O novo nem sempre é bem aceito, e sempre que algo diferente é apresentado existe o risco de sofrer rejeição. Foi isso o que aconteceu com “Deus Salve o Rei”, aposta ousada da Globo para o horário das 19h e que chega ao final nesta segunda-feira (30).
O folhetim teve uma estratégia diferente, indo inclusive parar na CCXP, fato inusitado para as novelas da emissora (ou novelas em geral). A ideia, desde o início, era aproximar “ Deus Salve o Rei ” de um público mais jovem e conectado com outros produtos, como série, em especial “Game of Thrones”.
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As referências estavam lá, no figurino, nos cenários e até nos personagens. O problema é que Daniel Adjafre, que fez sua estreia como autor de novela, falhou em criar um épico medieval e trazer algo realmente novo. Para conquistar o horário, que vinha com audiência crescente desde “Rock Story”, era preciso investir mesmo na fantasia.
O que aconteceu, na realidade, foi a mesma trama já vista zilhões de vezes em outras novelas, mascaradas em vestidos longos e castelos. A trama principal, que gira em torno do amor de Amália (Marina Ruy Barbosa) e Afonso (Rômulo Estrela) seguiu um roteiro velho conhecido: eles se conhecem e se apaixonam ao primeiro olhar, mas por motivos diversos, são obrigados a viver separados e só voltam a se unir de verdade no fim da trama.
A verdade é que, apesar do investimento na produção épica (feita com muito sucesso, diga-se de passagem), a história não tinha nada de diferente. A novela não investiu o suficiente para o público “comprar” o reino de Montemor ou Artena, que ficou em segundo plano em frente aos conflitos pessoais das personagens.
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Entra e sai em "Deus Salve o Rei"
Os problemas da trama foram sentidos pelo público, e logo a Globo teve que fazer mudanças. Nessa dança das cadeiras Caio Blat saiu, Renato Góes pulou fora ao gravar a primeira cena como Afonso, sendo substituído por Estrela, José Fidalgo, que tinha potencial, foi excluído da novela e depois “ressuscitou”. Alexandre Borges entrou na metade como um vilão e Danton Mello reforçou o elenco para ocupar o espaço deixado por Blat.
Nessa, até o autor foi para “a forca”. Isso porque o experiente Ricardo Linhares (“Fera Ferida”) foi escalado para supervisionar o texto de Adjafre e foi responsável por algumas mudanças significativas na trama. É comum que novelas tenham alterações de percurso, mas essas foram substanciais e um claro sinal de que a produção não tinha convicção no trabalho apresentado.
Protagonistas em crise
Marina Ruy Barbosa, que logo volta à TV em “O Sétimo Guardião”, poderia ter passado essa trama com tranquilidade. A personagem é simples e não tem nada que dedique grandes esforços de uma atriz. O fato de Marina estar em alta na emissora só reforça o papel de mocinha que, mesmo na Idade Média, tornam Amália igual qualquer outro papel da atriz. Para completar, Bruna Marquezine foi fortemente criticada no seu primeiro papel de vilã e sua Catarina sofreu mudanças por parte da direção para perder a caracterização “robótica”.
Rômulo Estrela, em seu primeiro protagonista, fez o que pode com Afonso mas, assim como a Amália de Marina, não teve grandes desafios com um personagem fraco.
Humor sem graça
Tatá Werneck nunca é um desperdício na TV, pois sua comédia é tão diferente e espirituosa que consegue imprimir nova identidade a uma cena. Ainda assim, considerando o contexto da novela, sua graça pareceu deslocada e quase ninguém do elenco soube acompanhar seu ritmo e dar um tom de comédia, com exceção de Johnny Massaro. O ator, inclusive, foi um dos destaques positivos com Rodolfo, um personagem consistente que teve boa dose de maldade e comédia e personifica o que a novela poderia ter sido, mas não conseguiu.
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Chegando ao fim, “ Deus Salve o Rei ” foi repleta de pontos fracos. Um dos destaques da novela, no final, vai ser o divertido funk gravado pelo elenco, já que da trama em si muito pouco sobreviverá.