Ela brilhou para grandes marcas e dominou as passarelas, mas foi ao exorcizar seus demônios através da escrita que ela chamou atenção da mídia. Transexual, Marcella Maia fez de suas dores uma trilogia de livros que deve ter sua primeira edição nas livrarias em 2019. Além disso, a vida da atriz-modelo rendeu uma série de TV, que ainda não tem data de estreia.
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“É difícil escrever minha história, apesar dos desafios, eu pretendo contar isso com alegria e brilho, eu quero passar a minha arte”, inicia a
transexual
ressaltando que “Translúcida”, a primeira obra da antologia deve chegar às livrarias em março de 2019.
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Vinda de uma família humilde e religiosa, que frequentava a Igreja Batista, Marcella Maia argumenta que ao contrário do que muitos pensam, a fé foi necessária para sua construção como pessoa, porém, quanto mais se descobria, mais as coisas se complicavam.
“Foi muito difícil, por que depois que eu comecei a me entender e compreender as coisas dentro de mim, eu me rebelei, e eu não tinha esse espaço para poder falar, naquele tempo a gente (trans) era muito marginalizada, e ainda somos”.
A transexualidade nos livros
De malabarista de farol até as passarelas, Marcella viveu muitas experiências, mas descobriu logo cedo que nasceu no “corpo errado”. Trabalhando desde seus 12 anos de idade foi apenas aos 20 que ela fez a cobiçada cirurgia de redesignação de sexo.
“Sempre fui mulher, desde que eu nasci e me entendo por gente, não é uma cirurgia nem qualquer outra coisa (procedimento ou adereços) que me farão mais ou menos mulher”.
Com 26 anos, Marcella terá sua vida contada em uma trilogia , ao falar de transexualidade em seus livros e a mensagem que pretende passar, a autora reforça que “o mais importante é poder abrir mentes com essa história”, tudo isso com intuito de realizar uma utopia pessoal.
“Acredito que seremos uma grande nação quando o ser humano olhar com empatia para o outro. O livro é um grande manual para pessoas trans e para aquelas que sempre se perguntaram: ‘como é a vida daquela pessoa?’”.
Em seguida, ela acrescenta: “Falar sobre esse tema é fácil, é meu corpo. Meu corpo em si é uma militância, é só colocar no papel minhas experiências de ter chegado até aqui e explicar como foi difícil”, disse a atriz que, apesar de querer passar boas energias, não esconde que pretende colocar a verdade nua e sem censura nas páginas embrochuradas.
A vida de modelo
Criada em Brasília, capital do País, foi apenas ao ser contratada como booker por uma agência de modelos que as coisas começaram a caminhar para artista - que trabalhou para grandes marcas e grifes europeias, incluindo a tradicional Versace.
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Assumidamente queer, Marcella faz questão de ressaltar que fez ótimos contatos na carreira fotográfica e que o "fator trans" trazia à tona muitos convites para ensaios sensuais e provocantes, mostrando o fascínio da sociedade pelo corpo que foge do cis gênero, ou seja, da pessoa que se identifica, em todos os aspectos, com o seu gênero de nascença.
International gurl
Mesmo vivendo anos a fio em Londres, o auge da carreira artística da brasileira aconteceu quando ela fez um ponta no blockbuster de sucesso “Mulher Maravilha”, protagonizado por Gal Gadot.
Responsável por dar vida a uma das amazonas, criaturas mitológicas empoderadas e guerreiras, Maia fala da experiência com ar nos pulmões.
“Eu nem estava acreditando que estava ali fazendo uma guerreira em um filme que só tinha mulheres maravilhosas. Apesar de terem cortado minha fala (por causa do inglês), a estrada do artista está em constante aprendizado e os dias que trabalhei ali foi o começo de um sonho”.
Falando sobre o aprendizado, ela declama: “O que eu trouxe do personagem foi o empoderamento que já existia dentro de mim. Até porque chega um momento na vida de uma trans que tudo pelo que ela passou torna-se força e autoconhecimento”.
A vida no teatro
A atriz, que foi introduzida à arte ainda quando frequentava a igreja, estará em cartaz, em São Paulo, com a peça “Roda viva”, de Chico Buarque, que volta a ser encenada por Zé Celso após 50 anos depois de sua estreia.
“Poder reviver uma peça que foi censurada na época da ditadura é incrível. o Chico é muito sensível e a peça é muito atual”, comenta alertando que nem tudo são flores no universo artístico nacional: “O teatro brasileiro tá passando com grandes dificuldades, ainda mais pelo momento político que estamos passando. como Fernanda Montenegro disse 'quando o teatro vai mal, o País vai mal'”.
Um talento (transexual) imparável!
Em breve estreando nos cinemas com o filme “Todos nós 5 milhões”, no qual interpreta Cristina Mortágua, mãe de Alexandre Mortágua, diretor da obra (e filho do ex-jogador de futebol Edmundo), Marcella demonstra grande apreço pela produção.
“O filme foi baseado no censo do IBGE de 2012, que mostra números absurdos de abandono de crianças”, com pesar, a artista se une a estatística: “faço parte desses cinco milhões”.
Ao falar sobre interpretar uma matriarca nos cinemas, a artista revela um desejo: “eu sonho em ser mãe, quero adotar, recentemente até li uma matéria falando que começaram os estudos para transplante de útero em mulheres trans. Ou seja, qualquer corpo pode receber um implante de útero”.
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Marcella , a transexual que define o mercado do entretenimento como uma “montanha-russa”, espera ajudar pessoas com sua obra, seja literária ou televisiva. Vivendo no Brasil, ela garante que está com uma agenda preenchida e instiga que em breve novidades virão.