Na última terça-feira (09) o músico Roger Waters se apresentou em São Paulo e, entre clássicos do Pink Floyd, fez manifestações políticas , inclusive defendendo o movimento “Ele Não”. Criticado pelo público presente, ele chegou a ser vaiado por muitas pessoas que não são adeptas do conceito de que o rock é um movimento de resistência, como o próprio cantor afirmou no telão com a palavra “resista”.
Waters, que há 53 anos fundou o Pink Floyd, entrou para a história da música com “The Wall”, disco de 1979. Junto com seus companheiros de banda ou em carreira solo, seu legado é a prova viva de que o rock é um movimento de resistência , seja nas letras de suas músicas ou em suas atitudes ao longo da carreira.
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Ferrenho crítico do Governo de Israel e sua relação com o povo Palestino, ele já chegou a pedir em carta que Caetano Veloso não se apresentasse no país. Tanto em seu show por aqui quanto em outras apresentações pelo mundo, já fez duras críticas às políticas de Trump, chamando-o de ignorante e racista. “A música é um lugar legítimo para se protestar. Os músicos têm o direito e o dever de abrir suas bocas e falar”, já chegou a declarar.
O rock é um movimento de resistência
Embora tenha ganhado popularidade entre os ingleses, a essência do rock surgiu como uma vertente do blues e do R&B americano no final da década de 1940 e começo da década de 1950. Estilos populares entre os negros, o som baseado nas guitarras elétricas tem como percursores nomes como Chuck Berry, Ike Turner, Little Richard e Bo Diddley.
Mesmo sem a intenção de ser um estilo de música político, a segregação racial e a exclusão de minorias, somadas aos conflitos na Europa não permitiu que o rock fosse aleatório as injustiças sociais. E assim o ritmo continuou nos anos seguintes, acompanhando as transformações sociais na década de 1960, período da Guerra no Vietnã que acabou com a população americana clamando por paz.
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Nessa época os Beatles cantavam que “tudo o que você precisa é amor”, e os Sex Pistols pediam que “Deus salvasse a Rainha e seu regime fascista”. Em meio a Guerra Fria, o The Clash avisava que “a era do gelo estava chegando” e Londres chamava para a batalha.
Nos anos 1980, o Brasil foi tomado também pela onda do rock e vimos muitos artistas questionarem a situação política brasileira em suas letras. “Mas o Brasil vai ficar rico/
Vamos faturar um milhão/Quando vendermos todas as almas/Dos nossos índios num leilão”, dizia Renato Russo em 1987. Enquanto isso, os Titãs questionavam a violência policial no disco “Cabeça Dinossauro”, lançado em 1986.
Roger Moreira, hoje apoiador de Jair Bolsonaro, é a prova viva da existência do rock como resistência. Quando surgiu no começo dos anos 1980, o Ultrage a Rigor era crítico a...bom, basicamente tudo. Criticavam a maneira como o brasileiro consumia TV, música e notícias. “A gente não sabemos escolher Presidente”, clamava Roger na faixa Inútil, que virou referência para os brasileiros que lutavam pelas “Diretas Já” em busca de seu primeiro voto.
Rock é de direita ou esquerda?
É impossível caracterizar um estilo musical tão amplo e com tantas vertentes dentro de uma “caixa” da direita ou esquerda. A ideia de que o rock tem posicionamento político cai por terra quando vemos que, na verdade, uma das principais funções do estilo ao longo dos anos foi de ouvir.
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Ouvir o que seus fãs passavam. Ouvir o que seus desafetos diziam. Compreender o sistema e a sociedade onde estavam inseridos e, dentro disso, servir como contestadores, questionar o governo e as condições às quais esses grupos eram submetidos. O rock é um movimento de resistência . E sempre vai ser.