Indicado a dez Oscars, incluindo Melhor Filme, Direção e Roteiro Original, “A Favorita” estreia nos cinemas brasileiros cercado de expectativas. O novo filme do grego Yorgos Lanthimos ("O Lagosta") é uma sátira política aguda e uma elaboração sagaz sobre o conflito entre ambições políticas e desejos pessoais tanto no foro íntimo como no esquadro de uma corte, no caso na Inglaterra em guerra com a França no início do Século XVIII.
Leia também: "A Favorita" satiriza jogos de poder na Inglaterra do século XVIII
Operístico e perverso, Yorgos Lanthimos ressalta o que de pior move aqueles personagens e o faz com indefectível prazer e senso estético. Olivia Colman é a rainha Anne, uma mulher que somatiza muita coisa e não parece talhada para o cargo que ocupa.
Sua principal conselheira é Lady Sarah (Rachel Weisz), que na prática impõe ao País e à guerra em que está envolvido os rumos que julga necessários. É a ela que as principais cabeças do parlamento se dirigem na expectativa de convencer a rainha. Tudo muda de figura quando Abigail ( Emma Stone ), uma prima distante de Sarah chega à corte. Originalmente como criada, a moça rapidamente conquista a afeição da rainha e passa a rivalizar com Sarah por sua atenção.
Essa disputa pelos mimos e ouvidos da rainha gera repercussões nefastas para o reino e isso é abordado de uma maneira muito criativa e perspicaz pelo roteiro de Deborah Davis e Tony McNamara.
A grande força do longa está justamente na maneira habilidosa com que flagra despudoradamente suas protagonistas. Todas vis nos pactos que tecem consigo mesmas para conquistar aquilo que mais querem. Os homens aqui são apenas coadjuvantes e toda glória e pecado são absolutamente femininos.
Leia também: Tom conciliador e atores memoráveis tornam “Green Book: O Guia” fácil de gostar
O grande filme de 2018
“A Favorita” tornou-se o 24º filme com duas atrizes indicadas na mesma categoria nos prêmios da Academia de Hollywood, no caso a de Atriz Coadjuvante que tem Rachel Weisz e Emma Stone. É a 19ª vez que um filme rende indicações a três ou mais atrizes. São estatísticas que ajudam a entender o quanto a produção é especial.
Leia também: “Creed II” supera estigma das sequências e anda com as próprias pernas
O texto inteligente, as atuações inspiradíssimas, a direção firme e conscienciosa de Yorgos Lanthimos
adensam a visão cínica de um filme que reconhece o ser humano por aquilo que ele é e se estabelece perenemente como uma análise fidedigna de suas circunstâncias.