Não é fácil adentrar a galeria de grandes filmes ambientados e sobre o universo do boxe. Uma dinastia praticamente inaugurada com “Rocky – Um Lutador” (1977), filme que também formatou o jeito de se fazer cinema sobre o sonho americano. “Punhos de Sangue”, que narra a trajetória do pugilista que teria inspirado Sylvester Stallone a escrever o roteiro de “ Rocky ”, o faz não só com louvor, mas com uma propriedade ímpar.

Em Punhos de Sangue, o lutador que inspirou a saga
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Em Punhos de Sangue, o lutador que inspirou a saga "Rocky" é o protagonista

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Chuck Wepner, magnificamente interpretado por Liev Schreiber, logo nos diz que sua principal virtude é saber apanhar. Isso diz muito sobre o espírito do personagem. Suas inseguranças e anseios, mas também sobre o que veremos adiante. Com a infeliz característica de sangrar muito, ganhou apelido e fama indesejáveis, mas durou 15 rounds contra o messiânico e potente Muhammad Ali. O feito improvável poderia ser o fim de “ Punhos de Sangue ”, de certa forma, é o fim do primeiro “Rocky”, mas o filme de Philippe Falardeau tem como objetivo mergulhar na ego trip desse cara que patina entre a sorte e o azar enquanto vê sua história fazer a fortuna de um certo garanhão italiano em Hollywood.

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Divulgação

Cartaz original de Punhos de Sangue

O filme nos incomoda com a pergunta: Como pode o cara que inspirou uma das maiores histórias de esperança que a humanidade já viu padecer de um espírito de porco tão grande? Trata-se de um conflito de grande força cinematográfica e Falardeau sabe disso. Seu filme conjuga clichês e os desatina com intransigência. A cena em que Wepner bate um papo com uma potencial transa e é interrompido por sua esposa (a ótima Elizabeth Moss) é de uma pungência atroz. Ou então quando chega para fazer um teste com o próprio Stallone para um papel em “Rocky II”. Ensimesmamo-nos.

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O filme fala da autossabotagem do personagem de uma maneira condoída e que, apesar de já termos cruzado com essa história antes, nos mimetiza com genuína emoção. Mérito que precisa ser estendido à composição generosa e febril de Schreiber, aqui em um de seus melhores momentos como ator. Ele entende a angústia de Wepner e a potencializa com vigor e ternura.

“Punhos de Sangue” ganha pontos, ainda, pela reverência à dinastia dos grandes filmes de boxe ao qual agora pertence. Vale reparar na relação do protagonista com o filme “Réquiem para um Lutador” (1962), estrelado por Anthony Quinn. Não obstante, a boa música, fotografia e direção de arte, Naomi Watts ainda surge como uma personagem pequena que promove grandes mudanças na trama do filme e no rumo de Wepner. Um filme delicado, que se mune de todas as boas estratégias para ganhar a audiência e o faz sem prescindir da destreza narrativa. Grande personagem, Chuck Wepner agora ostenta legitimamente um grande filme.

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