Era uma vez uma Gata Borralheira ingênua que sonhava em encontrar um príncipe encantado para se casar. Isso acontece depois que ela vai ao baile e perde seu sapatinho de cristal. Quem for assistir “Cinderella, o Musical” com essa ideia será surpreendido – positivamente – ao encontrar uma princesa que luta pelos direitos do seu povo e um príncipe muito mais ativo na história e que é a favor da democracia.
O espetáculo tem um tom atual e provocativo sem deixar o encanto dos contos de fada de lado. Depois de uma temporada de sucesso em 2016, “ Cinderella, o Musical ” ganhou uma versão pocket, saiu em turnê pelo Brasil e, após passar por diversas cidades brasileiras, voltou para São Paulo para uma curta temporada no Theatro Net, e o sucesso de bilheteria se repete.
Para conseguir rodar o Brasil com o espetáculo, a produtora Renata Renata Borges, da Touché Entretenimento, precisou condensar a mega produção que foi vista há dois anos no Teatro Alfa. “Os cenários do Cinderella equivaliam a oito caminhões, hoje em dia, não tenho como viajar com isso porque vou tornar o meu orçamento monstruoso e não vou ter patrocinadores que abracem a causa”, diz explica Renata em entrevista ao iG.
Por conta disso, boa parte do cenário físico deu espaço a grandes projeções. Além das mudanças de cenário, houve trocas no elenco protagonista. A personagem título, que foi vivida por Bianca Tadini, agora é interpretada pela atriz Lia Canineu – que já está em seu quinto musical, mas começou justamente em Ciderella fazendo cover da personagem na qual hoje é a titular.
Durante o musical a atriz tem cerca de sete trocas de roupa, sendo que algumas acontecem em cena, como quando a fada madrinha, vivida com propriedade pela talentosa Ivanna Domenyco, transforma a Gata Borralheira em uma bela princesa. Entretanto, o vestido e o sapatinho de cristal não deixam a protagonista, e também a história, cair no clichê.
“É uma Cinderella emponderada, gosto de definir ela como ativista. Ela era muito moderna para sua época, pensava lá na frente e foi influenciando outras pessoas. É uma história diferente do original da Disney, diferente do livro e de tudo o que vimos da personagem”, conta a protagonista ao iG.
Lia vive seu primeiro grande papel demonstrando doçura e atitude e isso prova que ela está extremamente à vontade na pele da personagem. “Sonhava em ser uma princesa, acredito que é o sonho de muita atriz, não só ser a protagonista, mas ser uma personagem de fala de coisas tão boas.”
Em "Cinderella, o Musical", o princípe luta pela democracia
Outra escolha certeira no elenco é o ator André Loddi, que vive o príncipe Topher, anteriormente interpretado por Bruno Narchi. Galã, atrapalhado e com forte senso de justiça, o príncipe ganhar força na história e chama atenção por lutar pela democracia no seu próprio reinado.
“Essa adaptação é muito assertiva , ela sai um pouco desse conto de fadas de que a Cinderella vai pro baile arrumar marido. Na verdade, ela vai para falar pro príncipe o que está acontecendo no reino”, afirma o ator. “Mesmo sendo um infantil, trata de problemas sociais. Ele é um príncipe que acaba sendo de esquerda, que questiona o próprio reino, tem uma crise de identidade porque está cercado de bajuladores e não enxerga a realidade do próprio povo.”
Paralelo a esse trabalho, Loddi está em cartaz com outro musical, “O Pacto”, no Teatro Porto Seguro, em São Paulo. “É uma loucura conciliar dois musicais, é um aprendizado muito grande porque são antíteses. No Pacto, eu faço um psicopata que tem prazer em matar crianças e aqui faço um príncipe que é bondoso. Como ator eu tenho que focar muito para não deixar um personagem interferir no outro”, conta ao iG.
Os toques de humor deixam a história ainda mais leve e, claro, muito divertida. A madrasta da Cinderella, por exemplo, virou uma cômica vilã e é interpretada pela atriz Talitha Pereira. “Está sendo super divertido porque a vilã te dá possibilidade de tirar o riso de coisas que seriam trágicas. O humor é fundamental, metade das minhas cenas é baseada na comédia, se não cairíamos num drama, mas a intenção é ser algo para a família”, aponta a atriz que divide ótimas cenas com as irmãs da Cinderella.
Quem dava vida a madrasta em 2016 era a atriz Totia Meireles e, nessa época, Talitha já fazia parte do elenco do musical . “Mesmo que eu quisesse, não tinha como não me inspirar na Totia porque eu a vi construindo essa madrasta, ela é genial. Em teatro musical, também tem a questão do tempo, as montagens são muito rápidas, então quando entra um ator novo não dá tempo de construir do zero”, afirma a vilã que que não deixou de colocar seu tempero na personagem.
A curta temporada de “ Cinderella, o Musical ” vai até o dia 30 de setembro e a produtora do espetáculo garante que não tem a possibilidade de prorrogação. “É nossa cidade de despedida. Eu agradeço São Paulo e todas as cidades que tivemos, pela acolhida, pelo retorno e por todos os aplausos”, finaliza Renata.