Spike Lee volta à grande forma com “Infiltrado na Klan”, vencedor do Grande Prêmio do Júri em Cannes 2018. O longa-metragem, baseado em história real e adaptado do livro de Ron Stallworth, mostra como o primeiro policial negro de Colorado Springs, cidade do Colorado, nos EUA, se infiltrou no grupo supremacista branco Ku Klux Klan.
Fonte: Spike Lee alerta para ciclos do ódio no ótimo "Infiltrado na Klan"
Dirigido com vigor estético impressionante e um ponto de vista bastante específico, “Infiltrado na Klan” esmiúça o discurso de ódio mais popular da América e examina sua capacidade de aderência. Tudo com o cinismo e a ironia de um dos autores mais intransigentes do cinema americano.
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Ron, vivido com garra e obstinação por John David Washington, sofre por ser um negro na força policial duplamente. Por ser para-raios em uma corporação ainda à vontade com um racismo que lentamente deixa de ser institucionalizado por meio de leis e por ser um negro policial em um momento que todo e qualquer movimento negro se ressente da polícia.
Essa dicotomia é muito bem desenvolvida por Washington , que já havia chamado atenção na série da HBO “Ballers” e aqui tem sua primeira grande chance no cinema, e Lee. O cineasta nunca perde seu protagonista de vista e se esmera em sua capacidade de tolerância em um ambiente de tamanha conflagração para escorar a humanidade de seu filme, que não se avexa em apontar dedos para os muito culpados em uma história que, para Lee, se repete em ciclos.
O humor em “Infiltrado na Klan”
O domínio do cineasta sobre seu filme é vistoso. Ainda que estejamos no território do policial, o humor é uma ferramenta narrativa poderosa para Lee, que trafega entre o cartunesco e nauseante no registro que faz das tensões raciais na América dos anos 70. Nesse sentido, o trabalho do elenco é providencial para as pretensões da realização. A leveza e sagacidade que Adam Driver traz para seu policial judeu que colabora com Ron na investigação sobre o Klan pavimentam as escolhas estéticas de Lee, assim como o trabalho de Topher Grace, que satiriza Donald Trump com imaginação e desprendimento.
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O humor é justamente o elemento que favorece o impacto do desconcertante final de “Infiltrado na Klan” , onde o diretor é mais eloquente no retrato atemporal que pretende traçar da América. Eis um filme pulsante, imaginativo e com um debate em seu cerne que extrapola as fronteiras da cinefilia.