A jornalista relembrou os problemas que enfrentou na emissora
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A jornalista relembrou os problemas que enfrentou na emissora

Em 2021, Veruska Donato foi desligada do quadro de funcionários da Globo após permanecer mais de 70 dias afastada por recomendações médicas ao ser diagnosticada com Síndrome de Burnout. A ex-repórter da emissora sofreu com o distúrbio emocional provocado por estresse crônico no trabalho e "travou" na rua durante uma reportagem ao vivo.

A jornalista estava em um cruzamento da Avenida Brasil, em São Paulo, e não se lembrava para onde deveria ir. Na época, ela ligou para o chefe e desabou. "Nos dias seguintes, eu fui passar o meu crachá [na catraca da emissora] e comecei a chorar. Era uma tristeza, uma tristeza. Eu falava: 'O que está acontecendo? Eu gosto de ser jornalista, eu gosto de ser repórter. O que está acontecendo comigo?'", disse ao site Uol.

"Tenho pesadelos com a Globo quase toda semana. Tenho pesadelos horríveis [...] Sonho que estou contratada, trabalhando na empresa ainda, e aí, quando chego com o meu material para botar no ar, eles dizem: 'Não, mas você não trabalha mais aqui'. É tudo muito confuso. Fico sem casa, começo a passar fome, não arrumo mais emprego em lugar nenhum, porque é mais ou menos isso que aconteceu", admitiu.


"Eu queria que as pessoas soubessem, eu queria que soubessem por mim que não foi legal. Eu queria que as pessoas soubessem que eu sofri. Eu sofri. Doía você se achar incompetente. Dói, depois de tantos anos, e você beirando os 50, porque quando eu saí de lá eu tinha 49. Eu fiz por dor, porque doeu", concluiu.

No início da carreira, Veruska Donato precisou mudar seu visual para se adequar ao padrão estético da empresa: "Me levaram a um cabeleireiro no Rio de Janeiro. Ele cortou meu cabelo aqui [indicando cabelo curto]. Eu chorava, porque eu não queria. Essas etiquetas de como se vestir, como se comportar, sempre existiram (...) Espero que a situação clareie para muitas mulheres. Estou falando isso exatamente para dizer que demorei muitos anos para descobrir que a Globo exigia tanto desse padrão, dessa estética, que eu adoeci". Próximo aos 50 anos, ela ainda recebeu críticas da chefia de figurino por conta de sua "flacidez, ruga e gordura fora do lugar".

Tudo isso, junto a uma renovação do quadro de profissionais do jornalismo, criou um clima de insegurança e imprevisibilidade. "Veio uma mudança para a qual nós não estávamos preparados, porque ela [Globo] nos formou para ser aquele padrão duro no ar, de você dar a notícia e não interagir com o espectador. E de repente ela mudou tudo, não nos formou, não nos treinou e nós que estávamos há mais tempo não nos encaixamos no novo perfil que ela queria (...) Passei a ser repórter mais local [...] E isso, para a empresa, é um rebaixamento. Para o departamento de jornalismo, tirar você do Jornal Nacional e te botar no SP1 e SP2 é uma forma de te punir por algo que você fez (...) Eu era boa no que eu fazia, eu estava lá há 20 anos, por que usar dessa política comigo? Ninguém nunca me contou [...] Eu produzia as pautas do JN e elas não eram aprovadas. O que eu estava fazendo de errado?", apontou.

No final de 2021, a jornalista voltou a morar em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, com sua filha. Ela chegou a apresentar um programa na afiliada da Record por dois anos, e hoje atua como assessora de imprensa da prefeitura local: "Eu sou feliz aqui no meu canto, com o meu marido [...] A minha filha está fazendo faculdade, terminando administração, e eu levo uma vida muito simples, mas está bom. É a vida que eu gosto. É a vida que eu quero".

Três anos depois, a emissora foi condenada pela Justiça do Trabalha por impor um "padrão de beleza" e contribuir subjetivamente para a "existência da doença do trabalho". Ao site, a Globo informou que mantém um código de "em linha com as melhores práticas atualmente adotadas" e que oferece treinamentos constantes para manter um "ambiente de trabalho saudável". Veja o comunicado completo: 

"A Globo não comenta casos sub judice, mas reitera que a empresa mantém um Código de Ética em linha com as melhores práticas atualmente adotadas, que proíbe terminantemente o assédio e deve ser cumprido por todos os colaboradores, em todas as áreas da empresa. Além disso, também oferece treinamentos constantes para manter um ambiente de trabalho saudável e um sistema de compliance eficiente, que apura criteriosamente todos os relatos que chegam à Ouvidoria, punindo comportamentos contrários ao Código de Ética, inclusive com desligamentos. Nosso sistema de compliance também prevê o apoio integral aos relatantes, proibindo qualquer forma de retaliação em razão das denúncias."

*Texto de Júlia Wasko

Júlia Wasko é estudante de Jornalismo e encantada por notícias, entretenimento e comunicação. Siga Júlia Wasko no Instagram: @juwasko

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