo o tipo de mal dos vilões.
Na vida real, ninguém é completamente bom ou ruim, e a história cresce quando consegue mostrar essa dualidade. Em “Avenida Brasil”, Nina (Débora Falabella) sofreu muito na infância e volta para se vingar de Carminha (Adriana Esteves) e é justamente essa raiva que a move. Esses personagens costumam ser mais complexos e, consequentemente, melhores.
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- Demorar tanto para acabar
Todo mundo já assistiu a um capítulo de novela que, quando acaba, deixa uma sensação de que nada aconteceu. Isso se deve, em parte, ao fato de que as produções têm longa duração, com mais de 150 capítulos. Eventualmente, para não “gastar” história, os autores criam cenas e tramas paralelas sem propósito, fazendo uma coleção de capítulos sem relevância (vide “A lei do Amor”).
Uma solução simples é diminuir a duração dos folhetins. Isso impediria essas barrigas, daria mais agilidade para tramar e aumentaria a audiência, já que os expectadores ficariam ansiando pelo capítulo seguinte.
- Quem matou?
Odete Roitman realmente ficou muito famosa depois de “Vale Tudo” e a expressão “quem matou Odete Roitman” perdura 30 anos depois da exibição do folhetim. Mas, a assassina da vilã não é tão lembrada assim e, de lá para cá, muitas novelas apostaram numa morte misteriosa.
“Segundo Sol”, “Celebridades”, “Torre de Babel” e “Belíssima” usaram esse recurso. A ideia é interessante e o suspense prende o expectador, mas usada com frequência perde a força narrativa.
- Primeira fase
Como comentado no início do texto, o recurso da primeira fase virou praticamente obrigatório nas novelas. Tirando as tramas de época, todos os folhetins de 2018 tiveram primeira fase. Algumas vezes a decisão foi desastrosa – como em “Velho Chico” quando parte do elenco mudou e parte permaneceu o mesmo na passagem de tempo.
Às vezes, a fórmula é necessária para oferecer um contexto e dar o start na história, mas seria mais interessante se não fosse tão aplicado.
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As novelas já estão em processo de reinvenção nos últimos anos, devido a constante baixa de audiência. Se evitarem esses recursos batidos, quem sabe não teremos uma nova era de folhetins?