Todo ano é a mesma coisa. Chega o Dia Mundial do Rock e vemos mil artigos sobre como “ o rock morreu ”. De fato, vemos nos últimos anos uma decaída do gênero, enquanto outros prosperam, como o pop, rap e, no caso do Brasil, o pop sertanejo.
Mas, o estilo musical que já tem ares de “clássico” segue vivo, se não repaginado, no imaginário dos saudosos dos ídolos do passado e, principalmente, em quem ainda persiste no rock e garante que ele terá sim vida longa e próspera, mesmo que não da maneira a que nos habituamos.
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Para celebrar a data e dar o devido amor e carinho que o gênero merece, listamos algumas evidências que provam que o rock, mesmo que mude, não morrerá nunca.
As mulheres no rock
A baiana Pitty anunciou recentemente seu retorno aos palcos. Em setembro ela lança disco novo e, se seu primeiro single Contramão dá alguma indicação, seu som vem renovado e bem acompanhado. Ao seu lado na faixa está Emmilly Barreto, uma das vozes mais potentes do rock atual brasileiro. A natalense que está à frente do Far From Alaska tem a mistura inabalável de timidez com uma presença de palco marcante que fazem dela rock em seu estado mais puro.
E elas não estão sozinhas. Karina Buhr é outro destaque da cena, assim como Supercombo, Franciso El Hombre e Carne Doce, todas bandas que contam com mulheres, nos vocais ou instrumentos (ou os dois), provando que a nova leva do rock tem mais espaço para as mulheres.
O novo rock nacional em ótima forma
Falando em Far From Alaska, a banda faz parte da nova safra do rock nacional que, mesmo não tendo o destaque de bandas no passado, não deixa nada a desejar. A banda lançou em 2017 seu segundo disco, “Unlikely” e já rodou festivais mundo a fora. Saídos de Brasília, o Scalene foi a única banda nova a se apresentar no maior palco do Rock In Rio. Na mesma época que o FFA eles lançaram um dos melhores discos do ano, “Magnetite”.
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O Terno, com a capacidade criativa absurda de Tim Bernardes, Boogarins, Selvagens a Procura da Lei e Medulla são mais exemplo que mostram que o rock está longe de morrer por aqui.
Festivais nacionais
O Lollapalooza e o Rock in Rio preenchem a cota de grandes bandas internacionais. Mas, para quem quer curtir sem pagar os preços abusivos, ou já cansou de assistir a 15ª performance do Guns’N Roses sem disco novo, o circuito nacional de festivais só cresce.
Alguns, já estabelecidos como o João Rock em Ribeirão Preto (SP) seguem inovando no line-up e garantem música boa para todos os gostos. Esse tipo de evento oferece possibilidades distintas para um público distinto (Raimundo e Caetano Veloso no mesmo evento é, no mínimo, curioso), mas também oferece visibilidade para novas bandas.
Do norte ao sul do Brasil, os festivais ganham a programação das cidades o ano todo, e se tornam uma plataforma para os roqueiros. Eles podem não ter a popularidade de bandas de outras épocas, mas isso talvez ninguém mais tenha. Com esses eventos, pelo menos, eles conseguem encontrar seu público.
O Läjä Festival foi um sucesso em Vila Velha (ES) e já tem edição de 2018 confirmada. O Circadélica cresce a cada ano em Sorocaba, interior de São Paulo, enquanto o Dosol já é tradição no nordeste, tomando Natal em novembro.
Recife tem o Abril pro Rock, Goiás o Goiânia Noise. Em 2017 o Festival Tenho Mais Discos Que Amigos! levou alguns dos maiores nomes do momento para Brasília, enquanto o Bananada, também em Goiânia, já superou as 20 edições. Pelo Brasil, esses eventos fazem o que os grandes não querem: dão visibilidade para a nossa música e oferecem entretenimento fora do eixo Rio-São Paulo.
Artistas se redescobrindo
Recentemente o Arctic Monkeys lançou um disco que buscou se distanciar de seus sons do passado. Há poucos anos, o Kings of Leon apostou em suas raízes country para criar “Mechanical Bull”. Em 2017, o Paramore investiu nas letras melódicas e melodias felizes para compor “After Laughter”.
Esses são só alguns exemplos de bandas de rock que buscaram, em seus últimos trabalhos, criar algo novo. O resultado pode não ser necessariamente rock em sua base mais crua, mas é sim, em sua essência. Esses artistas não têm medo de se desafiar e a ideia é que, no futuro, essas reinvenções se tornem comum, justamente conforme os artistas buscam sair da mesmice. Assim, o rock vai ganhando novos contornos constantemente e não morre, só se renova.
Novos tempos, novos sons
Não dá para falar sobre a mudança no rock sem ponderar algo que parece óbvio: os tempos mudaram. A maneira como consumimos música, a rapidez da internet, a efemeridade das artes em geral fazem com que a relação que temos com a música seja distinta da que tínhamos no passado.
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Todo mundo conhece uma história de alguém que teve que esperar meses até o vinil chegar na loja para ouvir uma música nova, ou até mesmo foi essa pessoa. Hoje, porém, a música está a alguns cliques de distância. Isso permite que você ouça toda a discografia do seu artista favorito em algumas horas, mas também que você se canse rapidamente.
Os tradicionais riffs de guitarra vão ganhando novos contornos conforme as bandas vão expandindo as barreiras do rock e misturando com outros estilos. O Planet Hemp fez isso, assim como a Nação Zumbi e hoje, mais ainda, vemos essa barreira se desfazer. Um dos maiores exemplos dessa “mistura” é o Baiana System, que acaba de ganhar a abertura da novela das 21h, “Segundo Sol”.
Junto com eles, Francisco El Hombre, Curumin, Mombojó e Liniker e os Caramelows são alguns dos artistas que buscam resignificar a música brasileira, somando estilos e criando um novo cenário onde entra o rock, mas também o samba, o rap, o axé, e o que mais representar nossa música tão única.
O rock morreu?
Talvez esse não seja mesmo o momento do rock prosperar. O gênero, no geral, sempre foi relegado a homens héteros brancos, e o que vemos hoje é um novo desejo, um cenário que inclui Pabllo Vittar, Iza e Johnny Hooker, que fazem sons que não poderiam estar mais distante do rock, mas que representam toda a rebeldia e atitude que acompanhou o rock’n roll por tantos anos.
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Talvez o legado do rock seja esse mesmo. A música, claro, não vai acabar, porém talvez nunca mais vejamos outro Led Zeppelin, outro Beatles, outro Nirvana. Mas, o legado desses artistas permanece, da mesma forma que outros surgem. Até por que, enquanto um menino ou uma menina ainda olharem com carinho para uma guitarra elétrica e sonharem em empunhá-la em cima de um palco, o rock não morrerá jamais.