O cinema brasileiro vive uma bem-vinda fase de renovação e é neste contexto de expansão e reidentificação que surge “O Segredo de Davi”, primeiro longa-metragem de Diego Freitas . O suspense psicológico acompanha um jovem estudante de cinema, retraído e introspectivo que aos poucos vai se descobrindo um serial killer .
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“O Segredo de Davi” tem o mérito de se experimentar por um gênero muitíssimo pouco explorado no cinema brasileiro, mas o faz sem grande convicção narrativa. O roteiro, assinado pelo próprio Diego Freitas, abre mais portas do que dá conta de entrar e a direção é dispersa. O resultado é um filme que soma pretensão e estilo, mas carece de substância e elementos dramáticos bem delineados.
Nicolas Prattes, atualmente no ar na novela das 19h “O Tempo não Para”, vive o Davi do título e em muitas notas lembra a caracterização de Darren Criss de Andrew Cunanan em “The Assassination of Gianni Versace: American Crime Story”. No todo é uma atuação mais afetada e superficial do que ciosa das angústias e motivações do personagem.
Davi vive certa indefinição sexual e o filme relaciona esse conturbado momento com o encaminhamento de sua psicopatia, mas abandona a ideia logo adiante para abraçar um simbolismo de fundo psicanalítico que não se sustenta. As referências são óbvias demais e os conflitos de Davi jamais convencem a audiência.
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Em um dado momento, o filme resolve assumir que o personagem já é um serial killer consolidado e que atua para preservar seu segredo e, portanto, muda completamente a dinâmica da narrativa.
O elenco de apoio parece sofrer com as ilações do roteiro. Especialmente André Hendges, que cria uma figura enrijecida e ilegível, que se aproxima de Davi com intenções não totalmente perceptíveis. Sua composição do personagem é eventualmente justificada pelo roteiro, mas até este processo se dar o público já está afastado.
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Freitas tem ótimas ideias, mas não conseguiu executa-las de maneira que valorize sua obra. “O Segredo de Davi” deixa transparecer ser fruto de um cineasta promissor, mas que talvez tenha dado um passo maior do que a perna em seu primeiro filme. De todo modo, em um contexto essencialmente crítico, é este o tipo de ousadia e desprendimento capaz de levar o cinema nacional adiante.