Sara Sarres não nasceu em uma família de artistas, mas nasceu para a arte. Quando pequena, um piano de brinquedo se tornou seu melhor amigo, logo ela começou a cantar, atuar, conhecer a ópera e, de forma informal, acabou se formando para o teatro musical. Hoje, ela é uma das atrizes de maior prestígio no gênero no Brasil, esteve na turnê mundial de “O Fantasma da Ópera” e com simplicidade quer passar para frente todo o seu conhecimento.

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Sara Sarres
Divulgação/Cassiano Grandi
Sara Sarres participou das grandes produções musicais que foram montadas no Brasil


A história de Sara Sarres se mistura ao crescimento e popularização do teatro musical no Brasil e, para ela, que atualmente divide o palco com diversas crianças no espetáculo “Escola do Rock”, notar essa evolução é gratificante. “Ver essa molecada chegando tão preparada é um balsamo. Elas chegam com técnica e possuem o apoio dos pais, algo novo porque antes os pais não queriam os filhos na vida artística por preocupação, hoje eles vibram junto”, afirmou ao iG atriz.

Como artista, Sara sabe bem o quanto é fundamental o apoio da família para seguir nessa profissão e teve a sorte de sempre receber incentivo em casa. “Sou a primeira artista da família e tudo começou com ‘O Mágico de Oz’. Meu pai foi meu maior incentivador, nunca perdeu uma estreia. Foi ele que reconheceu a arte em mim, que me colocou na aula de piano e sempre fez das tripas o coração para eu conseguir estudar. Quando eu abria a porta do foyer ele era o primeiro que estava lá para me abraçar”, contou extremamente emocionada, pois perdeu o pai recentemente, prestes a estrear em “Escola do Rock”.  

Primeiro grande musical

Sara Sarres
Arquivo pessoal
Sara Sarres em "Os Miseráveis"

O estudo e a dedicação de Sara fez com que ela integrasse o elenco do primeiro grande musical montado no Brasil, “Os Miseráveis”, produção de 2001 que seguiu os moldes do espetáculo que foi sucesso na Broadway e ainda é em West End, em Londres.

“Eu fui para o teste sem saber o que era, a gente entrou em uma sala com um monte de gringo, cantei uma música de ‘O Fantasma da Ópera’ e passei direto para Cosette. Foi ai que começou a capacitação do brasileiro para o teatro musical, também de uma forma informal, não existia curso para forma uma equipe técnica. Sinto essa diferença nos bastidores, hoje temos pessoas que são exportadas em todas as áreas. Eu fui uma das exportadas”, conta a atriz aos risos.

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O que ela não imanava é que anos depois ela cantaria em português a música do seu primeiro teste. Sara foi escolhida pelo próprio Andrew Lloyd Webber, criador de “ O Fantasma da Ópera ”, para viver a protagonista Christine no Brasil. Dez anos depois, a atriz foi escolhida novamente para participar da turnê mundial desse clássico da Broadway e se apresentou na China cantando em inglês.

“Eu tenho uma história muito linda com o Fantasma. Tanto aqui no Brasil quanto na turnê mundial a minha relação com o espetáculo sempre foi a seguinte: ‘me belisca que eu estou sonhando’. Não teve um dia que eu não me senti num sonho, é surreal”, comentou a atriz que aproveitou para rebater as críticas de artistas que dizem que as grandes franquiam limitam os artistas.

Sara Sarres como Christine
Divulgação
Sara Sarres como Christine em "O Fantasma da Ópera"

“Não existe isso que você fica engessada, a gente ouve muito. Um ator que não cria nessas circunstancias não tem criatividade, porque o ator tem liberdade para colocar sua marca. Você precisa contribuir com a obra, se não todo William Shakespeare seria enlatado porque é um texto que todo mundo faz. Quem vai assistir Fantasma hoje fala que é diferente do que foi feito anos atrás e quando tiver de novo daqui uns anos vai ser diferente, isso é bom, mostra que o teatro é vivo.”

Com 12 musicais no currículo e 20 anos de carreira, Sara é uma das atrizes referência para as novas gerações. “Eu não me sinto uma diva do teatro musical. É muito bonito ouvir das pessoas que elas se espelham em você. Conviver com essas crianças ouvir elas me dizendo que querem ser como eu me faz querer trabalhar para ser cada vez melhor”, afirma a atriz que também é professora e estudante de fonoaudiologia. “Sinto que essa história que a gente construiu em 20 anos tem ser passada para frente. As pessoas precisam saber como tudo começou.”

Mais valorização

O atual espetáculo que Sara está em cartaz, “ Escola do Rock ”, é considerado uma montagem superior a da Broadway e a atriz acredita que o teatro musical no Brasil deveria ser mais valorizado. “Vejo muita gente que é espectador ou fã de teatro que entra em uma onda de depreciar o teatro musical. Que benefício isso vai trazer? Acho isso muito triste. Tem muita gente que tem preconceito, que deixa de assistir aqui para assistir em Nova York.”

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O problema é que as mudanças na Lei Rouanet vão impactar diretamente esses grandes espetáculos, que provavelmente deixarão de ser montados, e isso tem preocupado os fãs do gênero e, claro, a classe artística. “Estamos em uma fase política extremamente difícil para arte em geral e em específico para o teatro musical. Não sabemos o que acontecer no ano que vem”, disse Sara Sarres que torce para esse cenário mude e seu trabalho seja mais valorizado.  

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