Há cineastas que dominam um tema com tamanha excelência que fazem dele uma plataforma para discutir muitas outras questões inerentes à humanidade. O alemão Christian Petzold é exemplar dessa condição. Depois dos excelentes "Bárbara" (2012) e "Phoenix" (2014), dois dois mais impactantes e reverberantes filmes da década, ele está de volta com "Em Trânsito". 

Cena do excelente filme alemão Em Trânsito, que entra em cartaz no Brasil neste final de semana
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Cena do excelente filme alemão Em Trânsito, que entra em cartaz no Brasil neste final de semana

Assim como nos anteriores, o nazismo e seus tentáculos constituem o ponto de partida de "Em Trânsito" . Georg (Franz Rogowski) assume a identidade de um autor alemão, de razoável fama, após este morrer em seus braços. A ideia, que a bem da verdade jamais ganha forma absoluta, é escapar da França sitiada pelas tropas nazistas.

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Acontece que tão logo chega a Marselha, ele escapa por pouco de uma Paris inflamada, Georg se apaixona por Marie (Paula Beer, vista recentemente no não menos memorável "Nunca Deixe de Lembrar", indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro), esposa do autor falecido e que estava à espera dele para que possa ter posse de seu passaporte e seguir viagem para  o México.

O título do filme, baseado no aclamado e homônimo romance de Anna Seghers, vai se justificando aos poucos justamente porque a fuga é um conceito multifacetado aqui. Tanto os personagens estão em constante movimentação - e judeus precisam do carimbo de temporalidade para serem aceitos em determinados países - como está Georg em um foro mais íntimo.

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Este é um filme que fala iminentemente da tragédia do nazismo em um tom menor, mais pessoal, mas que também ilumina a escala pavorosa e ruidosa do regime erguido por Hitler. Ainda é um conto encantador sobre paixão e abandono. Sobre identidade e pertencimento, moral e acaso. 

cena do filme Em Trânsito
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Cena do filme Em Trânsito, que estreia nesta semana em cinemas selecionados no País

Brilhantemente dirigido por Christian Petzold , o longa assume um off arrebatador e dá o melhor uso a ele no cinema recente. O narrador/observador interpreta, se compadece e guia tanto o protagonista, como o olhar do público.

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A maneira híbrida com que "Em Trânsito" se organiza, embora reforce esse estado de transformação em um viés narrativo, jamais torna a experiência menos cinematográfica. Eis um filme que aborda o rico material que o sustenta de maneira criativa e corajosa e provê ao espectador um entretenimento inteligente, emocional e cheio de reflexões intermitentes sobre o cinema e a vida.

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