Ainda é cedo para cravar onde “Vice”, novo filme de Adam McKay (“A Grande Aposta”) vai se assentar na tradição de grandes filmes políticos e sobre políticos dos EUA – que tem o cineasta Oliver Stone como um de seus mais insinuantes expoentes -, mas é certo que há lugar para o longa neste panteão.
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“ Vice ” aborda a trajetória política de Dick Cheney, vice-presidente dos EUA nos dois mandatos de George W. Bush (2001-2008) e teoriza sobre suas responsabilidades no desenho geopolítico do mundo como o conhecemos hoje.
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O Dick Cheney de McKay e de Christian Bale, que se transformou profundamente para o papel, é um tipo inconsequente que se identifica com a maneira truculenta de fazer política do republicano Donald Rumsfeld, vivido no filme por um histriônico Steve Carell.
O longa acompanha com idas e vindas no tempo todo o percurso de Cheney na política até se tornar o homem forte do governo Bush, sendo o responsável pelas políticas externa, energética e de defesa dos EUA. O filme literalmente coloca sobre seus ombros, nesse pervertido jogo dos tronos da política americana, a criação e ascensão do Estado Islâmico.
Liberalismo econômico
O filme ostenta uma crítica pesada ao liberalismo econômico e ao modo de fazer política nos EUA. A montagem ágil ajuda a lidar melhor com o acúmulo de informações na tela. O longa é quase uma tese acadêmica, ainda que apresentada com muitíssimo bom humor. O elenco e o roteiro afiado, bem como a inventiva direção de McKay, tornam a produção mais palatável para um público que não tenha tanta familiaridade com a política norte-americana.
Por que ganhar?
- É uma sátira política que condena veementemente o modo de pensar e agir de governos republicanos. Como Hollywood é majoritariamente democrata, o filme pode tanto simbolizar uma mensagem política de resistência a Trump, como se beneficiar desse raciocínio.
- Biografias costumam emplacar no Oscar. Não obstante, o filme ostenta um esforço de compreensão do mundo e dos EUA de hoje e em uma época em que a Academia se apresenta socialmente preocupada, isso pode ser apelativo.
- A figura extravagante e opulenta de Dick Cheney criada por Christian Bale causa certa sensação. Pode ser o suficiente para alavancar votos em uma categoria tão indefinida.
- É uma comédia que transita pelo drama e ganha ares operísticos. É um cinema ambicioso e galopante do tipo que a Academia gosta de prestigiar. É o grande “filme de Oscar” da temporada.
- A Annapurna Pictures, estúdio responsável pelo filme, já produziu outras boas produções indicadas a Melhor Filme como (“Ela” e “Trapaça”), mas nunca ganhou. A CEO e principal promotora do estúdio, Megan Ellison, é discípula de Harvey Weisntein e sabe como conduzir uma campanha.
Por que não ganhar?
- Ainda que tenha marcado presença nas principais premiações da temporada, o longa não ganhou nenhum prêmio de Melhor Filme.
- Christian Bale perdeu a pole position para Rami Malek na corrida pela estatueta de Melhor Ator e isso claramente repercute nas chances do filme na categoria principal.
- Dick Cheney não é uma figura querida e o clima talvez não esteja propício a reverenciar uma obra sobre um sujeito que todos estão tentando varrer para debaixo do tapete.
- O último filme abertamente de cunho político e com reminiscências políticas a vencer o Oscar de Melhor Filme foi “Platoon” (1987), curiosamente um longa de Oliver Stone, com quem McKay enseja comparações.
- É o grande “filme de Oscar” da temporada em uma época que a Academia parece resistente a consagrar esse perfil de filme.
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“ Vice
” está indicado a 8 Oscars no total: Filme, direção (Adam McKay), Roteiro Original, Ator (Christian Bale), Atriz Coadjuvante (Amy Adams), Ator Coadjuvante (Sam Rockwell), Montagem e Maquiagem.