Pode não parecer, mas “Green Book: O Guia” é o filme que despertou mais polêmica nessa temporada de premiações. O filme, importante frisar, não só não é polêmico como se esforça para desviar até mesmo da sombra de uma. Mas não teve jeito. Em um ano com poderosos filmes de diretores negros sobre racismo – dois deles também indicados a Melhor Filme – muita gente torceu o nariz para uma produção que aborda o racismo de maneira sutil e a partir da perspectiva branca.
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Dirigido por Peter Farrelly com elegância e firmeza, “ Green Book: O Guia ” mostra a relação atribulada, mas eventualmente afetiva, entre o músico Dr. Don Shirley (Mahershala Ali) e o ítalo-americano Tony Lip (Viggo Mortensen). O que está em questão no filme de Farrelly, que prontamente adota um tom conciliador tanto na proposta narrativa como no trânsito dos conflitos, é o olhar de um sobre o outro, o desmonte de expectativas e o reforço da ideia de que o preconceito é algo rasteiro e que deve ser combatido, principalmente de dentro para fora.
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Você viu?
Atacado pela abordagem superficial do racismo, o longa se viu no epicentro de polêmicas que não emanavam dele. Foram resgatadas declarações antigas de figuras da produção para sangrar as chances do filme no Oscar. De uma entrevista bem anos 90, em que Farrelly dizia que “mostrou o pênis” para Cameron Diaz no set de “Quem Vai Ficar com Mary?” a uma vez que Mortessen usou a palavra “nigger”, a internet se esforçou para escantear o longa na temporada.
Não deu certo, mas depois de vencer três Globos de Ouro, incluindo o de Melhor Filme em Comédia ou Musical, e o PGA, prêmio do Sindicato dos Diretores, o longa chega ao Oscar um tanto desidratado. Farrelly não foi indicado na categoria de direção e nem mesmo pelo viés da polêmica o filme parece ensejar alguma conversação no momento.
Por que Ganhar?
- É o candidato mais fácil de se gostar entre os indicados a Melhor Filme. Precisa ser muito quizumbeiro para desgostar da produção. Ano passado esse raciocínio vingou em favor de “A Forma da Água” que prevaleceu sobre candidatos mais polarizadores.
- As duas excelentes atuações transferem força para o filme e podem cativar o colegiado de atores, o maior da Academia.
- É um filme que aborda o racismo, ainda que de uma maneira superficial, mas é um filme com uma mensagem e casa bem aos tempos de “se premiar um filme que tenha uma mensagem importante”. Novamente, “A Forma da Água” é um exemplo aqui. Nos dois casos, a mensagem é de tolerância e contra o preconceito.
- Ganhou o PGA. Sete vezes nos últimos nove anos, a Academia agraciou o mesmo filme consagrado pelo sindicato dos produtores.
- A Academia adora uma reinvenção e Peter Farrelly aprontou uma daquelas. De diretor de besteiróis para filmes de prestígio em um piscar de olhos.
Por que Não Ganhar?
- Apenas três vezes um filme ganhou como Melhor Filme sem ter seu diretor indicado a Melhor Direção. Sob esse prisma, a perspectiva não é boa para o longa.
- “Infiltrado na Klan” apresenta uma perspectiva mais apaixonada e sintomática sobre o racismo e é de Spike Lee, um cara habituado a falar sobre o tema. Seria divisivo demais preteri-lo em favor de... um cineasta branco.
- Todas as polêmicas iluminadas na internet podem afugentar votos inconvictos no filme e afastar qualquer chance de vitória.
- Não foi indicado a Melhor Elenco no SAG e apenas duas vezes filmes que não tinham essa credencial triunfaram no Oscar: “Coração Valente”, em 1996, e “A Forma da Água”, em 2018.
- A percepção de que é um filme que se sustenta mais pelas atuações,devidamente reconhecidas com indicações, pode firmar o consenso de que o prêmio nessa categoria seria um exagero.
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“ Green Book: O Guia ” concorre a cinco Oscar no próximo domingo (24). Além de filme do ano, está lembrado nas categorias de Ator, ator Coadjuvante, Roteiro Original e Montagem.