“Deserto”, segundo longa-metragem dirigido por Jonas Cuarón , é uma parábola entristecida, mas incrivelmente tensa das relações entre Estados Unidos e México. Lançado nos Estados Unidos em 2015, o filme captura com algum brilhantismo a verve dessa América trumpista.
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O longa-metragem acompanha Moises ( Gael García Bernal ) que junto a um grupo de pessoas, tenta atravessar a pé a fronteira do México com os Estados Unidos, buscando uma nova vida no Norte. No caminho eles se deparam com um solitário homem, Sam ( Jeffrey Dean Morgan ), que patrulha por sua própria conta a fronteira e se diverte em sua caça aos imigrantes. O deserto implacável é um personagem definitivo no filme que tem poucos diálogos e muita ação.
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A figura de Morgan, que atualmente interpreta o vilão Negan de “The Walking Dead”, é intimidadora e sua obstinação em caçar imigrantes, inquietante. Ele tem ao seu lado um cão, um pastor belga incrivelmente letal, a quem chama de “rastreador”. Logo percebemos que aquilo não se trata apenas de esporte, mas de uma convicção ideológica ferrenha do personagem.
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Em muitos aspectos, o filme lembra “Encurralado” (1971), o clássico cult de Spielberg. A construção da tensão, do ambiente inóspito, por sua vez, se assemelha a “Gravidade”, ao qual Cuarón escreveu com seu irmão. As referências cinéfilas são muitas, mas “Deserto” tem força própria e propicia uma experiência perturbadora para a audiência que assiste atônita tanto o desejo de sobreviver desses heróis modernos que são os imigrantes, como a fúria cega daquele que deles se ressentem.
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Sem grandes elaborações filosóficas, “Deserto” expõe o mundo de hoje com crueza e indefectível pessimismo. Um filme simples, potente, com dois bons atores e um comentário ruidoso das mazelas que preferimos ignorar.