Sofia Coppola lança nesta quinta-feira (10) no Brasil “O Estranho que Nós Amamos”, filme pelo qual ganhou a Palma de Ouro de melhor atriz no último festival de Cannes. Este é seu sexto longa-metragem para o cinema. O primeiro em que adapta um material existente, no caso tanto o romance de Thomas Cullinan, como o filme de 1971 de Don Siegel.

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Sofia Coppola e Kirsten Dunst,sua atriz mais constante, em registro do Los Angeles Times por ocasião da estreia de O Estranho que Nós Amamos
Reprodução/Los Angeles Times
Sofia Coppola e Kirsten Dunst,sua atriz mais constante, em registro do Los Angeles Times por ocasião da estreia de O Estranho que Nós Amamos

“O Estranho que Nós Amamos” carrega a aura de ser um filme de Sofia Coppola . Há canção do Phoenix, planos contemplativos e personagens tateando verdades sobre si mesmas, mas não há espaço para uma das maiores críticas que seus detratores ostentam: não há aqui um retrato da futilidade. Há quem veja na demoção de um comentário mais robusto sobre a guerra essa futilidade, mas é só uma vã tentativa de ser senhor do filme dos outros.

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Sofia se impôs um desafio aqui. Para além da ambição estética – é um filme de época, com um forte comentário feminista que começa como um drama histórico, evolui para um thriller erótico e finda como um conto de terror, Coppola se vê amarrada a diretrizes e obrigada a navegar por elas. É um bem-vindo esforço para a imaginação e suas soluções criativas, tanto como roteirista, mas fundamentalmente como diretora são bastante elogiáveis.

É compreensível a outorga do prêmio de direção em Cannes para a filha de Francis Ford. É seu filme mais bem acabado tecnicamente e mais bem desenvolvido narrativamente. Existe o objetivo de firmar-se como um contraponto ao original estrelado por Clint Eastwood, mas não de superá-lo.

Cena de
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Cena de "O Estranho que Nós Amamos", que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (10)

Sofia continua criando excelentes personagens femininas e apresenta maior intimidade com atrizes que já dirigira, casos de Kirsten Dunst (“As Virgens Suicidas” e “Maria Antonieta”) e Elle Fanning ( “Um Lugar qualquer” ).  

Há menos espaço para o existencialismo aqui. Marca registrada de seu cinema e que preponderou nos exemplares mais recentes. Depois de elaborar sobre o vazio da vida de um astro hollywoodiano e de adolescentes ricas e entediadas de Los Angeles (“Bling Ring”), Coppola viaja no tempo para refinar seu cinema. Abaixo, a filmografia comentada da cineasta.

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“As Virgens Suicidas” (1999)

A história de cinco irmãs em um subúrbio dos EUA da década de 70, marcada por desejo, repressão, sexo e morte causou impacto. Além de revelar Kirsten Dunst e Josh Harnett, o filme mostrou que a atriz fracassada Sofia Coppola tinha tino atrás das câmeras. Filmada com imaginação a partir de um texto tão solene quanto inusitado, a produção fisgou a crítica.

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Cena de "As Virgens Suicidas", primeiro filme de Sofia Coppola: crítica ficou em êxtase

“Encontros e Desencontros” (2003)

Sofia Coppola tornou-se apenas a terceira mulher a ser indicada ao Oscar de direção por este filme.  Ela já admitiu que não faria o filme se Bill Murray, indicado a melhor ator, não topasse o papel. Ele faz um ator frustrado que vai gravar um comercial no Japão, onde é adorado, e acaba trocando confidências com uma jovem americana “abandonada” em sua lua de mel. Como bônus, o filme elevou Scarlett  Johansson ao estrelato.

“Maria Antonieta” (2006)

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Sofia Coppola caminha com Bill Murray nas locações de "Encontros e Desencontros": filme lhe valeu o Oscar de roteiro original

O filme ficou marcado pela péssima recepção em Cannes. Extremamente vaiada, a produção deu a Coppola seu primeiro revés. O fracasso comercial talvez já fosse esperado, mas a rejeição da crítica abalou a promissora cineasta. Hoje, com a distância e em retrospecto, o filme que reimagina a vida do ícone francês até subiu de cotação, mas segue como o filme mais contestado da cineasta.

“Um Lugar Qualquer” (2010)

Depois de ir à França do passado, Sofia resolveu fazer terapia e falar do mundinho em que cresceu e conhece tão bem. “Um Lugar Qualquer” mostra a vida fútil e vazia de um astro de cinema e sua desastrada tentativa de se aproximar de sua filha. Um filme de grandes momentos, mas que ainda não conseguia elevar Sofia além da grande promessa de outrora.

“Bling Ring: A Gangue de Hollywood” (2013)

Ainda em Hollywood, mas inspirada pelo caso real de adolescentes que invadiam a casa de poderosos em Beverly Hills apenas para curtir uma boa farra. A radiografia de uma geração é esperta e assertiva, mas as queixas de que ela não conseguia oxigenar seu cinema para além de um universo de frivolidades ganhou força aqui.

“O Estranho que Nós Amamos” (2017)

Historicamente, a grande contribuição desta fita será derrubar esse argumento de que Sofia não consegue olhar para além do próprio umbigo em matéria de cinema. Estética e narrativamente ambicioso, de “O Estranho que Nós Amamos” expande o olhar sobre as potencialidades do cinema da filha de Francis Ford.

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