Produzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira e dirigido pelo francês Olivier Assayas, o thriller político “Wasp network” fez sua estreia oficial na competição do 76º Festival de Veneza neste domingo (01), onde foi recebido com palmas diplomáticas pela plateia de jornalistas.
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A trama em exibição no Festival de Veneza recupera o caso real de cubanos que fingiram desertar para os Estados Unidos, nos anos 1990, para criar na Flórida um grupo de espionagem com a missão de se infiltrar em grupos terroristas que planejavam ataques ao país de Fidel Castro.
O longa-metragem é baseado no livro “Os últimos soldados da Guerra Fria”, do biógrafo brasileiro Fernando Morais. O elenco multinacional é encabeçado pelo venezuelano Édgar Ramirez, a espanhola Penélope Cruz, o mexicano Gael García Bernal e o brasileiro Wagner Moura.
O filme, que abrirá a 43ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 17 de outubro, foi rodado em locações na Flórida e em Cuba. A princípio, o governo cubano se mostrou hesitante diante do pedido da produção para filmar “ Wasp network ” no país comunista.
“A resposta inicial das autoridades foi tipo uma negativa, não queriam que fizéssemos esse filme lá. Acho que, para eles, era uma ideia no mínimo perturbadora ter um francês lidando com a história moderna cubana. Acharam suspeito. O episódio é uma espécie de mito moderno: em Cuba, esses caras são vistos como heróis, em Miami como criminosos”, contou o diretor, autor da minissérie “Carlos” (2010), sobre o terrorista venezuelano alinhado à causa palestina.
“Filmamos em Cuba em um momento tenso, por causa da administração Trump, que proibiu voos comerciais americanos para o país. Talvez não conseguíssemos filmar lá hoje”, comentou.
Quando a produção ganhou sinal verde do governo, ela chegou sem qualquer restrição. A equipe, no entanto, sentiu-se monitorada o tempo em que esteve lá, “mas sem qualquer impacto no resultado final do filme”. Segundo Assayas, seria inimaginável encenar a história de “Wasp network” em outro lugar.
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“Filmar em Cuba permitiu que o projeto acontecesse. Não somente por razões econômicas, mas também por motivos artísticos: é impossível recriar Havana, em especial a cidade como era nos anos 1990, em qualquer outro lugar — observou o diretor. — Foi um complexo longo e complicado. Tivemos que encontrar alguns dos protagonistas do caso real. Era importante encontrar o tom do roteiro, porque a cultura cubana não me é familiar”.
Assayas lembrou que livro de Fernando Morais serviu apenas como guia para o roteiro. O cineasta diz que “adoraria ter conhecido” o escritor brasileiro, mas eles nunca chegaram a se encontrar porque “vivem em partes diferentes do mundo”:
“O filme é inspirado no trabalho que ele fez, principalmente porque ele fez um trabalho maravilhoso de reunir material de pesquisa original sobre a história dos espiões cubanos. Mas não usei a estrutura ou a narrativa do livro, mas muito do roteiro veio dele, era uma referência forte, porque Fernando teve acesso a material sensível sobre o serviço secreto cubano, entrevistas com figuras que participaram das ações do grupo. Foi o mesmo processo de “Carlos”, a minissérie que fiz a partir das pesquisas do jornalista Steven Smith, do “Le Monde””.
Wagner Moura interpreta Juan Pablo Roque, um dos pilotos cubanos que aderiram ao programa cubano de espionagem em Miami. O ator foi instado a traçar um paralelo entre os agentes cubanos e o baiano Carlos Marighella, guerrilheiro por trás de um dos maiores movimentos de resistência contra a ditadura militar brasileira, nos anos 1960, que Moura recupera em “Marighella”, filme que marca sua estreia como diretor e chega aos cinemas brasileiros dia 20 de novembro.
“Cuba foi uma profunda inspiração para todos os revolucionários latino-americanos. A Revolução Cubana aconteceu em 1959, e logo em seguida a CIA (Agência de Inteligência Americana) apoiou golpes de estado em países da região como o Brasil, o Uruguai, o Chile e a Argentina. Então, os revolucionários na América do Sul, incluindo Marighella, tinham os cubanos como referência”, explicou Moura, que vê os esforços dos espiões cubanos, que acabaram presos, como atos de heroísmo.
“Quando você pensa na quantidade de atentados terroristas contra o país que eles conseguiram evitar, valeu o sacrifício deles”.
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“Wasp network” é um dos dois longas produzidos por Teixeira a disputar o Leão de Ouro deste ano. O outro é “Ad astra”, aventura espacial dirigida pelo americano James Grey e estrelada por Brad Pitt , exibido na quinta-feira passada. Os vencedores do Festival de Veneza serão revelados na noite do próximo sábado (7).