O teatro musical autoral no Brasil não é uma novidade, mas, mesmo com a popularização desse gênero teatral no país, ainda é tristemente raro ver produções totalmente autorais nos palcos brasileiros, entretanto uma jovem dupla vem tentando mudar esse cenário. Com texto de Vitor Rocha e músicas de Elton Towersey, chega ao teatro do Núcleo Experimental, em São Paulo, o espetáculo “Se Essa Lua Fosse Minha”, que indica o valor do musical nacional.
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O musical “ Se Essa Lua Fosse Minha ” conta a história de um povo que saí da sua terra para habitar outra já ocupada. Com diferenças de crenças e costumes, é criada uma divisão para que não aconteça uma guerra. Só que a curiosidade de dois jovens ameaça essa divisão, pois eles rompem as barreiras e se apaixonam. Para contar essa história de amor proibida entre Leila e Iago, o espetáculo mexe com o imaginário do público e se torna bem brasileiro ao explorar lendas folclóricas, cantigas e expressões passadas por gerações.
A história soa como poesia pura, mas Vitor brinca dizendo que é uma história mamão com açúcar. “Não diria que é simples, mas sim honesta, o texto é verdadeiro e isso torna fácil de entender. Acho que o segredo é que colocar coisas que eu acredito no texto”, comenta ao iG Gente . O que chama atenção é que os personagens do espetáculo foram muito humanizados e isso faz com que a narrativa não exija um clássico vilão para criar os conflitos da trama.
Além dessa humanização, outro detalhe importante é que o público vai se deparar com uma mocinha guerreira e desconstruída de padrões e quem carrega a missão de interpretá-la é a atriz Luci Salutes – que fez questão de raspar a cabeça para a personagem.
“A Leila é uma das minhas maiores inspirações, ela traz algo muito forte para mim que é a questão de acreditar em si mesma e ter coragem e estar sempre em busca de algo e o artista tem que ser assim”, afirma Luci. “Tem um trecho de uma música que ela diz que ‘tem muito mais se você ir além’ e, para mim, é um desafio olhar além das minhas limitações para o musical. Por isso, é importante trazer essa questão da diversidade e do respeito de forma tão fluida.”
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A trilha sonora original do espetáculo é outro grande acerto e uma agradável surpresa, pois existem muitos elementos e ritmos brasileiros nas canções que também não deixam de possuir todos os altos e baixos necessários para envolver o público em um musical – afinal de contas a música nesse tipo de espetáculo é fundamental para se entender a história.
Elton explicou que é um desafio realizar esse espetáculo de forma acústica, sem uma grande orquestra e alguns atores acabam tocando em cena. “Conseguimos deixar o espetáculo com cara de musical, mas não de um musical americano. Tocar em cena é um desafio, mas fomos experimentando para deixar organizado. Tem que saber caminhar pelas diversas possibilidades. Eu uso muitas referências dos musicais que já assisti e não me nego de olhar para o jeito americano e ver o que dá certo lá”, pontua.
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Um bom exemplo dessa mistura brasileira e americana é a música solo que a personagem Leila canta. “Virou um grande samba e ao mesmo tempo é uma música de princesa da Disney. Sempre falo para a Lucy que é como se fosse a música épica da Moana”, comenta Vitor que elogia o trabalho musical do parceiro.
Investimento necessário
O grande desafio de montar projetos autorais é a questão financeira. Competir com as conhecidas montagens da Broadway feitas no Brasil ou com peças com atores já muito populares é uma tarefa árdua e atrair um público para o teatro não é simples sem uma boa divulgação, mesmo assim os atores envolvidos no espetáculo acreditam nessa obra e, mesmo parte do elenco já estando em cartaz em outros musicais, eles resolveram abraçar esse projeto sem receber financeiramente por isso.
“Fico feliz de trabalhar com artistas brasileiros porque a Broadway é, sim, uma referência para mim, mas não é algo tão forte. Prefiro olhar para o teatro brasileiro e para esses artistas. O Vitor Rocha, autor do espetáculo, ele é tão jovem, mas tem tanta coisa para dizer, tem tanta coisa fervendo dentro dele, isso abre possibilidades e fico feliz de participar disso”, afirma o ator Arthur Berges, interprete de Iago.
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Parte dessa confiança do elenco se deve ao “Cargas D’Água – Um Musical de Bolso”, o premiado espetáculo escrito por Vitor que, inclusive, ganhou uma montagem em Nova York. Agora, em parceria com Elton, ele dá mais um passo com “ Se Essa Lua Fosse Minha ”, que fica em cartaz até 10 de julho com sessões terças e quartas-feiras às 21h.