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A três episódios do fim, série vive seu momento de maior fragilidade narrativa e tem desafio de redirecionar expectativas pós- Rei da Noite

Basta olhar as redes sociais para perceber que "The Long Night", terceiro episódio da oitava temporada de "Game of Thrones" foi um dos mais divisivos de toda a série. Também era um dos mais esperados e, inclusive,  registrou recorde de audiência nos EUA e no mundo.

Cena de Game of Thrones
Divulgação
Cena do 3º episódio do oitavo ano de Game of Thrones

Para além das reclamações envolvendo a escuridão da fotografia ou a falta de contraste da projeção da HBO, é fato que a tão aguardada Batalha de Winterfell decepcionou. A equipe criativa por trás de "Game of Thrones" já foi mais criativa para esconder as limitações orçamentárias da produção.

Dos efeitos capengas à geografia da batalha, passando pelas estratégias e táticas do agrupamento do Norte, o saldo foi para lá de contraditório - para dizer o minímo.

Mas o que mais chamou a atenção em "The Long Night" e enseja alguma preocupação para o futuro da série - estamos a três episódios do final - é um redimensionamento narrativo da produção da HBO.

A série sempre foi conhecida por correr riscos - e construiu fama e hype em cima disso. Eliminar personagens queridos, promover reviravoltas políticas disfarçadas de atos de paixão, insinuar um vilão no peito do adorado herói, entre outras ousadias narrativas que ajudaram a tornar a série um produto tão singular na cultura pop contemporânea. O oitavo ano, porém, parece romper com esse legado.

Para além do próprio desenvolvimento da trama, consideravelmente menos rebuscado , "Game of Thrones" parece ter desenvolvido algum tipo de aversão ao risco, como se temesse represália de seus fãs em virtude de algumas de suas opções criativas. Só isso explica como todos os personagens com arcos ainda em desenvolvimento sobreviveram à batalha de Winterfell. 

A maneira como a ascendência de Jon está sendo desenvolvida pela série reforça essa sensação. De todo modo, um desafio está posto. Depois de trabalhar exaustivamente toda uma dinâmica em cima da ameaça que vem do Norte, materializada na figura do Rei da Noite, a série dispensa essa dinâmica para focar exclusivamente no jogo de poder entre as parcas famílias restantes.

Rei da Noite em meio as chamas
Divulgação
Rei da Noite em cena emblemática de Game of Thrones

É uma escolha dramaticamente ousada para inserir alguma contradição ao raciocínio, mas que rivaliza com o que a produção transparece no momento. É nitidamente uma solução narrativa pensada por George R.R. Martin lá atrás, mas que sem o amparo dos livros pode ter perdido muito de sua sustentação. 

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É preciso uma dramaturgia pulsante para redirecionar as expectativas da audiência e mesmo provocar impacto depois da catarse esperada, e até certo ponto represada, para a Batalha de Winterfell. "Game of Thrones" nunca passou por um momento de tamanha fragilidade narrativa como esse que enfrenta à beira de seu desfecho.

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