George Lucas cravou seu nome na história do cinema em 1977 quando lançou o primeiro filme da saga “Star Wars”. O longa inovou nos efeitos especiais e atraiu muitos jovens ao cinema. Desde então foram sete continuações, dois spin-offs e uma legião de fãs que só cresce.
“ Star Wars ” pode ter inspirado uma geração de nerds, mas o filme foi muito além. Se tornou uma referência em ficção-científica, e inspirou muitas outras histórias, que viraram livros, desenhos e HQs. Também fez muitas pessoas se apaixonarem por cinema e fazer disso sua profissão.
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Lucas criou um épico que mistura a saga de uma família, os valores do bem versus o mal, um romance, os limites da ética e da moral, tudo isso com naves espaciais, hiperespaço e em menos de 12 parsecs. Amada por muitos e referência no cinema, a trilogia ganhou uma continuação a partir de 1999 com o “Episódio I – Ameaça Fantasma”. E foi aí que a franquia – e o próprio Lucas – foram colocados à prova.
Ao filme de 1999 se seguiu “Ataque dos Clones” (2002) e “A Vingança dos Sith” (2005), que juntos contavam as origens do temido Darth Vader desde sua infância. E assim começaram os questionamentos sobre a capacidade de George Lucas de manter os personagens e o mundo fantástico que ele mesmo criou.
Tudo mudou em 2012 quando a Disney fez uma proposta irrecusável e comprou a Lucasfilm por US$ 4 bilhões, deixando seu criador de fora das decisões sobre os filmes. Sob o comando de Kathleen Kennedy, J.J. Abrams foi chamado para dar uma nova cara para a franquia e levar a história para frente. Assim, em 2015, 10 anos depois do “Episódio III”, “Star Wars: o Despertar da Força” chegou aos cinemas.
Com tantos fãs sedentos por novidades, o filme quebrou todos os recordes possíveis de bilheteria. Mas, essa seria a primeira de uma série de novidades que viriam sob o comando da Casa do Mickey que acabaram desagradando alguns fãs.
A continuação em 2017 com “Os Últimos Jedi” seguida recentemente por “Han Solo” tem causado certa inquietação na Disney, enquanto os fãs, fervorosos e fiéis, decretam seu desgosto. “Os Últimos Jedi” foi tão mal recebido, que fãs nos EUA se uniram e tentam levantar dinheiro para refazer o filme.
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Críticas
“’O Despertar da Força’ não é nada criativo e os filmes novos não tem cara de ‘Star Wars’”, opina o jornalista André Gordirro. André tem uma longa história com a saga, que começou com o lançamento do primeiro filme, que ele assistiu no cinema, e segue até hoje.
Ele conta que assistir o filme foi um divisor de águas: foi aí que ele percebeu que sua carreira estava ligada ao cinema, seja fazendo ou escrevendo sobre. Hoje crítico, ele adquiriu um vasto conhecimento sobre a história, que leva para eventos aclamados no Brasil, como a Jedicon, na qual palestra desde a primeira edição.
Para ele, a nova fase de Star Wars não tem originalidade, e o ápice disso é “Han Solo”: “O filme é completamente sem imaginação. Ninguém quer saber sobre a infância e adolescência desse personagem”, opina. “Quando o personagem tem uma áurea de mistério (como tem Han Solo) não se deve tirá-la”, completa.
Fã fiel de “Star Wars”, o empresário Estêvão Vieira confessa que não assistiu “Han Solo”, e nem pretende. “Talvez esse seja o único filme da franquia que eu não tenho vontade nenhuma de ver. Fiquei decepcionado, pois o universo de ‘Star Wars’ tinha muitas histórias boas que deveriam ter prioridade para serem contadas”, desabafa.
Ele, porém, é mais positivo. Não só gostou de “Os Últimos Jedi”, como também de outros projetos, como a animação “Rebels”.
Implicância
É claro que não se pode agradar a todos, e alguns argumentos dos fãs são válidos, mas será que essa rejeição às novidades inseridas pela Disney não são só implicâncias? “Toda saga tem os haters” comenta o Stormtrooper Fábio "Drácula" Alves. O comerciante de action-figure é dono do fã-clube "Army of Darkness" e participa de diversos eventos vestido como o soldado da Tropa Imperial.
Junto com outros integrantes, Fábio participa de alguns eventos da Disney, como inauguração de lojas e première de filmes. Mas eles também são chamados para as mais diversas cerimônias que vão de casamentos a, acredite, velórios.
Fábio acredita que existe um preconceito em torno da Disney, justamente por ser a tradicional casa de histórias infantis. Estêvão concorda: “alguns fãs vão dizer que (a Disney) ‘estragou’ por não dar a eles o que eles queriam. Eu espero que este novo rumo tomado continue me surpreendendo e trazendo boas histórias”, completa.
A verdadeira Darth Vader
No meio de toda essa história, quem tem saído como a grande vilã é Kathleen Kennedy, Presidente da Lucasfilm. Foi ela quem decidiu por Chris Miller e Phil Lord da direção de “Han Solo”, e também ela quem decidiu demiti-los faltando menos de um mês para terminar as gravações. Entre os fãs, ela é vista como a grande responsável pela saga não ter um bom rumo criativamente, pensando de maneira comercial, sem considerar a história e o amor dos fãs.
A visão de Kennedy, que bombardeou fãs com novas possibilidades, parece começar a exaurir a franquia, sem dar nenhum respiro. Seguindo a linha da Marvel, com datas de filmes programados até 2000 e tanto, Star Wars ganhou um filme por ano desde 2015. “’Star Wars’ é sempre a mesma saga. Se você faz um filme por ano exauri a franquia. Claro que eles querem fazer o máximo de histórias para ganhar dinheiro, mas fica cansativo”, justifica André.
Quando a continuação foi anunciada, a Lucasfilm prometeu três filmes da saga e três spin-offs independentes. Com dois de cada já lançados, a produtora repensa se vai fazer o terceiro spin-off, enquanto J.J. retorna para tentar colocar o Episódio IX “nos eixos”.
Coragem ou covardia?
A Disney apostou em um retorno confiável depois de 10 anos longe dos fãs. Apesar de apresentar novos protagonistas, “O Despertar da Força” deu destaque para velhos conhecidos como Han Solo, e apostou em uma trama que lembrava, e muito, a do primeiro filme de 1977.
Na continuação, porém, a história segue por conta própria. Luke volta, mas talvez não como todos esperavam. “Não gostei do rumo que a história tomou para o Luke, meu herói não é covarde assim. Mas ao mesmo tempo, concordei com o momento de fraqueza. É um tópico sensível”, desabafa a também jornalista e fã Raqueline Curvelo. Mas ela entende que, mesmo que seu querido personagem não seja retratado como imaginaria, talvez essa decisão seja necessária para dar segmento à história.
Já Estêvão vê “Os Últimos Jedi” como um filme com escolhas corajosas para o futuro da franquia. “Estou ansioso com o que vem pela frente”, confessa.
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Quanto mais melhor
Se há uma preocupação geral com muito conteúdo, porém pouca qualidade, há também quem pense o contrário: quanto mais melhor. “Se a Disney oferecer novos filmes até 2035 eu vou me render”, comenta Fábio. Para ele, as promessas de lançamento que a Disney trouxe são uma injeção de ânimo para os fãs. “Você pensa (que a saga) nunca vai morrer”, diz empolgado.
Ele pondera que, no caso de “Han Solo”, exigia certa expectativas dos fãs sobre como esse personagem deveria ser que não foram alcançadas no longa, mas isso não diminui em nada a força da franquia: “A gente esperava a história do Han Solo do Harisson Ford, o cafajeste, contrabandista”, explica.
Universo expandido fora do cânone
No entanto, uma das decisões mais ousadas da Disney foi deixar o universo expandido de fora do cânone de “Star Wars”. Ao longo dos últimos 40 anos, muitas histórias foram criadas no mesmo mundo, mas sem envolver os personagens da saga principal. Essas histórias focaram conhecidas como o “universo expandido”, que foi ignorado pela Disney.
“Não acompanho muito o universo expandido, mas acho meio falho ele não estar presente no que a Disney produz. Peças ficam faltando. Não estraga a história, mas fica faltando tanta coisa”, comenta Raqueline.
Estêvão diz chegou a ler algumas coisas, mas desistiu quando descobriu que elas não fariam parte do cânone, e agora só foca nas produções consideradas pela Disney. Ainda assim, ele concorda com Raqueline que o universo oferece muito material interessante para a saga. “Eu espero que aproveitem algumas coisas deste universo criado antes”, comenta.
Nas mãos da Disney
Apesar do revés com os prequels, George Lucas ainda tinha o apoio dos fãs. Agora, parece ter mais ainda. “Diante do que se está vendo agora eu até olho com mais carinho para os prólogos por que são 100% autorais e tem seus bons momentos”, comenta André. O jornalista defende que, mesmo que menos inspirado, Lucas estava se cercando de gente mais do que capaz para dar continuação a história, que agora não pode nem opinar.
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Mas a Disney , e seu dinheiro, trouxeram vantagens para a saga. A principal é o orçamento milionário necessário para fazer todos os tipos de efeitos visuais e práticos acontecerem. E também para expandir a saga para além do filme, incluindo brinquedos, eventos e o que mais for possível: “só a Lucasfilm é o filme seco”, completa Fábio.
Pensar em “Star Wars” sem a Disney, hoje, é perda de tempo. Inventiva ou não, a saga tem pelo menos mais um filme pela frente. E como o “fracasso” que foi “Os Últimos Jedi” ainda rendeu mais de US$ 1 bilhão aos cofres do Mickey, as chances da saga ter um fim definitivo depois do “Episódio IX” são pequenas. Mas, com fãs tão investidos, a Disney pode se ver encurralada caso não aprenda a ouvi-los e entende-los.