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Triste episódio da HQ censurada em uma feira literária teve um final feliz

Após os episódios envolvendo os jornalistas Mirian Leitão e Glenn Greenwald fiz um texto perguntando “o que faltava acontecer nas feiras literárias”, um lugar que considero abrangente em seus assuntos e democrático em suas discussões. O que faltava acontecer era o meu pensamento. O que faltava...?

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Divulgação
Capa da HQ censurada por Marcelo Crivella, o prefeito do Rio de Janeiro

Infelizmente o que faltava veio durante a Bienal do Livro do Rio deste ano, com uma censura bizarra do Prefeito Marcelo Crivella ao livro de quadrinhos da Marvel “A Cruzada das Crianças”, com temática LGBT e lançado no Brasil em 2012.

Crivella achou o conteúdo inadequado e ordenou que os livros fossem encapados com plástico preto e lacrados com uma etiqueta indicativa que aquele era um produto impróprio para crianças. E o que ele julgou impróprio? Um beijo gay.

Primeiro que homossexualidade não é uma doença ou um problema, portanto, partindo desse princípio, tratamos o assunto como um assunto e ponto final. Segundo que o livro citado não é um livro infantil e estava à venda em um estande de uma livraria em uma feira de livros.

Eu tenho filho pequeno e já me questionei como abordaria alguns temas como drogas, sexualidade, sexo e é natural que a gente se pergunte como e de que forma iremos fazer, mas absolutamente nunca me questionei em proibir de falarmos sobre qualquer assunto.

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Toda forma de preconceito nasce da falta de diálogo nas famílias e nas escolas, que inclusive, tem um papel importante na inclusão e desmistificação de vários assuntos. E o Estado não pode surgir como uma foice e cortar tudo que está sendo construído em prol do movimento LGBT, onde vários setores se mobilizam há anos para dizimar o preconceito.

Mas felizmente o tiro saiu pela culatra e o mercado livreiro se uniu e não acatou as ordens de censura. A postura da organização da Bienal foi impecável, ao meu ver, ao não ceder e ainda soltando uma nota de repúdio.

Várias editoras e livrarias colocaram seus livros com temáticas LGBT em maior exposição, os visitantes abraçaram a causa e esgotaram o livro da Marvel. Isso sem contar o youtuber e influenciador digital Felipe Neto que comprou 14 mil livros com a temática e os distribuiu gratuitamente.

O livro traz representatividade para o leitor. É extremamente importante que o adolescente ou o adulto se identifique com a leitura dentro do contexto social em que vive. Qualquer assunto tratado de forma responsável é necessário. O livro nunca exclui, ele sempre acrescenta.

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Foi um capítulo triste que vivemos nessa Bienal, mas com um final bem feliz como os contos de fadas que tanto estamos acostumados a ler, aqueles que a censura tenta nos enfiar goela abaixo.

Para pautas e sugestões: colunaquartacapa@gmail.com