Cenas dos filmes 'A Menina Que Matou Os Pais - A Confissão' e 'Maníaco do Parque'
Reprodução/Prime Video - 02.01.2024
Cenas dos filmes 'A Menina Que Matou Os Pais - A Confissão' e 'Maníaco do Parque'


Música, brincadeiras e risadas fazem parte dos bastidores dos filmes sobre os casos de Suzane Von Richthoffen e do Maníaco do Parque. A diferença abrupta entre o lado tenso dos crimes reais e o clima leve dos atores é o segredo das produções de “true crime”, segundo Larissa Bracher. A atriz é a preparadora de elenco de ambos os longas e ressalta a importância do papel que exerce por trás das câmeras.

Em entrevista ao iG Gente, Larissa diz que a leveza é necessária para as temáticas sérias não afetarem a vida pessoal dos profissionais. A preparadora conta que incentiva a descontração após gravações mais intensas, como as cenas de simulações de assassinatos e de outros crimes. “Todo mundo tem um respeito desde a preparação, mas tem um momento que todos brincam”, afirma.

“Eu boto todo mundo para rir. Seja com alguém está mais [abalado], vou lá com brincadeira, ciranda e música. Boto todo mundo no chão para se debater, um gargalhando da cara do outro [...] Acabou a cena, vamos mudar de assunto, falar de tudo e brincar. Vamos rir, se jogar, trocar de roupa. Tudo na alegria. É realmente muito leve”, completa.  Carla Diaz, por exemplo, compartilhou ao iG Gente que “A Menina Que Matou Os Pais” foi uma das produções mais leves da carreira dela.


Uma das principais funções de Bracher é equilibrar a leveza com um “respeito muito profundo” às pessoas atingidas pelo crime, das vítimas às famílias. Mas a profissão de preparador de elenco apresenta mais responsabilidades. Larissa passa cerca de 40 dias antes das gravações conhecendo melhor os atores, identificando como cada profissional pode acionar melhor as emoções, reproduzir aspectos físicos para o personagem e conduzir o texto da maneira orientada pelo diretor do projeto.

“A preparação de elenco é uma função muito invisível e recente, mas é estruturante [...] Conduzo a estruturação da individualidade dos atores às relações, e acompanho em todas as diárias, para que aquilo não se perca. Durante essa preparação a gente cria uma linguagem, que utilizo depois durante as filmagens. Às vezes é uma palavra, um toque”, comenta.

No entanto, para preparar os atores, ela também precisa estar preparada. A atriz tem acesso a materiais que não chegam necessariamente até o elenco, de arquivos judiciais às fotos dos crimes. Ela se dedica a compreender cada caso antes de preparar os atores, estudando paralelamente psicopatia e a linguagem do “true crime”. Bracher também trabalhou no filme “Macabro”, sobre a história dos “Irmãos Necrófilos”, e pondera como esse processo prévio ao contato com os atores é “intenso”.

Larissa explica que é impactada por esta parte do trabalho. “Eu vejo tudo [sobre os crimes], leio tudo, vejo todas as fotos reais, todas as reconstituições [...] É muito impactante. E você tem que entender aonde transmuta aquilo, porque você não pode se apegar. Se você se fixa em uma das vítimas, se começa a pensar na família dela, se fica uma coisa muito pessoal, você acaba se identificando”, avalia.


A preparadora menciona o cuidado para “tirar o pensamento negativo” durante a pesquisa, já que muitos questionamentos facilmente a acompanham na vida pessoal. “Por exemplo, cerca de 3% da população mundial é de psicopatas. Essa é a mesma população percentual de ruivos, de pessoas que têm vitiligo. Penso que conheço as pessoas com vitiligo, conheço pessoas ruivas, então certamente alguns psicopatas me cercam. Mas aí falo: ‘Para’. Não pode se apegar às individualidades”, sugere.

Bracher relata a “dureza” ao saber mais das histórias das vítimas e as “pessoas que ficaram” após ter a vida impactada por criminosos. “Todo mundo que foi assassinado tinha sonhos, planos e projetos. Esses detalhes, da roupa que estava no cabide que a pessoa ia usar no dia seguinte, o copo e o prato da comida da pessoa que ficou lá na mesa... Essas simplicidades de quem se foi de uma maneira brutal me marcam muito”, analisa.

“Às vezes ver a foto da roupa que a pessoa estava usando no dia, a pessoa escolheu aquela roupa para sair de casa. Você fala: ‘Nossa, cara, era uma pessoa como, como qualquer outra pessoa’. Esse tipo de vida interrompida, esse tipo de simplicidade, me toca muito. O que sobra da pessoa quando a pessoa vai embora e a marca que isso deixa numa família, nos amores dessa pessoa, isso é o que mais comove. E o meu trabalho é isso”, complementa.

“Maníaco do Parque” estreia em 2024 e Larissa Bracher adianta um momento impactante nos bastidores do filme, estrelado por Silvero Pereira. O assassino em série tinha mulheres como vítimas e a preparadora conta como a união do elenco feminino foi importante entre as gravações mais tensas do longa.


“Puxamos uma energia do feminino para o filme, foi muito emocionante. Só de falar eu me arrepio. Teve um momento que convoquei as mulheres nos bastidores e falei: ‘Cara, olha a gente aqui. Olha o que estamos contando. Temos que rodar esse filme com a nossa energia do feminino. Talvez isso tenha sido o mais marcante, conseguido pegar uma energia do feminino para contar essa história”, relembra.

Já em “A Menina Que Matou Os Pais”, Bracher cita um momento emocionante nas gravações com Allan Souza Lima, intérprete de Cristian Cravinhos. O ator relatou ao iG Gente como as cenas do interrogatório foram as mais difíceis do projeto , ressaltando que o apoio da preparadora durante a gravação foi essencial para conseguir filmar o momento “catártico” ao longo de um dia.

“O Alan estava esgotado. Ele gritava: ‘Quero Larissa aqui comigo, chama a Lala’. Fui correndo. Aquela cena inteira eu passei basicamente de mão dada com ele, debaixo da mesa ou do lado [...] Ele parava para descansar e me dava a mão, olhava para mim e ficava assim [eufórico]. A gente ficou se comunicando com um olhar sabe, um emocionando o outro e se retroalimentando na emocionalidade. Foi muito inesquecível esse momento”, recorda.

Larissa fica emocionada ao falar da gravação com o ator. “Saí esgotada daquela cena. Parecia que eu estava fazendo [a cena] ali. Ele babava, teve fluidos e chorava. Eu suava e a gente estava ali junto. Foi também um momento muito bonito assim da minha carreira como preparadora [...] Parece que foi um negócio que vai ficar para sempre, de uma beleza assim das profissões, das entregas de cada função, foi um momento muito especial mesmo. Vou guardar para sempre”, conclui.





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