Guillermo Del Toro, vencedor do Oscar no começo do ano pela produção "A Forma da Água" na categoria de Melhor Filme, falou sobre a desigualdade de gênero e filmes de operadoras de streaming, como Netflix e Amazon, que estão concorrendo ao Leão de Ouro no 75ª Festival Internacional de Cinema de Veneza. O festival irá até 8 de setembro.
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Guillermo Del Toro , que é presidente do júri no Festival esse ano, em entrevista a revista Variety , falou sobre a pouca presença de mulheres concorrendo ao prêmio. "Eu acho que o objetivo tem que ser 50% (de filmes dirigidos por mulheres) até 2020. Se conseguirmos alcançar até 2019, ainda melhor", comentou o cineasta.
O diretor também disse que a questão não é estabelecer uma 'cota' específica dedicada as cineastas femininas."Esse é um problema de verdade na nossa cultura em geral. Muitas das vozes que precisam ser ouvidas não estão sendo ouvidas. Não é uma questão de estabelecer uma 'cota', mas uma questão de se sincronizar ao tempo em que vivemos, ao momento em que estamos tendo essa conversa".
Continuando: "Eu acho que isso é necessário há décadas, senão séculos. Não é uma polêmica, é um problema de verdade". Pelo segundo ano seguido, a seleção principal do Festival de Veneza tem só um filme dirigido por mulher: "The Nightingale", de Jennifer Kent.
Representatividade feminina no jurí do Festival de Veneza
O mexicano também falou sobre a representatividade feminina em todos os departamentos, inclusive na bancada de júris, que esse ano incluiu nomes como o diretor Taika Waitit ("Thor: Ragnarok"), a atriz Naomi Watts ("King Kong"), a diretora polonesa Malgorzata Szumowska ("Body") e a atriz e diretora francesa Nicole Garcia ("Um Instante de Amor").
"A composição do júri é de cinco mulheres e quatro homens, e é sobre trazê-lo de forma significativa quando a conversa está em um estágio significativo, como é agora. Isso não é um gesto, é uma necessidade", disse.
Alberto Barbera, diretor artístico do evento, também falou sobre a falta de diretores do sexo feminino durante uma entrevista. "Nós não olhamos para o filme dizendo: 'Quem fez isso?' Nós olhamos para o filme. É uma forma de máximo respeito onde os melhores filmes ganham". Porém, causou polêmica ao dizer que se demitiria caso uma "cota de diretoras mulheres" fosse imposta à seleção.
Ainda segundo a Variety , uma carta oficial prometendo o aumento da representação feminina em Veneza deve ser assinada pelos diretores do festival ainda nesta semana.
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Guillermo Del Toro como presidente do jurí e filmes concorrentes
Julgando os filmes - que incluem "Roma", do colega mexicano Alfonso Cuaron , Del Toro disse que ser membro do júri "é um pacto com o cinema que vai além do aspecto comercial e cultural": "É uma experiência única. Você sabe que pode mudar a vida de alguém, então todos concordamos que nossa tarefa é muito séria. Temos que ter muito cuidado. Isto é muito importante."
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Sobre a relação com o diretor Cuaron, ressaltou que é um profissional e que não importa se o filme vem do seu país de origem ou de outro lugar do mundo. “Eu não sou um ditador no júri, sou apenas o presidente. Eu tenho um papel importante, mas é um papel importante porque eu sou um adulto, eu sou um profissional. (...) Há um grande consenso entre nós de que não importa se um filme vem da Austrália ou do México ”.
Sobre os filmes produzidos por famosas plataformas de streaming que estão concorrendo a estatueta como Netflix concorrendo com “Roma”, de Alfonso Cuarón, “The ballad of Buster Scruggs”, de Ethan e Joel Coen e pela Amazon, com “Peterloo”, de Mike Leigh, e “Suspiria”, de Luca Guadagnino, o diretor disse que "os filmes devem ser julgado por sua qualidade narrativa e cinematográfica, e não pelo método que ele é difundido ou consumido".
Por fim, Guillermo Del Toro disse que espera ser "surpreendido e descobrir coisas novas". "A função de jurado renova o pacto com o cinema, não somente comercial e artístico, mas também pessoal. Porque alguns filmes podem impactar a vida das pessoas", concluiu.