Costuma-se dizer que o gênero americano por excelência é o western (faroeste) e Taylor Sheridan , ator convertido em roteirista e que aqui estreia como diretor, acredita nisso piamente. A maneira como desdobra, esgarça e subverte os clichês desse gênero em filmes que podem até mesmo não inserir se nele é notável. Não poderia ser diferente em “Terra Selvagem”, que lhe valeu o prêmio de direção na mostra paralela Um Certain Reguard em Cannes .

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Elizabeth Olsen em cena de
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Elizabeth Olsen em cena de "Terra Selvagem", que estreia nesta quinta-feira (2) nos cinemas

Os filmes de Sheridan nunca são apenas sobre o que aparentam ser. “Sicário: Terra de Ninguém” (2015), filme sobre o tráfico de drogas na fronteira entre EUA e México, é também sobre a falência da humanidade e a subversão conceitual da guerra às drogas. “A Qualquer Custo” (2016), filme sobre dois irmãos que assaltam bancos e que detêm uma noção particular de justiça, é também um ácido panorama da América profunda pós-crise econômica de 2008. Já “ Terra Selvagem ”, filme de detetive ambientado em um território indígena no meio do Wyoming, é também um petardo sobre os efeitos de uma colonização exploratória e canibalizatória que ainda persiste.

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É impressionante o controle narrativo que Sheridan ostenta. É um desses roteiristas que reclama a autoria do filme e a direção dos próprios textos era um movimento natural. A estreia não poderia ser mais inspiradora e envolvente.

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“Terra Selvagem” estreia nos cinemas brasileiros em 2 de novembro

Jeremy Renner faz Cory Lambert, um oficial de pesca e caça do departamento do xerife de uma cidade remota do Wyoming que faz fronteira com um território indígena. Ele mesmo um homem branco que já se relacionou com uma nativa americana. Divorciado e pai de um filho vivo e uma filha morta, Cory é um tipo ele mesmo fronteiriço. Entre o homem branco e o índio, entre a vontade de viver e a vontade de deixar de viver. Em um dia como outro qualquer de caça a leões e a outros animais selvagens no rigoroso inverno local, ele se depara com o corpo de uma jovem que ele conhecia. A investigação de assassinatos de nativos americanos é de responsabilidade federal e o FBI despacha uma inexperiente, embora motivada, agente. Jane (Elizabeth Olsen) logo percebe que o calado e introspectivo oficial de pesca e caça é um valioso recurso para sua investigação. Se ela vier a acontecer.

Os códigos de gênero estão todos lá, mas “Terra Selvagem” não é um filme que você possa dizer que já viu antes. A pungência com que Sheridan alinhava sua trama é singular e mobiliza toda a atenção da audiência. É um filme que conjuga muito bem os recursos disponíveis. Os atores estão ótimos, o texto é suficientemente sofisticado para amparar reverberações de toda ordem e a direção é centrada e rigorosa, mas surpreendentemente sutil para o gênero.

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Jeremy Renner em cena de Terra Selvagem
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Jeremy Renner em cena de Terra Selvagem

A violência de um mundo que toma conta do outro, da hostilidade do luto, da aleatoriedade da morte em um lugar que parece esquecido por Deus são elementos muito bem dimensionados em um filme que cala forte no espectador. “Terra Selvagem” é o cinema do passado reverberando o mundo de hoje. Bravo!  

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