“Los Territorios” é um filme esquisito. Não é documentário, mas também não deixa de ser. Flerta com a ficção, mas não a assume. Aposta no tom confessional, mas arrisca a fazer análises aparentemente conflitantes. É uma reverência à atividade jornalística no mesmo compasso em que é o diário de uma obsessão.

Leia também: O que os tweets de Lobão dizem sobre o Brasil de 2018?

Cena de Los Territorios, que estreia nesta quinta-feira (7) nos cinemas brasileiros
Divulgação
Cena de Los Territorios, que estreia nesta quinta-feira (7) nos cinemas brasileiros

A obsessão é de Ivan Granovsky, que ao iG Gente admitiu que fez o filme para libertar a ele e a quem se predispuser a viver a experiência “Los Territorios” da percepção de que o fracasso é desmoralizante. As coisas podem fracassar e isso não significa uma ruptura definitiva.

O filme nasceu de fracassos vividos por Granovsky, que sempre teve interesse por política internacional e jornalismo. Ele é filho de um prestigiado jornalista argentino, Martin Granovsky. A sombra do pai, e a relação de Granovsky com ela, é algo que ganha relevo no longa. O diretor e personagem se descobre um entrevistador pouco imaginativo, um cineasta de pouca verve, um jornalista arrogante e um homem imaturo para vivenciar relações amorosas de forma franca e desimpedida. Isso tudo no curso acronológico de seu filme.

Leia também: "A Morte de Stalin" ri de engrenagens capitalistas no coração da União Soviética

É preciso coragem para se expor de maneira tão antipática e ruidosa e Granovsky assume essa coragem com muito desprendimento na conversa com a reportagem sobre sua obra tão inusual, mas ao mesmo tempo tão propositiva. “Eu defendo um cinema que tem sangue, que tem risco de errar. Achei muitas vezes durante a construção do filme que explicitar o que você está fazendo gera um resultado artificial. O final do filme é isso. Eu fiz uma coisa artificial, fiz um relato”, entrega. “Nunca tivemos a soberba de tentar ser Deus ”.

Seu filme pode e talvez deva ser percebido como uma egotrip e talvez seja esse olhar a lhe aferir sentido. Granovsky postula que fez um filme geográfico e ele merece o crédito. A política emana o tempo todo, mas a questão familiar, a solvência latino americana, a peculiaridade das demandas do País Basco e o conflito que soa eterno entre Israel e Palestina dão alinhamento geográfico ao projeto de uma maneira tão orgânica quanto singular.

O cineasta admite que a edição foi “disparado” o elemento mais cansativo de todo o processo. “Foram 28 cortes. Ou seja, 28 filmes”. O processo se alongou durante todo um ano. Processo este que incluiu visita também ao Brasil. Granovsky acompanhou de perto, e incluiu em seu filme, o movimento popular que começou com a resistência a elevação das passagens e culminou em um gesto de grande insatisfação popular com o governo Dilma em 2013.

Cena de Los Territorios
Divulgação
Cena de Los Territorios

Para ele houve golpe.

“O povo espera as coisas acontecerem para depois irem às ruas. Isso acontece na Argentina também”. Lula, aliás, é um dos poucos políticos que aparecem em “Los Territorios” e ao lado de seu protagonista, o próprio Granovsky.

Leia também: Flip 2018 anuncia sua programação com o retorno do americano Colson Whitehead

Dono de uma opinião forte e intransigente, a inadequação de “Los Territorios” aos padrões estabelecidos é uma demonstração vivaz dessa condição, Granovsky não fez um filme (é mesmo um filme?) que possa ser enquadrado nas concepções de “bom” ou “ruim”. E só isso já o torna instantaneamente algo interessante.

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!