O espetáculo “A Porta da Frente”, escrito por Julia Spadaccini e com direção de Marcelo Varzea, está em cartaz em São Paulo, no teatro Renaissance, abordando dois assuntos importantes : as relações familiares de uma família tradicional e o preconceito contra um “crossdresser”, pessoa que gosta de usar roupas do sexo oposto, apenas isso.
Em "A Porta da Frente ”, Rui e Lenita estão em um casamento morno e vivem frustrados com a união e seus trabalhos. Eles são pais de um casal de gêmeos, dois jovens estudantes. Na casa da família ainda mora Dona Marilu, mãe de Lenina, que sofre de Alzheimer, ou não. Bem, a vida de toda essa turma muda quando Sacha, um crossdresser se muda para o apartamento da frente.
A partir daí, a peça começa a mostrar o preconceito que o rapaz acaba tendo que enfrentar dessa família, que não vive uma boa relação. Em entrevista ao iG, Miriam Mehler, a Dona Marilu, conta um pouco sobre sua personagem. “Faço uma mãe e uma avó e ela de vez em quando tem um Alzheimer. E fala sempre, confunde as pessoas, mas, na verdade, é a única que não tem preconceitos, ela em primeira instância leva um susto, depois se torna a mais avançada da turma”, comenta ela.
Para Miriam, sua personagem é muito encantadora e o fato dela ter Alzheimer deixa tudo em um tom de comédia. "Você nunca sabe se ela esta falando porque está com Alzheimer, ou se está falando a verdade", explica. "É um personagem pequeno, mas fascinante".
Sandra Pêra, a Lenita na peça, também falou de sua personagem, que por viver em um relacionamento morno, acaba descobrindo o mundo virtural e fica encantada, indo parar em um site de encontros. "Ela tem um namoradinho virtual e fica deslumbrada com isso", conta.
Apesar disso, Lenita não tem coragem de acabar com seu casamento de anos, mas continua mantendo contado com seu amante virtual, mesmo dando a entender para a mãe que não está nada feliz com seu relacionamento. Inclusive, Dona Marilu sugere que ela dê uma escapadinha.
Sandra vê o novo vizinho como um homem que vai modificar cada membro de sua família: "Ele é um professor de canto e um homem que gosta de se vestir de mulher. Ele modifica tudo, porque todo mundo tem muito preconceito", continua a atriz.
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Ao falar de seu personagem, Roney Facchini, que interpreta Rui, mostra o quanto realmente sua família é daquelas bem tradicionais: "Ele é um personagem popular, uma pessoa muito profunda, que tem uma vida comum e previsível. É um corretor de imóveis que sustenta a família com muita dificuldade", explica. "Ele não consegue nem levar a esposa no cinema para você ver como a grana é curta. E o sonho dela é ir ao cinema, comer pipoca e tomar refrigerante".
De acordo com o ator, esse cotidiano é abalado com a chegada do vizinho, de quem Rui acaba se aproximando. "Ele (Rui) vira outra pessoa, vira uma pessoa aberta e, por isso, se torna uma pessoa incompreendida dentro de casa", completa.
Preconceito em "A Porta da Frente"
Os três atores concordam o quanto é importante falar do preconceito, seja ele qual for. Para Miriam, as pessoas saem da peça pensando por que as pessoas têm que ter tanto preconceito, quando aquelas que sofrem acabam fazendo bem para os outros. "Essa peça mostra exatamente isso: uma pessoa que é descriminada e que faz muito bem às pessoas", comenta. O preconceito em qualquer nível e situação é péssimo e as pessoas saem pensando nisso, embora se divirtam muito", completa.
Já Sandra, faz questão de elogiar Julia, autora do espetáculo, e a forma como ela escreveu o texto. "O público senta ali e percebe tudo, entende, se identifica. Todo mundo sabe o que é o preconceito e é mentira quem disse que nunca teve preconceito. De alguma maneira já teve."
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Roney finaliza falando que a ideia de fazer " A Porta da Frente " para Julia Spadaccini e Marcelo Varzea veio exatamente para falar de preconceito. "A importância é máxima, é 100%. Nós estamos a beira de um colapso e temos que alertar nossa sociedade contra possíveis passos atrás. O Brasil é um país moderno, jovem, existe a liberdade, mas ainda tem uma ameaça", finaliza.