Em clima de fim de ano, o iG Gente faz a retrospectiva 2018 das novelas, marcadas por tramas fracas, histórias sem sentido, protagonistas sem graça e autores decepcionantes. Depois do sucesso de “A Força do Querer”, que marcou o retorno de Glória Perez ao horário nobre, esperava-se que a faixa das 21h seguisse em alta, mas não foi o que aconteceu.

Novelas das 21h foram as mais fracas e decepcionaram em 2018
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Novelas das 21h foram as mais fracas e decepcionaram em 2018

O ano de 2018 começou com “O Outro Lado do Paraíso” ocupando a faixa. A novela de Walcyr Carrasco foi um sucesso de audiência, superando até sua antecessora. Mas, se o resultado foi positivo nos números, o mesmo não se pode dizer da história . Com uma vingança estilo “Avenida Brasil”, o folhetim prometia tratar de temas polêmicos, como alcoolismo, violência doméstica e até nanismo.

Além disso, esse seria o retorno de Marieta Severo depois de anos vivendo Nenê em “A Grande Família”. Na prática, Sophia (Severo) foi uma das partes decentes em uma novela que errou em quase tudo. Os debates prometidos foram superficiais, a personagem de Glória Pires não tinha história própria e a “reinvenção” de Clara (Bianca Bin) depois de sofrer uma tentativa de assassinato foi cortar a franja e aparecer durante uma festa para toda a cidade.

Sua frase “vocês não sabem o prazer que é estar de volta” caiu melhor na vencedora do “BBB” Gleici Damasceno do que na personagem. Além do mais, Bin não tem a habilidade necessária para sustentar uma novela das 21h. Com inúmeros personagens e incontáveis núcleos, a novela não se aprofundou em nenhum e passou a maior parte do tempo afundada em barrigas – ou no tribunal (onde a maior parte da novela se passou).

Sérgio Guizé, Lima Duarte, Grazi Massafera, Rafael Cardoso e Bárbara Paz tiveram performances aquém do esperado e a novela não foi um total fiasco por que de lá surgiu Érika Januza, que brilhou como a juíza Raquel (a verdadeira história de vingança da novela).

Enquanto isso, às 19h, “Deus Salve o Rei” estreava com grande expectativa. Mas, como com grande expectativa vem grande decepção, a novela não foi nada do esperado . Em meio a armaduras, espadas e um tempo medieval, reinou a história de amor do príncipe e da plebeia, basicamente toda a trama de todas as histórias da Globo .

Em um ano fraco,
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Em um ano fraco, "Orgulho e Paixão" foi a melhor novela exibida pela Globo em 2018

Seguindo a retrospectiva 2018, “Tempo de Amar”, outro romance de época, foi bem às 18h e serviu como plataforma para revelar Vitória Strada como nova possível estrela da Globo. O folhetim acabou em março dando lugar a “ Orgulho e Paixão ” – a melhor novela exibida pela Globo em 2018.

Usando como ponto de partida os romances da escritora inglesa Jane Austen, a novela de Marcos Bernstein fez uma leitura romântica, porém moderna de seus livros. Ao contrário de outros produtos da casa, tratou com carinho de personagens homossexuais, ao invés de usá-los como alívio cômico, e retratou sua protagonista como uma mulher forte e independente.

As irmãs Benedito, junto com Emma (Agatha Moreira) foram prazerosas de acompanhar, enquanto navegavam por um mundo dominado pelos homens.

O mesmo elogio não se pode fazer a sua sucessora, “Espelho da Vida”, atualmente no ar. A novela de Elizabeth Jhin é confusa e usa uma conexão entre passado e presente para apresentar, pasme, uma história de amor que parece impossível. Vitória Strada volta ao horário pela segunda vez no ano com uma personagem tão sem graça quanto a primeira e, por meio de um espelho, se conecta com uma vida passada.

Mesmo com um casting imenso, Globo repetiu muitos atores em suas produções este ano
Divulgação/TV Globo
Mesmo com um casting imenso, Globo repetiu muitos atores em suas produções este ano

O folhetim é confuso e o resultado é que a audiência tem caído a cada capítulo. Além disso, João Vicente de Castro não emplacou como galã e Rafael Cardoso, que foi um dos vilões de “O Outro lado do Paraíso”, poderia usar mais tempo para descansar a imagem.

De volta às 19h, “Deus Salve o Rei” acabou antes do previsto por conta das críticas e deu lugar a “O Tempo Não Para”, primeiro trabalho autoral de Mário Teixeira. Verdade seja dita, em um ano onde todas as tramas se pareciam, Teixeira inovou com a história de um grupo de pessoas do século XIX que fica congelada por 100 anos e acorda nos dias de hoje.

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É divertido acompanhar como essa transformação os afeta já que absolutamente tudo mudou, mas alguns problemas – principalmente com os vilões – impedem a novela de ganhar o status de “ótima”. Ainda assim, Edson Celulari, Juliana Paiva, Nicolas Prattes, Christiane Torloni e Regiane Alves estão bem na trama.

“Malhação”, “Onde Nascem os Fortes” e o flop do horário nobre

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"Malhação: Vidas Brasileiras" e "Onde Nascem os Fracos" foram acima da média, mas também não impressionaram no ano

Um destaque positivo dessa retrospectiva 2018 é “Onde Nascem os Fortes”. Embora um pouco cansativa, ela ao menos foi inventiva. Alexandre Nero, Patrícia Pillar, Debora Bloch e Fábio Assunção tiveram excelentes performances e Alice Wegmann conseguiu desfazer o gosto ruim de “A Lei do Amor” com uma linda interpretação de Maria.

Já na faixa das 17h, “Malhação: Vidas Brasileiras” estreou com um novo formato: a personagem principal seria Gabriela (Camila Morgado) diretora de uma escola e, a cada 15 dias o foco da trama mudaria para uma determinada história.

A ideia não é de todo ruim e permitiu que todos os coadjuvantes tivessem sua chance de brilhar ao longo da temporada, mas acabou desconectando o público das histórias conforme elas ficavam em segundo plano. De qualquer jeito, a nova temporada de “Malhação” veio após “Viva a Diferença”, uma das mais elogiadas do produto que já está no ar há 23 anos.

Mas não dá para chamar o ano de ótimo, ainda mais considerando o fracasso do horário nobre no ano. “Segundo Sol”, novela de João Emanuel Carneiro, sofreu de um mal diferente das outras. Sendo uma obra aberta, a novela está sujeita a mudanças de rumo dependendo da aceitação do público, mas a verdade é que o que mudou o rumo da trama foi o próprio autor. Ele criou personagens principais (o casal Beto e Luzia de Emilio Dantas e Giovanna Antonelli) fracos e sem graça, mas histórias paralelas interessantes .

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Tony Ramos também fez "dobradinha" em 2018 com "Tempo de Amar" e "O Sétimo Guardião"

Sendo assim, o folhetim acabou sendo melhor pelos coadjuvantes do que pelos principais. Letícia Colin, Chay Suede e Danilo Mesquita fizeram um bom triângulo amoroso enquanto a trinca de vilões Laureta (Adriana Esteves), Remy (Vladimir Brichta) e Karola (Deborah Secco) tinha muito mais química que os protagonistas.

Com um bom começo, “Segundo Sol” não conseguiu manter o ritmo e a história “empacou” em algum lugar no meio, enquanto JEC aguardava a chegada do 100º episódio para fazer seu grande “plot twist” (a morte falsa de Remy).

A novela acabou com menos fãs do que o esperado e deu lugar para outra trama muito aguardada: “O Sétimo Guardião”. O folhetim de Aguinaldo Silva começou em meio a polêmicas e prometia trazer de volta o realismo fantástico que o autor já abordou em outras ocasiões, como em “Porto dos Milagres” e “A Indomada”. Mas o que se viu até agora não impressionou: cada personagem tem um sotaque próprio, o casal de protagonistas (Marina Ruy Barbosa e Bruno Gagliasso) saiu diretamente de uma propaganda de carro para Serro Azul, as histórias paralelas não agradam e os personagens são muito caricatos.

Até agora a vilã de Lilia Cabral não é daquelas que amamos odiar, é só uma mulher amargurada e inescrupulosa. Com pouco mais de um mês no ar, a Globo já sentiu a queda na audiência, o que pode significar mudanças a frente. Mas, se seguirmos a tendência de 2018, as coisas devem continuar ruins.

Novelas em 2018

Nem Fernandona conseguiu salvar
Reprodução Globo
Nem Fernandona conseguiu salvar "O Outro lado do Paraíso". Atriz viveu Mercedes na novela de Walcyr Carrasco

Uma tendência que ficou claro nessa retrospectiva 2018 que as emissoras brasileiras insistem em ignorar são as novelas mais curtas. Em tempos de maratonas na Netflix, não dá mais para uma novela passar metade do ano no ar. Além disso, repetir protagonistas com um casting tão grande quanto o da Globo não é necessário.

Silvio de Abreu é o responsável geral pelo núcleo de dramaturgia e, para um dia chegar à televisão, as sinopses têm de ser aprovadas por ele. Ou o canal sofre de falta de criatividade generalizada, ou Abreu não está afiado na seleção.

Claro que, no fundo, toda novela precisa de uma história de amor. Mas, quando olhamos para trás, algumas de nossas queridinhas da dramaturgia têm o relacionamento em segundo plano, como “Avenida Brasil”, “A Próxima Vítima”, “Vale Tudo” e “Senhora do Destino”.

Sendo assim, as novelas de 2018 não conseguiram se diferenciar umas das outras e, no geral, decepcionaram. Mas, com um novo ano, as esperanças são renovadas e “Verão 90” e “Filhos da Terra” já estão sendo gravadas para ocupar o horário das 19h e 18h respectivamente. Que em 2019 tenhamos mais histórias diferentes na televisão!

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