Com aposta ao politicamente incorreto, a turnê Peste Branca de Leo Lins entregou no último sábado (16) em Belo Horizonte, Minas Gerais, seu stand-up com uma série de piadas criminosas, feitas deliberadamente sob humor que ri das condições físicas e mentais de grupos deficientes. Em cima do palco, o "humorista" imita Ivan Baron, influencer de inclusão, que é representado de forma jocosa em um gesto referente à paralisia cerebral do jovem.
"Um tempo atrás veio um processo grande, quem foi responsável por isso foi um militante lá que subiu a rampa com o Lula...", interrompe a fala para emitir sons em alusão à paralisia cerebral de Ivan, gesto que arranca risadas do público. A apresentação segue composta por uma série de críticas aos "militantes", descritos por Leo como um grupo confuso, que diverge em suas pautas.
No Twitter/X, nesta manhã (18) Ivan publicou trechos do vídeo em que o comediante usa a deficiência do jovem como piada. "Infelizmente preciso vim aqui nas redes sociais expor mais um ataque CAPACITISTA que eu sofri de autoria do Léo Lins. Chegou até a mim um vídeo em que o humorista durante o seu show de standup se refere a minha pessoa de maneira extremamente ofensiva imitando minhas características físicas, o jeito que eu falo e movimentos corporais tudo com o objetivo de estereotipar para fazer com que a sua plateia dê risada em cima da condição que possuo.", escreveu.
"Assistindo o conteúdo foi impossível não sofrer, relembrando os vários gatilhos que precisei passar durante todo o processo de aceitação da minha deficiência ( Paralisia Cerebral ) e me senti mais uma vez humilhado por uma pessoa que não teme das consequências que a suposta piadinha pode fazer na vida do outro.", disse ele, que prosseguiu: "Mais grave ainda é ele ser aplaudido por isso e ter a chance de monetizar seu “trabalho”. Confira o trecho:
No mesmo dia e show, outra gravação capta o momento em que Leo executa piadas sobre portadores de autismo, esquizofrenia, e também, tira sarro de pessoas com hidrocefalia -- condição que gera acúmulo de líquido excedente no cérebro. "Portador de hidrocefalia?! Portador? O cara vai no mercado: 'Completa aí, enche a cabeça com 10L. Pode botar bastante porque Cuiabá é quente e vai evaporar metade'", zomba ele, divertindo o público que dá altas gargalhadas.
Confira o trecho:
Em entrevista exclusiva à coluna, a equipe de Ivan Baron declarou que as medidas judiciais já estão sendo tomadas. "Esse tipo de humor durante anos foi naturalizado e aplaudido pela maioria da sociedade, mas ao mesmo tempo, um grande motivo para pessoas como eu se afastarem e se sentirem inferiores. Nós não queremos ser o motivo da piada e sim se divertir junto com ela. Não dá mais!", pontuou.
"Isso não é humor, é discurso de ódio disfarçado em piada. A partir do momento que pessoas são humilhadas, parte para o lado do preconceito e não diversão", concluiu.
Leo Lins, paricado pela extrema-direita nativa adepta do politicamente incorreto, virou réu recentemente e teve R$ 300 mil bloqueados em suas contas bancárias. Em ação na Justiça, o homem é acusado de “promover ódio e enredos discriminatórios, injuriosos e humilhantes, notadamente contra negros, pessoas com deficiência e nordestinos” – enfatiza uma nota oficial do Ministério Público de São Paulo.
O UOL aproveitou a nova condenação para fazer um levantamento parcial do “humor” preconceituoso de Leo. Entre os temas, o sujeito transita em piadas transfóbicas, gordofóbicas, sobre a queda do avião da Chapecoense; do terremoto, tsunami e acidente nuclear no Japão, além de utilizar nomes, como o DJ Ivis, acusado de agressão pela ex-mulher, para divertir o público.
* Texto de Lívia Carvalho
Lívia Carvalho é estudante de Jornalismo e apaixonada por cultura pop. Antes de entrar no time da coluna, foi produtora, apresentadora e repórter no programa Edição Extra, da TV Gazeta. Siga Lívia Carvalho no Instagram: @liviasccarvalho