Imagina um Brasil onde a maconha é legalizada, é justamente nesse distante cenário que passa “Pico da Neblina”, série original da HBO Latin America , que estreia este domingo (4), às 21h. A produção conta a história de Biriba, um traficante que resolve usar suas habilidades para sair do crime e se adequar à nova lei. Com direção geral de Quico Meirelles, a série mostra o realismo de tantos jovens da periferia que são reféns das circunstâncias em que vivem.
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Para chegar aos protagonistas de “ Pico da Neblina ”, os testes formam bem democráticos e os atores puderam mandar seu material pelas redes sociais. O diretor da série, que trabalhou com Fernando Meirelles, explica que a ideia de escolher atores que ainda não são conhecidos do grande público é fazer com que o espectador assista acreditando que aqueles atores são realmente os personagens que eles estão interpretando.
Um dos nomes mais conhecidos do elenco é Daniel Furlan , do “Choque de Cultura”. Ele será Vini, um sócio investidor de Biriba e, ao iG , o ator comentou que ouviu falar mal da forma como os testes de elenco foram feitos: “Eu estava em outra série e foi muito polêmico dentro do set, falaram: ‘você viu que eles abriram teste para não atores, que absurdo’”.
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Mas foi através desses testes que a produção chegou a dois amigos que cresceram na periferia de São Paulo e, além dar vida aos protagonistas, contribuíram para deixar as falas e o jeito dos seus personagens ainda mais natural. Enquanto Luis Navarro assume o posto do traficante politizado, Henrique Santana é Salim, o melhor amigo de Biriba que decide continuar no tráfico.
Você viu?
Tudo legalizado
Logo no primeiro episódio a maconha é já legalizada e os personagens já são apresentados com seus conflitos pessoais e familiares e é isso o que os deixam bem humanizados – portanto pode se preparar, porque a tendência é assistir torcendo pelos traficantes.
Pico da Neblina mostra um Brasil que acho que o mundo ainda não viu
“Algumas situações são pautadas nas ações de pessoas periféricas quando são retratadas no cinema, ou seja, aquela pessoa é o que ela faz. E, a gente, por vim desse lugar, por ver pessoas como essas, sabemos que a construção está na humanidade e não na ação dela. Um cara que vende maconha, por exemplo, é visto como uma péssima pessoa, que não é um pai, que não é um esposo, que não é amigo. [Pico da Neblina mostra] um Brasil que acho que o mundo ainda não viu”, comentou Henrique acerca dos estereótipos que a série quebra.
Luis também veio da periferia e para exemplificar o que foi dito pelo amigo contou que passou no Enem e conseguiu fazer uma faculdade, mas muitas pessoas ainda acham que isso não é possível por falta de informação. “O Biriba é exatamente esse cara que veio quebrar esse estereótipo, um cara que estudou até determinado tempo na faculdade e teve que trancar para ajudar a família. É um personagem que dá voz a periferia.”
Biriba é um personagem que dá voz a periferia
O curioso é que Henrique estudou para ser padre e cresceu achando que a maconha era “uma ferramenta do demônio para tirar as pessoas de Jesus”. Já Luis não fazia ideia de como “bolar um baseado” e ficou se questionando como poderia fazer um personagem que é uma referência de vendedor de maconha. “Era isso o que eu me perguntava sempre. No teste, eu consegui enganar os caras dizendo que era um maconheiro como ator”, revelou.
Tema para ser discutido
A HBO já é conhecida por trazer séries que levantam assuntos que geralmente causam polêmicas. Para Roberto Rios, que responde pelas produções originais da HBO Latin America, temas complexos como esse sempre geram um excelente entretenimento e a chance dessa série ter uma continuação é grande. “A gente sempre busca encontrar projetos que tenham capacidade de evoluir e ‘Pico da Neblina’ tem toda essa capacidade”, afirmou.
O desejo de Quico é fazer com que as pessoas tenham mais informação e discutam sobre o assunto. “Eu pessoalmente sou muito a favor da legalização da maconha e espero que a série, mesmo sem se posicionar claramente pró ou contra, jogue luz sobre esse tema e traga informações como qual é o papel da maconha medicinal, como que ela é, como é cultivada, como é plantada, tudo sem fazer apologia, é claro”, pontou o diretor.
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“ Pico da Neblina ” não se limita a legalização da maconha, a série trata de preconceito racial e de classe, mostra a realidade e a falta de oportunidade das pessoas da periferias, explora a corrupção na polícia e levanta outros temas de relevância social. A série estreia no canal HBO , na HBO GO e no aplicativo HBO Inclusão.