Em um ano em que Martin Scorsese (“Silêncio”), Clint Eastwood (“Sully: O Herói do Rio Hudson”), os irmãos Coen (“Ave César”), e Robert Zemeckis (“Aliados”) lançaram filmes, não deixa de ser curioso que o Oscar não destaque nenhum deles na categoria de direção. Em 2017, talentos da nova geração, cineastas ocasionais e a redenção de um filho pródigo marcam a segunda categoria mais importante do maior prêmio do cinema.
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Damien Chazelle é o favorito absoluto a ganhar por “La La Land: Cantando Estações”. Ele fez 32 anos em 19 de janeiro último. Com dois filmes no currículo, já ostenta três indicações ao Oscar . A matemática pode não bater para quem não assistiu o musical que concorre a 14 estatuetas ou “Whiplash: Em Busca da Perfeição”, que foi uma das sensações na premiação em 2015.
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Chazelle é um diretor tão inventivo quanto disciplinado. Já é alvo da admiração de cineastas consagrados como Willian Friedkin e Quentin Tarantino. O prêmio da Academia pode até parecer precoce, mas fato é que seu trabalho em “La La Land” merece os louros. Negar isso é pura implicância. Do domínio da narrativa, à direção de atores, passando pela deferência a Hollywood e a maneira como faz de Los Angeles, e da música, personagens de um filme triste de uma maneira extremamente alegre (ou seria o contrário?), “La La Land” é um fascínio, aborrecimento para alguns , porque tem um diretor apaixonado e atuante em seu cerne.
Outro cineasta novo indicado este ano é Barry Jenkins . Seu trabalho em “Moonlight: Sob a Luz do Luar” é tão técnico e sensorial como o de Chazelle. É um diretor autoral, mas que não esconde suas influências. A fotografia arrebatadora deriva do cinema do chinês Wong Kar-Wai, mas a força do filme vai toda na sua conta. Perguntado recentemente em um painel onde estariam os brancos em seu filme, respondeu de maneira espirituosa: “eles vão estar na audiência”.
“Moonlight” fala de uma história de amor suprimida por preconceito e por marginalidade social. É um filme tão sutil que muitos não compreendem.
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Chazelle e Jenkins defendem um cinema mais febril, em que a técnica se destaca, mas não oprime as delicadezas do registro. É um cinema que precisa ser reverenciado por um prêmio de indústria como o Oscar. E que boa notícia que a Academia finalmente reconheceu o talento de Denis Villeneuve . O canadense já havia ganhado o Oscar de filme estrangeiro com “Incêndios”, antes de migrar para Hollywood de vez.
“A Chegada” talvez seja seu trabalho de direção mais refinado e ele está à frente de uma pequena revolução. Resgatar a relação do cinema de autor com o cinema de gênero. Apenas Christopher Nolan, David Fincher e Quentin Tarantino parecem carregar essa bandeira, mas somente Villeneuve trouxe a ficção científica para um lugar tão especial no Oscar. São oito indicações e, diferentemente de “Gravidade” há três anos, o confete não se dá pelos feitos técnicos.
O nome de Kenneth Lonergan , dramaturgo e roteirista de prestígio, e diretor ocasional, pode parecer o mais inusitado, mas quem quer que assista “Manchester à Beira-Mar”, um filme tão denso e inflexivo, vai entender o porquê de sua inclusão entre os cinco melhores diretores do ano no crivo da Academia.
Por fim, o Oscar sela o retorno de Mel Gibson , astro dos anos 90 e vencedor do Oscar de direção e filme por “Coração Valente”, que estava na lista negra dos estúdios e executivos da Meca do cinema. Por “Até o Último Homem”, em que demostra todo seu vigor e talento, Gibson volta ao Oscar 21 anos depois da consagração. Para consumar sua redenção e servir como ponte entre a Hollywood de ontem e a que se anuncia daqui para frente.