Conhecida por ter sido uma das ex-assistentes de palco de Xuxa Meneghel
no extinto "Xuxa Park", exibido pela Globo de junho de 1994 até janeiro de 2001, Stephanie Lourenço
celebrou a chegada do novo ano agradecendo as oportunidades conquistadas no decorrer de 2022. Uma delas é o papel de destaque no thriller
de suspense distópico "Ciclo", de Ian Raul Samarão Brandão Fernandes, o Ian SBF, cocriador do coletivo de humor "Porta dos Fundos".
A outra é a estreia do curta-metragem "Emílio" em festivais nacionais e internacionais. O projeto ficcional, no qual atua e é produtora, retrata a amizade interespécie entre uma humana e um chimpanzé, que enfrenta sequelas físicas e psicológicas devido ao seu passado de exploração. Ele, aliás, foi realizado com o apoio do GAP de Sorocaba, e, durante as filmagens, não houve contato direto com os primatas para que isso não influenciasse no bem-estar e na tranquilidade deles, que estão em recuperação.
Ao site, a atriz e jornalista de 35 anos, que, desde os dezesseis, está envolvida com as artes cênicas, contou que a ideia surgiu quando era editora da Agência de Notícias de Direitos Animais. "Alguns anos depois, tive muita vontade de produzir um curta que abordasse o ativismo animal, mas de uma forma sutil e que não fosse um documentário. Tem sido recompensador vê-lo pronto e saber que fiz parte de cada pedacinho. É um filme simples, feito com pouco recurso, mas do qual tenho orgulho", acrescentou.
Mas, se pensa que os planos de Stephanie terminaram, informamos que está enganado! Ela, que até poucos dias podia ser vista nos palcos paulistanos com o espetáculo "O Que Meu Corpo Nu Te Conta?", sob a direção de Marcelo Varzea, é assistente de direção de Elder Fraga e está focada no longa-metragem "Sobreviventes", com entrevistas de remanescentes do Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial. Confira os melhores momentos na íntegra!
1. Impossível falar com você e não mencionar sua vivência como paquita e a aprendizagem obtida.
É legal saber que isso continua sendo importante para as pessoas e desperta a curiosidade por fazer parte do nosso imaginário, principalmente dos maiores de trinta. Tudo continua presente na minha vida. Tenho ótimas lembranças. Eu tinha onze anos, estava na fase inicial de testes, e as candidatas foram entrevistadas no 'Xuxa Park' pela própria Xuxa. Assim que olhei para ela, simplesmente não consegui emitir muitas palavras.
Esse lugar acabou virando meu local de trabalho pouco tempo depois. Não consegui acreditar. Acho que amadureci rápido. Tinha que ter organização e disciplina para lidar com a escola e o ritmo do programa, que era intenso. Também tinha um contrato, um salário. Algo incomum para uma menina de doze anos. Eu me dediquei muito nessa época e trago até hoje esse senso de responsabilidade e disciplina no que eu faço. Às vezes, até levo as coisas a sério demais.
2. Recentemente, você encenou em São Paulo a peça "O Que Meu Corpo Nu Te Conta?", com lotação esgotada durante a temporada. Como foi voltar aos palcos depois da paralisação por causa da Covid-19?
Foi arrebatador. Todo o processo do Coletivo Impermanente (nome do grupo) teve seu iniciozinho na pandemia. Começamos a pesquisar, tudo on-line, e fizemos apresentações ao vivo via zoom. No final, acabamos nos encontrando pessoalmente, e o resultado foi esse espetáculo. Uma das coisas que mais me atraem nele é o formato. A troca é intensa tanto para nós como para quem está assistindo, a qual não tivemos durante o isolamento, que parecia nunca acabar. E, de repente, depois de muito tempo distante do público, estamos mais próximos do que nunca.
3. Aliás, como passou a quarentena? Aproveitou para criar algo?
A pandemia foi pesada e difícil para todos. Lidar com a banalização da morte pelo governo anterior, a falta de perspectiva, as perdas, a sensação de que aquilo nunca acabaria... Então, para me manter minimamente sã, me juntei a um grupo de amigos atores, e começamos a fazer saraus. Tive a oportunidade de dirigir pela primeira vez uma leitura dramática de Clarice Lispector e outra de contos de terror. Foi uma forma de me manter produtiva e saudável de alguma maneira.
4. Atualmente, você está envolvida em um doc sobre sobreviventes de guerra. Fale mais sobre ele.
Sim, como assistente de direção de "Sobreviventes", que tem a direção de Elder Fraga. Para produzi-lo, entrevistamos quem presenciou a Segunda Guerra Mundial e vive no Brasil. Queremos que a mensagem dessas pessoas pedindo paz fique registrada para que a história não se repita. Sabemos que os confrontos nunca deixaram de existir, como agora vemos a situação na Ucrânia. Mas também não podemos esquecer os constantes conflitos no Oriente Médio e em alguns países da África, que não recebem a mesma atenção da mídia e dos líderes mundiais. Então temos que ouvir atentamente quem esteve nessa situação do passado e do presente.
5. Acha que os artistas precisam expor essas demandas para a sociedade?
Com certeza. Não acredito ser uma obrigação, pois a arte tem inúmeras funções. Mas uma das mais importantes é estimular a reflexão, fazendo com que o espectador veja além do seu cotidiano e entre em contato com múltiplas realidades. Por isso, o segmento artístico é tão modificador.
6. Você já se envolveu com ONG de proteção animal e abordou o assunto na internet. Quando surgiu seu interesse pelo tema?
Sempre amei os animais. Aos poucos, comecei a me questionar sobre vegetarianismo. Um dia, passei uma madrugada inteira assistindo a vídeos que mostravam todo o tipo de exploração não só na alimentação, mas também na ciência, em testes de cosméticos, no entretenimento, entre outras atrocidades. Foi aí que resolvi virar vegetariana.
Em seguida, fui trabalhar como voluntária em uma ONG.
Depois, como editora na Agência de Notícias de Direitos Animais (ANDA). Por fim, criei o canal no YouTube "Amiga do Esquisito" (em homenagem ao meu vira-lata chamado Esquisito) e produzi "Emílio". No meio desse processo todo, eu me tornei vegana.
7. Quais os próximos projetos em vista?
"O Que Meu Corpo Nu Te Conta?" deve continuar o seu percurso. Vou liberar "Emílio" no YouTube para, quem sabe, poder ser exibido para crianças e adolescentes nas escolas e possivelmente tocar algumas pessoas. Também estou escrevendo uma websérie, que espero que estreie neste ano. Tenho vontade de voltar a fotografar, pois é algo que fazia há alguns anos e gostava muito.