“Los Territorios” é um filme esquisito. Não é documentário, mas também não deixa de ser. Flerta com a ficção, mas não a assume. Aposta no tom confessional, mas arrisca a fazer análises aparentemente conflitantes. É uma reverência à atividade jornalística no mesmo compasso em que é o diário de uma obsessão.
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A obsessão é de Ivan Granovsky, que ao iG Gente admitiu que fez o filme para libertar a ele e a quem se predispuser a viver a experiência “Los Territorios” da percepção de que o fracasso é desmoralizante. As coisas podem fracassar e isso não significa uma ruptura definitiva.
O filme nasceu de fracassos vividos por Granovsky, que sempre teve interesse por política internacional e jornalismo. Ele é filho de um prestigiado jornalista argentino, Martin Granovsky. A sombra do pai, e a relação de Granovsky com ela, é algo que ganha relevo no longa. O diretor e personagem se descobre um entrevistador pouco imaginativo, um cineasta de pouca verve, um jornalista arrogante e um homem imaturo para vivenciar relações amorosas de forma franca e desimpedida. Isso tudo no curso acronológico de seu filme.
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É preciso coragem para se expor de maneira tão antipática e ruidosa e Granovsky assume essa coragem com muito desprendimento na conversa com a reportagem sobre sua obra tão inusual, mas ao mesmo tempo tão propositiva. “Eu defendo um cinema que tem sangue, que tem risco de errar. Achei muitas vezes durante a construção do filme que explicitar o que você está fazendo gera um resultado artificial. O final do filme é isso. Eu fiz uma coisa artificial, fiz um relato”, entrega. “Nunca tivemos a soberba de tentar ser Deus ”.
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Seu filme pode e talvez deva ser percebido como uma egotrip e talvez seja esse olhar a lhe aferir sentido. Granovsky postula que fez um filme geográfico e ele merece o crédito. A política emana o tempo todo, mas a questão familiar, a solvência latino americana, a peculiaridade das demandas do País Basco e o conflito que soa eterno entre Israel e Palestina dão alinhamento geográfico ao projeto de uma maneira tão orgânica quanto singular.
O cineasta admite que a edição foi “disparado” o elemento mais cansativo de todo o processo. “Foram 28 cortes. Ou seja, 28 filmes”. O processo se alongou durante todo um ano. Processo este que incluiu visita também ao Brasil. Granovsky acompanhou de perto, e incluiu em seu filme, o movimento popular que começou com a resistência a elevação das passagens e culminou em um gesto de grande insatisfação popular com o governo Dilma em 2013.
Para ele houve golpe.
“O povo espera as coisas acontecerem para depois irem às ruas. Isso acontece na Argentina também”. Lula, aliás, é um dos poucos políticos que aparecem em “Los Territorios” e ao lado de seu protagonista, o próprio Granovsky.
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Dono de uma opinião forte e intransigente, a inadequação de “Los Territorios” aos padrões estabelecidos é uma demonstração vivaz dessa condição, Granovsky não fez um filme (é mesmo um filme?) que possa ser enquadrado nas concepções de “bom” ou “ruim”. E só isso já o torna instantaneamente algo interessante.