Michel Pereira integra o elenco de "Chuva Negra", do Globoplay. Na trama, o ator de 28 anos interpreta Duda, naturista que vive em uma ecovila e se depara com Nancy, personagem de Julia Lemmertz com quem tem um caso. "Quando conheci a Julia, minha admiração dobrou de tamanho. Essa mulher tem um coração enorme. E isso, sem dúvida, reverbera na ação. Lembro-me do nosso primeiro ensaio, estava nervoso, e ela foi tão generosa comigo que me fez ficar solto; assim, nos divertimos. Me encantei", disse à coluna.
Cursando a Escola de Arte Dramática (ECA/USP) e empenhado no treinamento de palhaço, Michel ganhou projeção em 2014 por meio do quadro "Garoto Boogie Oogie", do extinto "Vídeo Show", que escolheu um novo talento para entrar para a então produção das 18h da Globo. "Foi tudo no susto. Quando me convocaram, desliguei o celular, achando que fosse trote. Só depois de receber o e-mail da emissora, percebi que era real. Viajei para o Rio sem nem saber onde ficar, só com uma mochila nas costas. E as coisas foram acontecendo, passando de fases, até que consegui ir para a final com Brenno Leone e contracenar com Alice Wegmann", recordou.
Com algumas peças e longas no currículo, Pereira acabou de rodar o filme "Passagrana", do Disney+, com previsão de estreia para 2024, e será visto, em breve, em "A Mesa", do Cine Brasil TV. "Em julho, estarei envolvido em uma minissérie para o Star+ que não posso revelar nada ainda", contou sem dar muito spoiler. Somam-se a isso os ensaios de "Dois Perdidos numa Noite Suja", de Plínio Marcos, ao lado de Lucas Fernandes, que terá uma versão para os dias atuais. O projeto teatral deve entrar em cartaz no segundo semestre deste ano. Confira os melhores momentos da entrevista na íntegra!
1. Conte-nos sobre o seriado "Chuva Negra" e a dobradinha de sucesso com Julia Lemmertz.
Em 2020, recebi o convite do querido Rafael Primot. Em dezembro de 2021, veio a ligação da produtora de elenco perguntando se ainda havia interesse e disponibilidade e explicando que representaria com Julia Lemmertz. Senti um mini-infarto durante a ligação, e a reação que tive foi tão engraçada (minha mineiridade veio com força) que ela considerou aquilo como um "sim". Quando conheci a Julia, minha admiração dobrou de tamanho. Essa mulher tem um coração enorme.
Para quem não sabe, em sets de filmagens, nós, atores, esperamos para gravar, por diversos motivos, como montagem de luz, cenário, câmera etc. E, nessas horas, passamos um bom tempo próximos, conversando sobre variados assuntos. E isso, sem dúvida, reverbera na ação. Lembro-me do nosso primeiro ensaio gravado, estava nervoso, e ela foi tão generosa comigo que me fez ficar solto; assim, nos divertimos. Me encantei pela Julia.
2. Como foi participar (e ser um dos finalistas) da disputa que escolheu um novo rosto para "Boogie Oogie"? Quais os desafios desse julgamento popular?
Foi tudo no susto. Era o meu ano inicial no teatro, recém-chegado em São Paulo, sem ter feito nada antes. Na época, as inscrições foram abertas no "Gshow", e aí me candidatei, já imaginando que nem passaria dessa etapa. Quando me convocaram, desliguei o celular, achando que fosse trote. Só depois de receber o e-mail da emissora, percebi que era real.
Viajei para o Rio sem saber onde ficar, só com uma mochila nas costas. E as coisas foram acontecendo, passando de fases, até que consegui ir para a final com Brenno Leone e contracenar com Alice Wegmann. Tive o privilégio de ter sido bem aceito pelo público.
Me convidaram até para desfilar em um carro de bombeiro na minha cidade e cogitaram fazer uma estátua de bronze. Sou de uma cidadezinha de trinta mil habitantes. Imagina o entusiasmo dos moradores ao ver um conterrâneo na TV!
3. Em 2014, quando fez parte do concurso, não lidávamos com mídias sociais como hoje. Como cuida das suas?
A internet potencializa em nós um monte de sentimentos ruins por estarmos em constante comparação com modelos de vivências irreais, mas que idealizamos como objetivo a se alcançar. Stories de usuários viajando, comendo em um restaurante chique, na praia, em um relacionamento perfeito, com o corpo ideal. Isso gera uma frustração absurda.
Atualmente me encontro mais ansioso do que dez anos atrás e tenho certeza de que o motivo são as redes. Inclusive, sou otimista em acreditar que, quando entendermos o meio saudável de interação com a web, não sucumbiremos mais. No meu caso, tento usá-las de forma orgânica e não me forço a nada.
4. Após o fim da competição que você não levou, o que mudou nos âmbitos pessoal e profissional?
Entendi a atuação como um percurso que queria seguir de maneira séria. Voltei para São Paulo e, desde então, estudo teatro e cinema há uma década. Ao longo desse período, surgiram oportunidades legais no palco e na parte audiovisual. Fiz trabalhos fora do país e pretendo continuar me aperfeiçoando e aprendendo novas habilidades.
5. Aliás, considera-se competitivo?
Sou, e isso, às vezes, me frustra. Odeio perder. Mas passei a ver esse aspecto de modo saudável. Ao ser derrotado, também se consegue triunfar. É perceber que nem tudo será do jeito que queremos e que o tempo de amadurecimento das perdas pode ser mais valioso que a própria vitória.
No "Boogie Oogie", fiquei triste por não ter ganhado, mas, em seguida, compreendi que o melhor foi não ter feito a novela de fato, porque não tinha nenhuma experiência.
6. Acha que, mesmo em 2023, estar em uma telenovela é fundamental para a carreira decolar?
Com certeza. A linguagem se adaptou bem à chegada dos streamings. É só pegarmos como exemplo "Todas as Flores", feita exclusivamente para o Globoplay. Deu certo, e a audiência sobe gradativamente. A teledramaturgia nos une. Não vejo a hora de pintar uma oportunidade.
7. Muitos artistas apontam a dificuldade de se manter com a arte no Brasil. Você tem um plano B?
Não tenho. Já fui garçom para pagar o aluguel, me hospedei em casa de amigo e agora moro no Crusp, o alojamento estudantil da USP. Faço Escola de Arte Dramática e me formo neste ano. Pretendo viver da minha profissão com dignidade até o final da minha existência.