Bruno Kott é um cinéfilo e essa qualidade é explicitada ao se assistir seu primeiro longa-metragem, “El Mate”, premiado no Festival de Gramado de 2016, e que estreia nos cinemas brasileiros no próximo dia 17 de agosto. De cara, é possível intuir que Quentin Tarantino é uma referência vívida na produção. Dos diálogos às intersecções inesperadas de violência, Kott se ampara em Tarantino como um fiel em uma bíblia.
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A religiosidade, por sinal, é um ponto de partida para Kott em “El Mate” . Seu personagem, Fábio, é um missionário de uma igreja que bate à porta de uma casa no bairro do Bom Retiro em São Paulo. Quem atende, ligeiramente impaciente, é Armando ( Fabio Marcoff ). Uma sucessão de mal entendidos faz com que Fábio seja obrigado a entrar na casa de Armando, que mantém um russo refém e está à espera de que venham coletá-lo. Armando é um assassino de aluguel e a noite está apenas começando.
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O filme se esmera nos diálogos como ferramenta para a construção e manutenção da tensão. Mas a grande sacada de Kott é estruturar seu curto filme, cerca de 70 minutos, como uma comédia de erros. Nesse sentido, a dinâmica entre os dois atores – e são eles dois por praticamente todo o filme – é crucial para o cumprimento dos objetivos da realização. Armando e Fábio atravessam uma noite imprevisível e o espectador fica com eles instigado pelo estranhamento e cumplicidade que tonificam a relação daqueles personagens.
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O filme não ambiciona grandes inflexões sobre a existência, mas há uma cena memorável que tanto enuncia o amor de Kott pelo cinema, como justifica dramaticamente Armando e Fábio. Os dois, derrotados e passíveis, conversam sobre uma cena de “JVCD” (2008), um filme imaginativo estrelado pelo belga Jean-Claude Van Damme que carrega reflexões do astro sobre sua vida e carreira. É a cena testamento de “El Mate”. Uma cena que certamente deixaria Tarantino feliz.