“Dá uma estudadinha antes, por favor”, esse é o aviso que a contagiante música inicial do espetáculo dá ao público, mas calma que o musical “Natasha, Pierre e o Grande Cometa de 1812” não é tão complicado quanto parece. Totalmente fora do convencional, a peça transporta o público para um bar russo do século 19 para poder contar a história de um amor proibido com conflituosos encontros e desencontros.
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O espetáculo, que pode ser chamado apenas de “ O Grande Cometa ”, foi criado por Dave Malloy a partir de um trecho do romance “Guerra e Paz”, de Liev Tolstói. São muitos personagens e muitos nomes para decorar, mas os centrais são Natasha, que está noiva de Andrey, mas se apaixona pelo sedutor e comprometido Anatol. Já Pierre, é um nobre russo que se sente infeliz por não entender o sentido da vida frente a tanta futilidade que vê a sua volta e é justamente ele quem acaba interferindo no romance de Natasha e Anatol.
Quando assistiu esse musical na Broadway pela primeira vez, o diretor Zé Henrique de Paula se encantou logo de cara e junto com Fernanda Maia, que cuida da direção musical do espetáculo, passou a lutar para trazer “O Grande Cometa” para o Brasil.
O espaço traz uma proximidade com a plateia, algo que chamamos de teatro imersivo, uma vida nova para o teatro musical no Brasil
“Várias coisas me atraíram nesse musical, a primeira delas é a matéria prima, ‘Guerra e Paz’, que é um romance icônico, uma das obras mais importante da literatura russa e mundial. Em segundo lugar, a música, muito peculiar que mistura gêneros e cria uma obra que é inteiramente cantada, do começo ao fim, com reviravoltas a todo momento, é eletrizante”, comenta o diretor ao iG.
Por fim, outro aspecto que encantou Zé Henrique, e também vem encantando o público, é o espaço em que o musical é apresentado. A divisão entre palco e plateia não existe e o 033 Rooftop, que fica no topo do Teatro Santander, no shopping JK Iguatemi, em São Paulo, foi transformado em um bar russo cheio de passarelas para que os músicos e atores fiquem espalhados e em contato com quem está assistindo.
“O espaço traz uma proximidade com a plateia, algo que chamamos de teatro imersivo, uma vida nova para o teatro musical no Brasil. O formato traz uma novidade e a plateia tem mostrado que gosta da interação, da proximidade e de ver as expressões dos atores de perto”, afirma do diretor que também ressalta que essa é a primeira vez que o musical é licenciado para ser montado fora dos Estados Unidos.
Para conseguir tal feito, Zé Henrique afirma que mostrar o elenco protagonista para os detentores dos direitos do musical foi algo fundamental. A convidada para ser a Natasha foi a atriz Bruna Guerin, que vem se destacando no gênero e concorre ao prêmio Bibi Ferreira de melhor atriz por “Cantando na Chuva”. Ela confessa não conhecia muito do espetáculo, mas se apaixonou pelo “O Grande Cometa” ao ouvir a primeira música e, hoje, é seu musical favorito.
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“A Natasha interage consegue interagir com o público quando ela está contando a história dela, ela conta o que está sentindo e acho isso de uma poesia absurda, pois o público sabe exatamente como ela está. É muito especial quando o personagem pode narrar isso, ainda mais nesse espetáculo em que cada personagem tem um ponto de vista diferente da mesma história”, fala Bruna ao iG.
Ter essa proximidade com o público e ainda se apresentar em um palco fora do convencional traz novos desafios para a atriz que recentemente protagonizou dois musicais clássicos. “Tem gente que realmente se sente dentro da peça e tão próxima dos personagens que chegar a fazer comentários. Tem uma cena que o Anatol seduz a Natasha e ela sai meio extasiada, ai outro dia teve um cara que me disse: ‘Calma Natasha, vai ficar tudo bem’”, lembra a atriz aos risos.
Foi justamente essa diferente forma de fazer musical que encantou André Fratechi, que vive Pierre, seu primeiro papel nesse gênero teatral. “O musical clássico não me seduz muito, é um jeito de fazer um pouco antigo que não me atrai. Só que surgiu ‘O Grande Cometa’ na minha vida, que é, em todos os sentidos, um espetáculo muito diferente do que estamos acostumados a ver”, relata o ator.
As músicas, a história, a ousadia do espetáculo, o cenário e a direção nacional conquistaram André que garante estar adorando se contradizer e viver essa nova experiência na carreira. “Estamos muito perto do público, muitas vezes, no meio da cena, a gente cruza o olhar com uma pessoa que está sentada e aquilo interfere no jeito que você está fazendo, te contamina de um jeito bom. É desafiador como ator, não temos um ponto de fuga, não tem como virar de costas para o público, o público também fica muito ligado, isso me fascina bastante.”
Gabriel Leone completa o trio protagonista na pele de Anatol. O ator sempre foi apaixonado por música e está em seu primeiro grande papel em um musical. A rotina de ensaios foi complexa porque precisou conciliar com as gravações do filme “Eduardo e Mônica” em Brasília. “Não consegui estar aqui no dia a dia, ensaiava as músicas, vinha a São Paulo quando dava, nas minhas folgas”, conta ao iG.
Conhecido por seus papéis na televisão, o ator, assim como Frateschi, mostra em cena que está muito bem preparado para dividir o palco com atores veteranos em musicais. “Está sendo divertidíssimo voltar para o palco, num musical todo cantado, baseado num grande clássico e ainda mais em um formato tão diferente assim. Eu comecei no teatro, minha maior escola e pretendo nunca abandonar”, enfatiza Leone que criou seu Anatol mesclando traços da nobreza e da boemia cigana.
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Outra novidade é que, antes do espetáculo, o público pode aproveitar para degustar pratos típicos russos e entrar ainda mais no clima do musical. Essa atração é opcional, não está inclusa no valor do ingresso e é comandada pelo Chef Mario Azevedo. “ O Grande Cometa ” fica em cartaz até o início de novembro e não foi descartada pela produção uma possível prorrogação da temporada.