Eliane Cantanhêde causou mais um choque diplomático nos bastidores da GloboNews por reincidir na prática de aplicar discurso elitista em situações controversas. Desta vez, o fato se deu ao comentar sobre as enchentes no Rio Grande do Sul. A direção do canal de notícias não viu com bons olhos a comparação descabida que ela fez, na edição de quarta-feira (15) do jornal Em Ponto, entre a dor das milhões de pessoas afetadas pela tragédia com sua tristeza pessoal por ter perdido suas joias em um assalto no final de 2023.
"Você se põe na posição dessas pessoas que perderam tudo. Roubaram as minhas joias no Natal de 2023, foi doloridíssimo. Eu fico imaginando quem perdeu a casa, quem deu um duro danado para comprar uma geladeira, um fogão, uma cama, e não tem mais nada. A casa debaixo d’água", discursou a comentarista no telejornal.
Compartilhado nas redes sociais, o vídeo com o comentário de Eliane resultou em diversas mensagens com tom de deboche e chacota --dada a comparação esdrúxula feita pela jornalista--, mas também vieram críticas à qualidade do jornalismo praticado pela GloboNews na cobertura das tragédias. E foi neste ponto que a chefia do canal de notícias se incomodou.
Fontes da coluna relataram que a jornalista recebeu um alerta de seus superiores sobre o descabimento da comparação assim que saiu do ar. Mas hoje (16), pela manhã, após dimensionarem a viralização do conteúdo e analisarem as críticas ao canal, chegou-se a um consenso de que as falas foram infelizes, sem relevância editorial e prejudiciais à cobertura da GloboNews.
Eliane deve receber um novo alerta de seus superiores nesta quinta-feira sobre a gravidade de seu discurso. Não há incômodo quanto ao sarcasmo da audiência sobre o deslocamento de Eliane Cantanhêde da realidade. Ela é rica, mora em bairro nobre de São Paulo e goza de privilégios oriundos de seus trabalhos. Mas enquanto a chacota gira em torno de seu nome, está tudo bem. O problema, desta vez, é que esbarrou na qualidade do jornalismo praticado pelo canal de notícias --que vem fazendo uma cobertura intensa sobre as enchentes no RS.
A coluna procurou a GloboNews para pedir um posicionamento a respeito do desconforto provocado pela comentarista, bem como a insatisfação da direção sobre a repercussão, mas até a publicação deste texto não recebemos uma resposta. Atualizaremos caso o canal se manifeste posteriormente.
Histórico de falas infelizes
Eliane Cantanhêde é uma personalidade acostumada a viralizar nas redes sociais por conta de suas opiniões controversas emitidas na TV, que sempre a faz ser comparada à personagem Senhora dos Absurdos, criada por Paulo Gustavo (1978-2021), que retratava uma socialite preconceituosa, que se achava acima do bem e do mal.
Em 2010, quando ainda trabalhava na Folha de S.Paulo, ela foi cobrir um evento do PSDB em Brasília, que tratava do lançamento da candidatura de José Serra à presidência da República, e gravou um vídeo que viralizou ao tecer diversos elogios ao partido, com uma frase bastante problemática:
"Está sendo um encontro diferente do PSDB em todos os sentidos. Para quem está acostumado com esse tipo de reunião, todo mundo está estranhando: muita gente, muita bagunça, muita confusão. Parece até que o PSDB está virando um partido popular, um partido de massa. Mas um velho assessor, que conhece bem o PSDB, brincou: 'Partido de massa, mas uma massa cheirosa'", disse ela na ocasião.
Ao citar "massa cheirosa", Eliane despertou a fúria de diversos partidos políticos, principalmente os que sempre tiveram o povo como sua bandeira de defesa. A fala da jornalista foi considerada preconceituosa, principalmente por demonstrar animação ao citar detalhes elitistas, como a qualidade dos ônibus que transportaram a militância do PSDB para o evento e também pelo excesso de adulações que ela fez a Aécio Neves na mesma reportagem.
Desde este triste episódio, ocorrido em 2010, Eliane é conhecida no meio jornalístico como "massa cheirosa", apelido nada carinhoso que é pronunciado de maneira jocosa todas as vezes em que ela surge na tela da GloboNews para fazer análises elitistas.
Em 2022, Eliane Cantanhêde voltou a ser motivo de piada na web por conta de um erro crasso cometido ao vivo na GloboNews. Ela elogiou a eloquência de Jair Bolsonaro ao se comunicar em inglês na Cúpula das Américas e acabou corrigida prontamente pela produção de que o presidente não sabe falar o idioma, deixando-a constrangida.
No mesmo ano, recebeu um esculacho elegantíssimo de André Trigueiro, ao vivo, quando ela deu a entender que Janja deveria ter um papel de submissão e ser uma primeira-dama mais "passiva", usando como exemplo Ruth Cardoso (1930-2008), mulher de Fernando Henrique Cardoso.
"Um bom exemplo de primeira-dama foi a Ruth Cardoso, que como a Janja, tinha brilho próprio, era professora universitária, uma mulher super respeitada na área dela e cuidou da comunidade solidária. Mas ela não tinha protagonismo, não tinha voz nas decisões políticas. Se tinha, era a quatro chaves dentro do quarto do casal", disse na ocasião.
"Acho importante demolir esse termo, viu, Lili? Não sei a tua opinião, mas primeira-dama? Não favorece o sindicato que você pertence. Acho que a gente tem que reinventar palavras e expectativas em relação ao papel da mulher do homem mais poderoso do Brasil, que já ficou muito claro, não será propriamente alguém que cumprirá o papel de dona de casa subserviente ao marido. Lugar de mulher é onde ela quiser ficar. E isso o presidente falou na avenida Paulista no discurso da vitória", rebateu Trigueiro.