Um dos mais icônicos e emblemáticos assassinos da cultura pop, Michael Myers está de volta em “Halloween”. O 11º filme da franquia, no entanto, desconsidera tudo o que veio antes e é uma continuação direta do original assinado por John Carpenter em 1978.
O novo “Halloween” começa com uma dupla de jornalistas tentando revisitar a tragédia na cidadezinha de Haddonfield, em Illinois, quarenta anos depois. Eles tentam, sem sucesso, contato com Myers no hospício em que ele está internado. Depois seguem para entrevistar Laurie Strode ( Jamie Lee Curtis ).
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“Não há novos ângulos a se explorar nessa história”, desabafa uma sisuda Laurie ante a insistência da dupla, que não parece ser muito boa em seu trabalho. David Gordon Green, diretor da nova empreitada, parece discordar de sua protagonista. No novo filme vemos como três gerações de mulheres são afetadas por um maníaco e esse ângulo é interessante de se explorar, assim como o é a abordagem dos espólios da violência, algo que Curtis notou durante a promoção do filme.
Green se diverte com o legado para o qual contribui com esse novo exemplar salpicando referências ao filme original, desautorizando fake news e aplicando sustos falsos na audiência. Seu Michael Myres, para todos os efeitos um sessentão, ainda ostenta um vigor inclassificável. Ele é uma presença etérea, maligna e assustadora.
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Já Laurie é recomposta por Jamie Lee Curtis como uma mulher traumatizada e que não consegue se desvencilhar do fantasma de Myers e que viveu toda a sua vida a reboque dessa realidade. É uma performance diferente dentro do contexto do gênero de horror e o novo “Halloween”, para todos os efeitos, é extemporâneo. Ele se assemelha mais aos slashers dos anos 70 e 80 do que a produção atual. Esse apelo à nostalgia do público, no entanto, tem seus custos. O filme tem excessos e o personagem do psiquiatra responsável pelo tratamento de Myers responde quase em sua totalidade por eles.
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As boas cenas de “Halloween”
As mortes de babás, os dentes e a resistência física de Myers são elementos que não poderiam faltar no novo filme e eles estão lá junto com boa cota de cenas ‘creepies’ – como a que abre o filme – que ajudam a tornar a experiência mais satisfatória para quem estava com saudades da franquia.
Produzido pela Blumhouse, que se tornou referência no gênero, o longa é menos ousado do que aparenta ser e um bom parâmetro disso pode ser extraído das duas oportunidades em que Myers tem a chance de matar crianças. Há, porém, ótimas cenas que flertam com o gore. Uma em um banheiro de posto de gasolina e outra quando Mayers ataca uma babá que é amiga da neta de Laurie. São cenas em que, além da tensão muito bem construída, as soluções visuais são engenhosas.
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O novo “Halloween” se propõe a ser definitivo, mas permite divagações. Especial atenção à trilha sonora, composta pelo próprio John Carpenter, é recomendável. O cineasta trabalhou em cima das composições que ele mesmo fizera para o original e ajudou a tornar a nova incursão pelo universo de Michael Myers mais eletrizante.