A atriz desabafou sobre sua transição de gênero
Reprodução/Globo/ Estevam Avellar
A atriz desabafou sobre sua transição de gênero

Aos 18 anos, Gabriela Medeiros iniciou seu processo de transição de gênero. Quatro anos depois, a atriz que interpreta Buba na novela Renascer, da Globo, desabafou sobre a liberdade de ser quem é: "Desconforto, incômodo e desânimo. Essas palavras me perseguiam como ninguém. Eu nunca tive dúvida da minha essência e de quem eu sou, mas eu tinha medo".

"Nunca sei por onde começar, mas de certo me transporto para uma analogia linda no qual se refere o processo da borboleta. Assim como ela eu nasci e não me identifiquei com o que via no espelho. Sempre foi um tremendo desconforto me observar. Essa insatisfação me perseguiu durante todo o meu percurso de vida, da infância até a puberdade. Desde criança nunca tive dúvida, sempre soube o que eu era. Mas me recordo de pedir para Deus me mostrar a minha essência, e tive um sonho que saía do corpo e entrava dentro dele e via uma mulher linda com um cabelo enorme até os pés, adormecida…", relatou à revista Vogue.

'É muito doloroso ver que você simplesmente não se enxerga da forma como foi imposta. A lagarta por sua vez foi ficando cada vez mais para dentro, e tentava escutar a si mesma, o seu coração. Eu meditava, buscava sentir o que meu corpo dizia. Essa adolescência foi apagada, pois eu não vivenciei o que de fato eu queria. Lembro de colocar terno e chorar muito quando me via no espelho, para ir a alguma festinha de 15 anos ou até mesmo em um casamento de alguém da família. Desconforto, incômodo e desânimo. Essas palavras me perseguiam como ninguém. Eu nunca tive dúvida da minha essência e de quem eu sou, mas eu tinha medo – medo de verbalizar isso, medo de externalizar, medo de falar para a minha família, medo de não ser amada, medo de não conseguir um emprego… medo, medo e mais medo", acrescentou.


A atriz esclareceu como decidiu realizar a transição de gênero ao completar 18 anos: "Tive que passar pelo processo do casulo. A vida precisa sair do eixo, só assim naturalmente a linha ficará torta, sem direção vagando pelo círculo ínfimo do desconforto. Vou logo avisando, sair do eixo dói, e como dói, sair do eixo confronta com tudo que existe dentro de si. Durante esse processo de coragem e força, a escrita foi uma aliada poderosa, escrevi muito. Quando completei 18 anos resolvi ir atrás do processo por ser maior de idade. Fui entendendo cada parte de mim e busquei ajuda profissional e psicológica. Tudo isso sozinha, pois preferi manter esse processo isolado da minha família, sem que houvesse interferência. Sabia que não teria o devido apoio".

"Comecei a me entender cada vez mais, e comuniquei a família, que não recebeu isso tão bem logo de cara. Não fui expulsa, ou jogada para fora de casa. Mas sofri o silenciamento, o distanciamento deles, o olhar de não aprovação. Com o tempo foram entendendo e a borboleta começou a ganhar asas, cores, começou a aprender que o processo da metamorfose é doloroso, mas que não existe coisa mais gratificante que se olhar no espelho e se reconhecer da forma como você se sente bem e confortável", pontuou.

"Um momento marcante foi quando comecei a comprar as roupas que eu sempre quis usar. Me senti liberta e finalmente de acordo comigo. A borboleta ganhou asas e hoje ela está voando por aí. Minha motivação continua sendo ao encontro do meu âmago, cada vez mais, buscando minha compreensão existencial no mundo. Na jornada do amadurecimento é necessário nos escutarmos com carinho e amor", concluiu.

*Texto de Júlia Wasko

Júlia Wasko é estudante de Jornalismo e encantada por notícias, entretenimento e comunicação. Siga Júlia Wasko no Instagram: @juwasko

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