Uma mulher branca, loira, rica e privilegiada que ofende minorias em suas composições musicais, costuma ser histérica e agressiva com pessoas pretas, destrata todos ao seu redor com facilidade, dança simulando revólver com as mãos e ainda contempla homens de comportamentos abusivos. Poderia ser a descrição de uma vilã de novela, mais detestável do que a icônica Carminha de Avenida Brasil. Mas trata-se de uma das favoritas ao prêmio milionário do BBB 23.
A permanência de Bruna Griphao no maior reality show da TV brasileira, mesmo após as inúmeras campanhas contra sua continuidade no jogo e até os debates acalorados sobre a prática de racismo dentro do confinamento, só nos prova que o Brasil ainda sofre sequelas do bolsonarismo, que por um longo e nefasto período de nossa história nos fez engolir os mais diversos absurdos, sobretudo no que diz respeito às minorias e aos direitos humanos.
Conhecer Bruna sem o pretexto de uma personagem de novela
tem sido indigesto. Sobretudo para quem costumeiramente é vítima da opressão social, e que já encontrou diversas Brunas pelas ruas, que costumam impor sua branquitude como arma de silenciamento. Foram muitas Brunas que colocaram Bolsonaro no poder, para que milhões de Saras, Domitilas, Cézars, Freds e Ricardos passassem alguns anos ouvindo, aos berros, os lugares que poderiam ou não ocupar.
No paredão deste domingo (16), ela enfrentou Sarah Aline, uma das mulheres mais inteligentes que passaram pela história do Big Brother Brasil. Preta, retinta, origem humilde, batalhou para conquistar seu diploma de ensino superior e foi a maior vencedora de provas da temporada. Nunca fugiu de uma discussão, e com argumentos riquíssimos fez seus maiores adversários passarem vergonha nos embates ao vivo.
Sua grandeza era tamanha que seus adversários fugiam dela nos Jogos da Discórdia. Bruna foi uma delas. E a decisão de desviar da preta periférica é que ela "fala difícil". Entenda por "difícil" a dificuldade da atriz da Globo em conseguir acompanhar o raciocínio de sua rival e de encontrar argumentos à altura.
De fato, Sarah Aline foi uma mulher grande demais para o Big Brother Brasil. E sua eliminação é uma prova disso. Antes, exaltar histórias de pessoas humildes era comum. Mas no primeiro ano do Brasil de Bolsonaro, o público elegeu Paula von Sperling como campeã do BBB 19. Uma mulher branca, loira e rica, que ofendeu diversas minorias com falas preconceituosas, foi a favorita do público e levou o prêmio de R$ 1,5 milhão.
Quatro ano após esse marco negativo na história do reality, eis que as sequelas do bolsonarismo seguem se manifestando. E o público, mais uma vez, encaminha a decisão de dar o prêmio máximo a uma mulher que passou a vida gozando de seu privilégio branco, e que está há 90 dias oprimindo com chibatadas verbais todos aqueles que ela vê como inferiores. E o pior de tudo: a Globo demorou, e muito, para abrir os olhos e ver o monstro que ela própria criou ao vivo, em rede nacional. Lamentável.