Desde 14 de março de 2018, duas perguntas ecoam sem resposta: Quem matou Marielle? E quem mandou matar? O assassinato da vereadora do PSOL Marielle Franco , morta a tiros de submetralhadora junto com o motorista Anderson Gomes, no bairro do Estácio, Zona Norte do Rio, gerou comoção nacional e repercussão mundial. Mas a trajetória da socióloga que saiu do Complexo de favelas da Maré para a Câmara dos Vereadores foi ofuscada.
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O crime que a calou e a vida que lhe deu voz são o tema de “Marielle — O documentário”, série de seis capítulos que estreia na próxima semana. O primeiro episódio vai ao ar na quinta-feira (12), na Globo , após o “Big Brother Brasil”. No dia seguinte, a produção chega completa ao Globoplay .
Primeira série documental do Jornalismo da Globo produzida para o serviço de streaming , a atração conta a vida, a atuação política, o assassinato da vereadora e os desdobramentos do caso. Com direção de Caio Cavechini, a produção foi feita ao longo de cinco meses, contando com uma equipe de 14 jornalistas da emissora, além de registros de telejornais e programas como o “Fantástico”.
A investigação é enriquecida por áudios de WhatsApp trocados pelas vítimas antes e no dia do atentado e imagens de arquivo, que mostram Marielle em sua festa de 15 anos ou em um concurso de beleza, ainda adolescente, e Anderson recebendo a notícia de que seria pai. Há ainda longas entrevistas com parentes, colegas de gabinete e outros funcionários do Legislativo.
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"Serviços de streaming têm catálogos diferentes, com diferentes ofertas. E, a partir do momento em que decidimos incluir o documentário no nosso catálogo, não fazia sentido abrir mão da expertise da emissora e do seu próprio DNA jornalístico", conta Erick Brêtas, diretor-geral do Globoplay. "Quando pensamos em que história contar, não havia nada mais importante do que a história da Marielle. Não é um caso de posicionamento político, é escolher entre a civilização e a barbárie. Nesse sentido, não há dúvida sobre que lado tomar."
No texto de apresentação da série, o diretor de Jornalismo da Globo , Ali Kamel, lembra que o formato abre mais uma oportunidade para a emissora: "É uma linguagem diferente do que habitualmente fazemos, mas igualmente com grande qualidade. Outros títulos vão surpreender e agradar".
Série de ficção a caminho
A atração foi anunciada na tarde de ontem e, após a apresentação do primeiro episódio, foi revelado que a série documental vai se desdobrar também na ficção. Brêtas informou que, ao longo da produção do doc, tomou conhecimento de que havia um projeto de série de ficção sobre a vida da vereadora. A história vinha sendo desenvolvida há um ano pela roteirista e escritora Antonia Pellegrino e pelo diretor José Padilha. Após a dupla se unir ao Globoplay, George Moura, de séries da Globo como “Amores roubados” e “Onde nascem os fortes”, entrou no time. Hoje, eles trabalham juntos para dar forma ao projeto, ainda sem título nem previsão de estreia.
"Essa foi uma história que me escolheu, que infelizmente não escolhi contar", diz Antonia. "Conheci a Marielle há cinco anos, ela foi uma amiga e 'madrinha' (do relacionamento com o deputado Marcelo Freixo, com quem a roteirista é casada). Jamais imaginaria vê-la ali, morta daquela maneira brutal. Será uma série não só para contar a história dessa mulher, mas profundamente comprometida com os valores em que ela acreditava, com os direitos humanos".
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Padilha conta que adiou projetos em andamento para se dedicar à série de Marielle: "Por coincidência, eu e o Freixo a conhecemos no mesmo dia, ela se apresentou para a gente depois de um debate sobre o documentário 'Ônibus 174' no Odeon. Sou um contador de histórias, e me dediquei por muito tempo às histórias de violência urbana do Rio. Essa é uma que precisa ser contada".
Enquanto a série ficcional começa a ser produzida, os autores de “Marielle — O documentário” se preparam para as muitas paixões que o tema desperta. O assunto, afinal, mobiliza há quase dois anos a vida política nacional. E a produção buscou as várias correntes políticas envolvidas direta ou indiretamente com a vereadora.
"Não seria possível abordar essa história sem ouvir todos os lados políticos que orbitam em torno da Marielle", destaca Caio Cavechini. "Era preciso trazer detalhes da vida dela que as pessoas não conhecessem, para ir além do sentimento de empatia ou de repulsa com que diferentes partes do público costumam receber o caso."