A peça "A Porta da Frente", de Julia Spadaccini
e direção de Marcelo Varzea,
está em cartaz no teatro Renaissance, em São Paulo, misturando dois assuntos importantes: as relações familiares de um casal que vive um relacionamento morto e o preconceito contra um “crossdresser”, pessoas que gostam de usar roupas do sexo oposto.
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Inclusive, Julia conta em entrevista ao iG que a ideia de escrever "A Porta da Frente" veio depois que ela se encantou pela história do cartunista Laerte, que é crossdresser. "Queria levar esse personagem para o palco e falar sobre preconceito e intolerância", explica.
Aliás, o termo não era muito conhecido há oito anos, quando Julia começou a escrever e apresentar a peça. "As pessoas não entediam um homem que se travestia e gostava de mulheres, mas hoje temos informações sobre a quantidade diversa de gêneros", conta ela. "Há oito anos era uma novidade um crossdresser em cena, mas hoje temos muitas peças, séries e filmes".
Com "A Porta da Frente", a autora espera contribuir para o combate ao preconceito e é para isso que o teatro existe, segundo ela: "O teatro nasce da nossa necessidade de refletir sobre a vida que estamos levando, para onde queremos ir ou voltar", comenta.
Marcelo Varzea, diretor da peça, também sucesso com "Silêncio.doc", que voltará aos palcos em a partir do dia 4 de agosto, também vê a importância de falar sobre o assunto no teatro. "Intolerância e preconceito são coisas que paralisam a gente dentro de um estado que parece concreto e os movimentos de arte são esses: renascimento, romantismo, abrindo espaço para a sociedade pensar de uma maneira maior, pensar mais feliz", explica ele.
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"A peça da Julia fala de um homem hétero que gosta de se vestir de mulher. É um professor de canto e muda pra um prédio onde tem uma família tradicional, que sem respirar, eles se incomodam com a presença do vizinho pelo barulho da mésica e com a imagem daquela pessoa que eles classificam como travesti".
Assim como Julia, Marcelo também espera poder ajudar a combater o preconceito com o espetáculo. "A peça é entretenimento, é muito divertida. Foi uma grande sacada da Julia, que através do humor, a plateia se desarma e vai se reconhecendo no preconceito", acredita. Para ele, reflexão com humor chega de maneira mais fácil e mais profunda para os telespectadores.
Trama paralela em "A Porta da Frente"
A peça também fala de Lenita, a mulher da família que tem preconceito com o vizinho. Ela tem um amante virtual e se apaixona perdidamente pelo rapaz, achando que o caso é a sua chance de ser feliz; o problema é que ela não tem coragem de se aventurar e prefere ficar onde está, trair o marido do que começar uma vida nova ao lado do grande amor.
"A peça também fala disso, da gente não se escutar, não se enxergar. Fala sobre como a gente pensa na sociedade, como a gente julga, a gente pega uma pessoa que não consegue entender de alguma maneira, pela escolha dela ou pela opção sexual dela, e classifica ela", comenta.
Falar sobre relações familiares é um ponto forte de Julia, que na maioria de suas peças retrata o tema. "Me formei em psicologia e a gente acaba falando muito de família. Eu tinha vontade de me especializar em terapia familiar, então é uma coisa que estudei bastante e é uma coisa que me interessa", comenta a autora. "Por isso procurei falar sobre esses afetos".
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A autora de "A Porta da Frente" finaliza falando de seu objetivo com a peça: "Falar sobre a incomunicabilidade dessa família. Como pessoas tão próximas podem ser tão distantes. Sacha, o crossdresser, é um personagem que serve como instrumento de mudança dessas afetividades, pois, apesar de ser o que é considerado como "marginal" pela sociedade, é o personagem que carrega a verdade de viver de acordo com seus dejesos, sua essência".