Considerado como a Netflix
do cinema e teatro, o Movie Pass oferecia uma assinatura de bilheteria para ter acesso a diversos filmes e peças nos EUA. Porém, as falhas sobressaíram a ideia principal, que não vingou e o serviço até então considerado revolucionário passou a enfrentar problemas.
Leia também: Aplicativo dedicado aos fãs de cinema promete facilitar a vida dos cinéfilos
O modelo de negócio Movie Pass surgiu nos Estados Unidos em 2011, em Nova York, onde permitia que os assinantes comprassem até três ingressos de cinema e teatros por mês por uma taxa mensal (cartão de débito pré-pago) através de um app. Porém, as mudanças foram tão confusas e irregulares que deixaram os usuários desgostosos.
Leia também: Aplicativos são a nova tendência para conquistar aficionados por séries
O Movie Pass está falindo antes mesmo do sucesso ?
A influência para a criação do serviço se deu pelo aumento de pessoas interessadas em assistir as produções hollywoodianas, principalmente após os investimentos nas histórias de super-heróis e reboots, que ocupam os primeiros lugares nas maiores bilheterias de todos os tempos. Nessa lista estão produções que arrecadaram bilhões como "Star Wars - O Despertar da Força" (US$ 2,06 bilhões) e "Vingadores - Guerra Infinita" (US$ 2,04 bilhões)
Entretanto, o sobe e desce dentro da empresa mostrou diversas falhas de planejamento do produto, estudo de mercado e público. Segundo o site americano Variety , em julho, a empresa pegou emprestado US$ 5 milhões porque precisava desesperadamente de capital, porém a situação não conseguiu melhorar nem um pouco.
No mesmo mês, anunciou que aumentaria as taxas de assinatura de US$ 9,99 para US$ 14,99, bloqueando os assinantes a comprarem ingressos de grandes lançamentos ainda na primeira semana de lançamento.
Nas redes sociais, os usuários mostraram imensa insatisfação com o serviço. "Como cliente pagante, gostaria que mais do que dois filmes estivessem disponíveis no cinema que escolher", "Eu abandonei o serviço há um mês por falta de honestidade, constantes mudanças negativas e a incapacidade de ver filmes. Se você está esperando o melhor, diria para você escolher outras opções como o AMC Theatres e Sinemia" e "Conserte seu serviço! Liberar mais filmes não vai te salvar", são alguns dos comentários.
Essas mudanças provocaram a venda de ações da empresa majoritária do grupo, a Helios e Matheson Analytics, que possuí 90%, fechando o mês numa queda de 38% e valendo US$0,49, mas em outrubro atingiu uma alta de mais de US$ 32.
Esse cenário vai de encontro ao início considerado inovador, que em um pouco mais de um ano atriu cerca de três milhões de assinates com uma proposta de valor irresistível - menor que o valor de um ingresso de cinema em mercados fortes como Nova York e Los Angeles, onde os usuários podiam ver um filme por dia durante um mês.
Estratégias confusas
As falhas e perdas de lucros começaram a ter assim mais espaço. O Movie Pass comprava ingressos de qualquer teatro e cinema que aceitasse os principais cartões de crédito, porém, tinha que pagar o preço total dos produtos que os seus clientes assistiam, significando que toda vez que alguém ativasse o serviço, a empresa perderia lucro.
À Variety , a empresa disse que existem muitas outras formas de gerar lucro, como arcando com o custo dos ingressos vendendo anúncios em seus serviços e fazendo parcerias com estúdios e expositores. No entanto, os dados apresentados pela Comissão de Títulos e Câmbio dos Estados Unidos (SEC) em meados de março do ano passado, revelaram que essa estratégia não impedia que a companhia ficasse com pouco dinheiro.
Outra justificativa para essa 'confusão' de preços está ligada a venda da marca para a Helios and Matheson, que fez uma parceria com Mitch Lowe, ex-executivo da Redbox e da Netflix, que estava a procura de novas projeções para um serviço que até então jogou dinheiro por água à baixo.
Abriu espaço para concorrência
Entrando no jogo em 2017, a AMC Theatres descartou a ideia apresentada e considerou o aplicativo como uma empresa pequena e um modelo de negócio insustentável. O novo concorrente apresenta serviços exclusivos e atrativos, como a compra de ingressos para assistir na primeira semana o filme "Venom", com estreia prevista para 04 de outubro, além de um quadrinho exclusivo do vilão da Marvel
A AMC também disponibilizou para seus assinantes há três dias antes da estreia oficial a produção "Nasce Uma Estrela", em 31 de agosto, com Lady Gaga e Bradley Cooper, e também o download completo de um álbum com as principais músicas do longa. O assinatura custa US$ 19,99 e permite que os assinantes vejam filmes em 3D, IMAX e outros formatos premium, como também até três filmes por semana e reservar assentos.
Em entrevista a publicação americana, Mitch Lowe disse que a sua empresa irá trabalhar com empresas concorrentes como a AMC, como também com as que disseram que nunca trabalhariam com eles. Entretanto, o cenário nada positvo diz o contrário, o serviço pode expirar a qualquer momento, seja por falta de assinantes, ou pela falta de investimento.
No Brasil daria certo?
O número de pessoas que frequentam os cinemas brasileiros cresceu mais de 60% nos últimos oito anos segundo dados do Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual (OCA). Divulgado em abril desse ano, o levantamento analisa os números de 2009 a 2017.
O total de público nas salas de cinema do Brasil em 2017 foi mais de 181 milhões de telespectadores, sendo a segunda maior desde que os levantamentos começaram a ser feitos em 2009, ficando atrás apenas de 2016 com 184 milhões.
Essa mudança de comportamento também sugeriu para a criação do Prime Pass, lançado em 2016, o serviço similar ao Movie Pass que abrange as principais redes de cinema como Cinépolis, Espaço Itaú de Cinema e PlayArte Cinema. Oferecendo dois pacotes com valores e exlusividades diferentes, o usuário escolhe o que mais se encaixa no seu perfil, baixa o aplicativo e aproveita as sessões.
Leia também: Inteligência Artificial pode prever se filmes serão sucesso de bilheteria ou não
O plano Duo, R$ 39,90 por mês, apresenta opções como assistir duas sessões de cinema por mês, podendo ser utilizado sozinho ou acompanhado. Já no plano Smart, R$ 69,90 por mês, o assinante pode assistir quantos filmes quiser mensalmente (sendo um diferente por dia) e também concorrer a uma pré-estreia exclusiva todo mês. Para adicionar serviços como salas VIP e filmes 3D, o custo é a parte, sendo sequencialmente R$29,90/sessão e R$5,90/sessão.
Visando um novo mercado que já é realidade em outras áreas como séries, transporte, alimentação, compras e tantas outras, a ideia do Movie Pass surgiu no embalo de proporcionar além de uma experiência, mas sim comodidade e exclusividades, o que até então apenas o serviço brasileiro está disponibilizando para os seus assintantes.