Desde suas primeiras exibições em Veneza, “Coringa” tem dito duas reações: uma positiva, especialmente no que diz respeito ao trabalho de Joaquin Phoenix , e outra negativa, acusando o filme de incentivar comportamento violento.

cena de coringa
Divulgação/Warner
"Coringa"

O debate tem sido intenso – porém raso - dos dois lados, com o diretor Todd Phillips fazendo comparações com outros filmes de violência sem levar em consideração que “ Coringa ” tem reverberação no mundo real, enquanto outros filmes similares são obras de ficção sem paralelos.

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Porém, as pessoas que criticam o filme por possível apologia à violência dão muito crédito a Todd Philips, que além de dirigir, assina o roteiro com Scott Silver. De fato, o filme é irresponsável na forma como expõe a violência de Arthur, mas isso se deve mais ao uso de recursos simples para desenvolver a narrativa do que qualquer outra coisa.

Em uma história, são os conflitos que movem as ações dos personagens, e o que acontece ao longo de “Coringa” são diversos exemplos de como as atitudes do protagonista são consequências de algo que ele sofreu: bulliyng, abandono, negligência. O resultado parece ser que as ações de Arthur Fleck (o Coringa) são justificadas - ele é violento como consequência da violência que sofreu.

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E isso realmente é irresponsável - abrindo margem para os chamados "incels" acreditarem que agem como heróis das próprias histórias. Mas engana-se quem acha que isso é proposital. Essas cenas se repetem de forma mecânica do filme, mostrando que são mais um recurso narrativo simples adotado pelos roteiristas, do que um estudo elaborado sobre a mente de alguém como o Coringa.

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Divulgação/Warner
"Coringa"

Um dos termos mais utilizados para descrever o filme tem sido “estudo psicológico”, mas isso também não é bem uma verdade. Em nenhum momento o filme analisa a psicopatia do personagem – apenas aponta a negligência do estado com pessoas com distúrbios mentais. Seria uma visão interessante, se fosse o foco do filme, mas também não é.

Todd Phillips quer que você ame odiar o Coringa, e é aí que mora o acertado alarde de quem critica a violência. Existem outros vilões amados e odiados que matam: Thanos, para citar um exemplo popular recente. Mas a maneira como Arthur é retratado do filme esforça, justamente, em mostra-lo como um produto do meio onde foi criado, quando na verdade sua natureza psicopática se manifestaria independente da maneira como ele foi criado.

As críticas também não são à toa. Em 2012 um homem invadiu uma sessão de “Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge” no Colorado e atirou no público, matando 12 pessoas e deixando outros 70 feridos. Esse é um exemplo entre os milhares de tiroteios em massa que aconteceram nos EUA nos últimos anos.

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Divulgação/ Warner Bros.
Joaquin Phoenix em "Coringa"

O principal problema de como a violência é retratada no filme é que não há uma lição a ser dada sobre o comportamento do Coringa , nem sobre a tal sociedade que o “transformou” nisso. A violência por si só está presente em todos os filmes de ação, mas é a inexistência de uma narrativa que, de fato, o coloque como um psicopata, que pode causar uma empatia que não deveria existir.

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