Um dos grandes autores do cinema americano, James Gray lutou muito para levar aos cinemas o livro “The Lost City of Z”, de David Grann. A história de Percy Fawcett, um explorador inglês que passou grande parte da sua vida tentando provar a existência de uma cidade perdida na Amazônia que teria sido construída por uma civilização antiga é dessas coisas de grande potencial cinematográfico. “Z: A Cidade Perdida”, no entanto, apesar de seus 141 minutos de duração, é um épico de outra natureza. É um filme com a assinatura de Gray.
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Decadência de um herói
Responsável por filmes que exploram o humano em histórias potencialmente épicas, como em “Os Donos da Noite” (2007) e “Era Uma Vez em Nova York” (2013), Gray faz o mesmo em “ Z: A Cidade Perdida ”. Ciente de que tem um personagem fascinante nas mãos, o cineasta revela o extraordinário a partir de seu protagonista e não o inverso. Por extraordinário aqui, entende-se tanto a jornada espiritual de Fawcett, como a constante abnegação de sua esposa, interpretada por Sienna Miller, obrigada a conviver com a ausência do marido, a noção de pequeneza diante da natureza, etc.
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Percy Fawcett, vivido com garra e devoção por Charlie Hunnam , é um homem que teve o bom nome de sua família malfadado pelos vícios do pai. Servindo no exército inglês, sente o pecado do pai oprimi-lo rotineiramente e identifica em uma missão na Amazônia boliviana para fazer levantamento topográfico e mapeamento, a chance de ganhar alguma condecoração. Fawcett, logo percebemos, é um homem com fome por distinção. Esse desejo aos poucos vai se transformando em uma necessidade de alcançar a grandeza. É nessa bifurcação, algo sutil, que Gray faz o seu melhor. E só podemos percebê-la pelos olhos daqueles que convivem com Fawcett. Seja o almofadinha James Murray (Angus Macfayden), o leal escudeiro Henry Costin (Robert Pattinson), o filho Jack (Tom Holland), ou mesmo sua esposa.
Depois de cumprida a missão, Fawcett impõe para si o desafio de localizar Z. É da obsessão perene do explorador que Gray se ocupa. O épico existe para desbravar o personagem. É uma apropriação corajosa, mas de dividendos complexos e subjetivos demais para que se configure em um grande filme.
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“ Z: A Cidade Perdida ”, além de ser narrativamente vigoroso, tem excelentes planos e enquadramentos e é um filme todo ele muito bem articulado visualmente. A abordagem da erupção interna de um personagem, no entanto, é algo que Gray já fez melhor em todos os seus filmes anteriores. Não obstante, para a proposta aventada aqui, o documentário talvez provesse resultados dramáticos mais satisfatórios.