Primeira animação indicada ao Oscar de melhor filme, “A Bela e a Fera” mediu forças no Oscar de 1992 com “O Silêncio dos Inocentes”, “Bugsy”, “JFK – A Pergunta que Não Quer Calar” e “O Príncipe das Marés”. Nesse fato reside o vestígio definitivo de que o filme se não é o maior, figura entre os três maiores clássicos da Disney. A aceitação de público, crítica e indústria se deu de uma maneira até então inédita.
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Era natural, na esteira dessa onda de versões em live-action das produções da Disney, que “A Bela e a Fera” ganhasse uma versão em carne e osso eventualmente. Bill Condon , diretor do musical “Dreamgirls – em Busca de um Sonho” (2006), mas também do drama sobre sexualidade “Kinsey- Vamos falar de Sexo” (2014), assumiu o comando da produção que tem Emma Watson como Bela, ou Belle como é chamada no original.
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Condon está aqui por seu talento na condução de um musical e em live-action “A Bela e a Fera” é mais um musical do que qualquer outra coisa. O filme reproduz frame por frame a animação de 1991 e flerta com a nostalgia de quem descobriu esse clássico há mais de 20 anos. Visualmente impressionante, a produção cativa por nos reapresentar Lumière (Ewan McGregor), Cogsworth (Ian McKellen), Mrs. Potts (Emma Thompson) e Zip (Nathan Mack), além da Fera (Dan Stevens), com um aspecto menos fofo do que nos lembrávamos.
Gaston ganha a forma e a canastrice de Luke Evans, enquanto que o pai de Belle é interpretado por Kevin Kline. Os dois defendem seus personagens com dignidade e devoção, mas é mesmo Josh Gad , como LeFou, quem rouba o show. Inicialmente mapeado como alívio cômico, o personagem vai ganhando força conforme o filme avança. É justamente com ele que há as maiores divergências entre as duas versões Disney de “A Bela e a Fera”. LeFou gravita em torno de Gaston porque gosta dele de uma maneira que ainda não sabe elaborar adequadamente – e aí entra em cena todo o imbróglio que a Rússia classificou como “propaganda gay”. No mesmo compasso que descobre que Gaston pode ser um ser humano desprezível, LeFou identifica as razões de seu interesse por ele. Não há no filme, e isso deve ter sido muito ponderado nos bastidores, nenhuma cena que possa valer a alcunha de “propaganda gay”. O que há é uma grande sensibilidade no desenvolvimento do personagem, francamente o ponto alto do filme, e uma preocupação latente de atender demandas sociais reprimidas em 1991.
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Já Emma Watson , que será modelo para crianças de hoje e julgada pelas crianças de ontem, convence como Belle. Dócil, genuinamente sofisticada, carismática e bonita, Emma é a encarnação perfeita de Belle e traz para ela essa força que tão bem revestiu Hermione e que o público, feminino em especial, espera de uma princesa contemporânea.
“A Bela e a Fera” emana toda a beleza e encanto de um clássico Disney e ostenta energia e adereços suficientes para criar uma nova legião de fãs. Mas, posto de maneira bastante franca, não provoca o sentimento de algo maior que a vida ensejado pelo original. E, talvez, isso não fosse nem mesmo possível.