Pense no entretenimento cheio de adrenalina proposto pelo petardo de Martin Scorsese “O Lobo de Wall Street” (2013). Adicione à receita a agressividade e engenho de “Wall Street – Poder e Cobiça” (1987), mas sem perder de vista ensaios sobre a masculinidade que são “Psicopata Americano”  (2000) e “Os Imperdoáveis” (1992) e você terá uma ideia do que é “Billions”, a mais eletrizante e inteligente série de TV da atualidade.

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Paul Giamatti e Demien Lewis em cena de Billions: entretenimento eletrizante
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Paul Giamatti e Demien Lewis em cena de Billions: entretenimento eletrizante

Com um ritmo tão alucinante quanto “House of Cards”, mas com o benefício de não ter apenas um, mas dois anti-heróis cheios de falhas e virtudes, a série produzida pela Showtime, mesmo canal de perolas como “Californication”, “Homeland”, “Dexter” e “Shameless”, já teve duas temporadas – a segunda encerrada no último domingo - e está disponível na Netflix para o prazer do público brasileiro. “Billions” , posto de maneira simples, é sexy sem ser vulgar.

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A medição de 87% no Rotten Tomatoes está abaixo dos 95% de “Breaking Bad” e “Game of Thrones”, mas a produção assinada por Andrew Ross Sorkin, Brian Koppelman e David Levien tem bem menos hype, ainda que seja uma das melhores audiências do Showtime e a série do canal com maior aprovação crítica. Os prêmios da indústria, no entanto, ainda não vieram.

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Cartaz americano da série

A série é ambientada no mundo das altas finanças de Nova York e opõe os interesses do procurador de Justiça do distrito Chuck Rhodes ( Paul Giamatti ) e o fundador da agência de investimentos e fundos Hedge Bobby Axelrod ( Damien Lewis ). A primeira temporada se cacifa em cima da construção da rivalidade entre esses dois cachorros grandes. A mulher de Chuck, Wendy (Maggie Siff) é figura fundamental da empresa de Axe, é a psicóloga que atende os corretores de sua agência, e o ponto de desequilíbrio entre os dois. Chuck tenta montar um caso contra Axe, por tráfico de influência e manipulação do mercado financeiro, mas à medida que a trama avança, mais a coisa vai ficando pessoal.

O segundo ano começa com a balança aparentemente mais equilibrada, mas na verdade os conflitos ensejados ao longo do primeiro ano estão mais aprofundados e ressonantes nos personagens. Esta é uma série sobre vícios e sobre poder e é francamente fascinante a maneira com que produtores e roteiristas articulam os desenvolvimentos e escalam os interesses convergentes e divergentes dos personagens. Sejam dos protagonistas, dos coadjuvantes ou mesmo daqueles secundários. Tudo e todos movem “Billions”. Um bom exemplo disso é o dilema de Bryan Connerty (Toby Leonard Moore, de “Demolidor”), protegido de Chuck, que se flagra em uma crescente crise moral e se deixa fisgar por um jogo em que moral é apenas um mau investimento.

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Chuck tenta chegar a Axelrod por um caminho mais longo no segundo ano e deixa a ambição de concorrer ao governo do estado, desejo que era mais de seu pai (Jeffrey DeMunn, de “The Walking Dead”) do que dele, prosperar. O brilhantismo do segundo ano do programa reside no jogo de espelhos que propõe em relação ao primeiro ano.  Mesmo sem se dar conta, Chuck se aproxima cada vez mais de ser aquilo que tanto abomina em Axe. Axe, por seu turno, se enfia de vez em sua bolha de poder.

Crise no casamento: Billions também mergulha a fundo em seus personagens
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Crise no casamento: Billions também mergulha a fundo em seus personagens

A Netflix, que trouxe para o Brasil a primeira temporada em outubro de 2016, assegurou os direitos de distribuição da série no Brasil e exibiu o segundo ano simultaneamente aos EUA. Os episódios foram disponibilizados poucas horas depois de ir ao ar nos EUA. Com a terceira temporada confirmada, “Billions” se assevera como um programa obrigatório para quem gosta de se entreter com algo inteligente, esperto e frequentemente surpreendente.

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