As mudanças feitas pelo atual governo no setor cultural estão longe de um consenso e, frequentemente, o assunto gera debates. Além de extinguir o Ministério da Cultura (MinC), grandes mudanças foram feitas na Lei Rouanet – limitando a captação a R$ 1 milhão por projeto. O problema é que essas alterações podem comprometer as futuras produções culturais e causar forte impacto na economia.
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![Marcelo Calero fala sobre impacto da Lei Rouanet na economia Marcelo Calero fala sobre impacto da Lei Rouanet na economia](https://i0.statig.com.br/bancodeimagens/9a/y1/1a/9ay11ad3nme5nabnlnbrt5419.jpg)
Para o ex-ministro da cultura Marcelo Calero , o que falta para o governo de Jair Bolsonaro é uma compreensão da dimensão desse setor. “Para o atual governo, partiu-se de um pressuposto de que se tratava de um setor antagônico como se isso fosse um critério para desvalorizar qualquer setor que fosse”, fala em entrevista ao iG .
Todas as mudanças feitas são vistas por Marcelo como prejudiciais para a cultura do País. “Começou a ser adotada uma política de sabotagem de um setor que tem uma importância que transcende simplesmente o aspecto civilizatório e patriótico, indo para o aspecto social e econômico de geração de emprego e renda”, pontua o ex-ministro ressaltando que o País possui 13 milhões de brasileiros desempregados.
O futuro da cultura no País foi tema de um encontro inédito realizado na última terça-feira (2) na USP, em São Paulo, no qual ex-ministros da Cultura de diferentes governos se uniram para apresentar um manifesto contra as atitudes do atual presidente Jair Bolsonaro.
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Impacto da cultura na economia
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Um dos pontos levantados por Marcelo é que sem o Ministério da Cultura e o incentivo da Lei Rouanet os museus serão prejudicados e os grandes espetáculos podem ser comprometidos e, mais do que isso, podem deixar de ser montados e gerar mais desemprego.
A limitação da Lei Rouanet impacta, por exemplo, os espetáculos musicais – que tiveram um notável crescimento nos últimos anos. Para exemplificar, o musical “ Sunset Boulervard ”, um clássico da Broadway de Andrew Lloyd Webber, capitou pela Lei de Incentivo à Cultura R$ 6,6 milhões. É um valor alto, mas apenas esse espetáculo da IMM e Egg Entretenimento emprega diretamente 147 pessoas e gera cerca de 400 empregos indiretos.
Fora isso, durante a temporada foram mais 27 mil ingressos doados como contrapartida social e mais de 20 mil ingressos disponibilizados a preços populares. Ao considerar todos musicais já montados por essa mesma empresa – “My Fair Lady”, “Cantando na Chuva”, “A Pequena Sereia” e “Sunset Boulevard” – foram mais de 2,1 mil empregos diretos e indiretos, 65 mil ingressos doados, 388 instituições contempladas e 88 mil ingressos com preços populares.
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Outro exemplo de musical que gera emprego e movimenta a economia é “ O Fantasma da Ópera ”, o maior sucesso de Andrew Lloyd Webber em cartaz na Broadway até hoje. Essa é a segunda vez que o espetáculo é montado no Brasil e para a atual temporada foi captado pela lei R$ 24 milhões. Para manter essa grande produção em cartaz, a T4F Entretenimento emprega diretamente 245 pessoas e gera mais 735 empregos indiretos.
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Marcelo acredita que esses números não podem ser ignorados. “Acho que é uma profunda incompreensão e uma falta de liderança. Trata-se de um retrocesso notável que não pode passar em branco”, enfatiza. O atual governo defende que projetos desse porte não precisam do dinheiro da Lei Rouanet para ser montados.